Abusos no mundo

Multiplicam-se os casos de abusos na Bolívia, Espanha, Croácia e EUA

| 25 Mai 2023

abusos, foto c doidam10

“Os responsáveis da Igreja Católica pediram perdão e confessaram terem “sido surdos aos sofrimentos das vítimas dos pederastas” e constituíram uma comissão para averiguar o que se passou.” Foto © Doidam10

 

O padre Luis Tó abusou sexualmente de alunos num colégio de jesuítas em Barcelona. Em 1992, foi denunciado e condenado. Segundo o jornal El País, que traz a notícia, os superiores encobriram o assunto e mandaram-no para tarefas semelhantes na Bolívia, onde continuou, naturalmente, a abusar. Com uma nota que faz dele um caso singular: deu aulas de Ética Sexual a noviços. Faleceu em 2017.

Este caso veio à luz do dia porque um outro padre jesuíta, Alfonso Pedrajas, também de origem espanhola, foi durante muito tempo um abusador em diferentes instituições de ensino na Bolívia. Deu conta dessas práticas por mais de uma vez a superiores e confessores e ninguém verdadeiramente o escutou e, menos ainda, agiu. Morreu em 2007. Neste caso, Pedrajas escreveu um diário que, por artes do acaso, foi parar às mãos de um familiar que, há cerca de um mês, entendeu que o devia denunciar.

A denúncia fez vir ao de cima os casos de vários outros padres jesuítas, uns abusadores e outros encobridores. Muitas vítimas que se julgavam casos únicos, levantaram-se e exigiram que a Companhia de Jesus assumisse as suas responsabilidades. Depois de muitas pressões, mais de meia dúzia de superiores que exerceram funções ao longo dos anos foram suspensos.

Soube-se que um estudante que já era jesuíta, Pedro Lima, tentou denunciar o caso do padre Pedrajas junto de um superior seu e a resposta que teve foi ser expulso da Companhia no dia seguinte, por carta que guardou até hoje.

 

Papa manda enviado à Bolívia

Mas estes casos puseram a Bolívia e o seu Governo em pé de guerra. Os responsáveis da Igreja Católica pediram perdão e confessaram terem “sido surdos aos sofrimentos das vítimas dos pederastas” e constituíram uma comissão para averiguar o que se passou. Por sua vez, a Procuradoria de Justiça e o Departamento de Educação do país criaram igualmente as suas próprias comissões. Os Jesuítas, esses, tinham já criado também a sua.

O presidente da República da Bolívia, por sua vez, escreveu uma carta ao Papa, anunciando que não permitiria a entrada no país de padres que tivessem cadastro relativamente a abusos.

As réplicas do “terramoto boliviano” fizeram-se sentir também em colégios de jesuítas da região de Barcelona: multiplicaram-se as denúncias e as exigências à congregação para que assuma responsabilidades. E foi deste modo que se chegou ao caso do padre Tó.

Um sinal da atenção e preocupação do Vaticano relativamente ao caso da Bolívia foi o envio para aquele país de Jordi Bertomeu, oficial do Dicastério para la Doutrina da Fé e especialista das investigações sobre casos de abusos na Igreja, por solicitação do Papa.

 

Estado do Illinois (EUA): 2000 crianças abusadas desde 1950

Quase 2.000 crianças foram abusadas sexualmente por membros do clero católico no período compreendido entre 1950 e 2019. Envolvidos estiveram 451 padres católicos. Os dados constam do relatório de uma investigação efetuada pelo procurador-geral do Illinois, nos EUA, que acaba de vir a público.

“É minha esperança que este relatório ilumine tanto aqueles que violaram as suas posições de poder e confiança para abusar de crianças inocentes, como os homens da liderança da Igreja que encobriram esse abuso”, disse, numa conferência de imprensa o procurador-geral, Kwame Raoul, que aludiu ao facto de a Igreja Católica ter indicado, em 2018, que tinha o registo de 103 pessoas abusadas por membros do clero.

“Estes perpetradores poderão nunca vir a ser responsabilizados em tribunal, mas, ao nomeá-los aqui, a intenção é proporcionar uma responsabilização pública e uma medida de cura aos sobreviventes que há muito sofrem em silêncio”, acrescentou o procurador.

Segundo refere a página digital da revista dos jesuítas norte-americanos, America, uma investigação preliminar conduzida pelo antecessor de Kwame Raoul, as dioceses do Estado consideraram apenas 26 por cento das alegações que receberam como “credíveis”, não investigando ou considerando os restantes 74 por cento como não fundamentados.

A Survivors Network of those Abused by Priests (Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres), citada pela America, qualificou o relatório de “espantoso”, mas sublinhou que o número de vítimas e de abusadores citados pelos investigadores estatais está provavelmente subestimado.

Aquela organização faz notar que os bispos das seis dioceses do Illinois “mantiveram os abusadores conhecidos em segredo, recusaram-se a incluí-los nas suas listas de 99acusados e recusaram-se a reconhecer a verdade que os sobreviventes de abusos que se apresentaram para fazer uma denúncia partilharam com eles”.

 

Croácia: padre ensinava teologia e abusava

Na Croácia, acabam de ser revelados seis casos de padres abusadores sexuais perpetrados na arquidiocese de Rijeka e noutras partes do país. Os casos foram comunicados às autoridades eclesiásticas e à Procuradoria-Geral da República.

O arcebispo de Rijeka, Mate Uzinic, encontrou-se com os meios de comunicação social para confirmar os rumores que já corriam e esclarecer que decorrem as respetivas investigações.

Uzinic referiu que este escândalo “não tem precedentes em Rijeka, onde os católicos constituem a esmagadora maioria dos crentes, entre ortodoxos, muçulmanos, judeus e outros crentes religiosos”.

Referiu-se aos vários casos que conhecia, nomeando cada um deles pelas iniciais, destacando o que considerou “o caso mais grave”, o do padre M. Šp – “muito apreciado pelas suas declarações conciliatórias”. Este padre, observou, admitiu todas as acusações: tinha abusado sexualmente de 14 crianças com idades compreendidas entre os seis e os 13 anos, perpetrados nos anos 1980 e 1990.

O bispo, citado no Il Sismografo, a partir do jornal Il Piccolo, acrescenta: “Quando cheguei a Rijeka, disseram-me que o processo tinha sido arquivado e que o padre tinha sido libertado das suas obrigações sacerdotais e do celibato. Algumas das infrações tinham sido cometidas enquanto o clérigo ensinava na Faculdade de Teologia de Rijeka. Apesar do arquivamento do processo, quis dirigir-me à polícia de Rijeka para denunciar estes acontecimentos horríveis.” De acordo com Uzinic, o padre vive atualmente num mosteiro beneditino em Itália.

Em jeito de olhar panorâmico, os editores de Il Sismografo concluem, deste acumular de casos, que “não parece que os abusos de poder, de consciência e sexuais sejam um fenómeno controlado e em regressão”, dado que um grande número de casos é recente e não “dos tempos em que a dissimulação era uma política operacional e autorizada pela hierarquia”.

Daí que, segundo esta fonte, apesar da luta que tem sido travada, “a pedofilia clerical continua” e deve levar-nos a colocar algumas questões sobre essa luta e sobre as decisões tomadas para combater o fenómeno”.

 

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