Em Itália também cresce tensão

Muro de mais 600 km para deter migrantes que chegam à Lituânia através da Bielorrússia

| 5 Ago 2021

Situação instável na Bielorrússia levou governo lituano à construção do muro. Foto © Илья Бантос | Pixabay

 

O número crescente de pessoas provenientes da Bielorrússia que tentam entrar na Lituânia levou o Governo lituano a decidir a construção de uma barreira ao longo de perto de 700 quilómetros, correspondentes à extensão da fronteira entre os dois países.

Segundo o Governo lituano, mais de 2.000 entradas ilegais registadas ocorreram nos primeiros sete meses de 2021, contra um total de 81 em todo o ano de 2020. Aparentemente, o regime autoritário de Lukashenko está também a facilitar a passagem de cidadãos de nacionalidades como o Iraque, Síria e Afeganistão através do território bielorusso. Esta seria uma forma de retaliar contra a União Europeia em resposta às sanções por esta decretadas. De resto, o próprio Lukashenko respondeu aos líderes europeus, a propósito das sanções que se agravaram depois de um opositor ao regime ter sido retirado de um avião que se dirigia para a Lituânia: “Costumávamos apanhar aqui migrantes em massa. Agora, esqueçam, vocês mesmos vão apanhá-los ”.

A primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Shimonyte, que havia anteriormente considerado a construção da cerca fronteiriça “uma perda de tempo”, anunciou no início de julho uma mudança de posição e o propósito de levantar “uma barreira física adicional que separe a Lituânia da Bielorrússia”, enviando soldados para controlar o fluxo das pessoas que entram a partir da vizinha Bielorrússia.

“Avaliamos o próprio processo como uma agressão híbrida, que é dirigida não contra a Lituânia, mas contra toda a União Europeia. A base é a posição de princípio lituana e de toda a UE sobre os resultados eleitorais falsificados, a repressão da sociedade civil e dos defensores dos direitos humanos “, disse Shimonyte no mês passado, citada pela Deutsche Welle.

Por sua vez, a ministra do interior da Lituânia explicou que muitos dos imigrantes que pedem a entrada na UE vêm por Minsk, via Bagdad e muitos outros chegam em voos das linhas áreas da Turquia. Em todo o caso, acrescentou, esta pressão crescente de pessoas constitui um fator de instabilidade, em especial num país que não tem mais de 2,2 milhões de habitantes. Por isso, a intenção é avançar de imediato com uma cerca de arame farpado e, a breve trecho, começar a construir um muro.

 

Migrantes africanos em crescendo geram tensões na sociedade italiana

Migrantes continuam a atravessar o Mar Mediterrâneo, apesar dos perigos. Foto: Direitos reservados.

 

Entretanto, a situação dos migrantes e refugiados no Mediterrâneo tem-se vindo a agravar nos últimos meses, tornando-se tema de acesa luta política em Itália, um dos países mais próximos e mais afetados. Desde o último fim-de-semana, só no navio de resgate Ocean Viking, da SOS Mediterrannée, as equipas a bordo recolheram 555 pessoas, em seis operações de salvamento concentradas em 36 horas. “A operação terminou no início da manhã. Foram atendidas 253 pessoas a bordo do nosso navio e as demais do Sea-Watch. Um total de 555 pessoas estão agora a bordo do Ocean Viking, esperando por um local seguro para desembarcar. Entre elas, quatro grávidas – uma prestes a iniciar o parto – e uma criança de apenas 3 meses. Eles devem desembarcar o mais rápido possível”, afirma a organização.

Um dos resgates considerados particularmente perigosos por aquela Organização Não Governamental (ONG) ocorreu durante a noite de sábado para domingo. Quase 400 pessoas foram amontoadas num barco em perigo. Como a situação se deteriorou rapidamente – o barco estava a afundar-se e várias pessoas já tinham caído no mar – os dois botes salva-vidas do Ocean Viking foram dar uma mão às equipas das ONG Sea Watch e ResQship já presentes no local.

O Ocean Viking navega agora com mais de cinco centenas de náufragos, aguardando autorização de um porto onde possam ser recebidos com segurança.

Foi esta situação que levou há dias o arcebispo de Palermo, Corrado Lorefice, na Sicília, a lançar o apelo às instituições europeias, de Malta e de Itália, que intitulou “Ainda temos tempo”, para que correspondam ao apelo das ONG envolvidas nas operações no mar.

«Quantas vezes, nos últimos anos – recorda o arcebispo Lorefice – partilhamos o espanto da impotência, surgido do pelo espanto da indiferença face ao destino desesperado de centenas, agora milhares de irmãos e irmãs que perderam a vida na tentativa de ganhar nada mais do que a sua própria dignidade, o seu próprio direito de existir! Hoje ainda não é tarde! Apelo a todos os que têm o poder de decidir sobre o destino destas 400 pessoas que o façam agora e não obriguem a Europa a chorar por elas dentro de algumas horas como vítimas desta barbárie”. “Não decidir nesta direção significa admitir que deixar de ajudar é, em todos os aspetos, parte da estratégia que os nossos Governos estão a adotar para administrar a questão da migração”, acrescentou.

Em oposição a esta abertura, o panorama político-partidário em Itália aqueceu na última semana, tendo os migrantes por motivo. De facto, recorrendo ao argumento de que a quota anual de 30 mil que aquele país aceita receber está prestes a ser atingida, quando são decorridos pouco mais de sete meses de 2021, Matteo Salvini, senador e o chefe da Llega Nord, atacou o governo de Mario Draghi por dar a ideia de estar adormecido diante da aceleração do ritmo da chegada de migrantes, dizendo que há vários anos que não se via uma coisa assim.

“Creio que Draghi está consciente e que irá fazer algo, já que se trata não apenas de um problema económico, mas também sanitário”, disse, em declarações citadas pelo jornal Corriere della Sera desta terça, 3, aludindo ao facto de, nos países africanos, uma escassíssima minoria ter tido acesso à vacina anti-covid.

 

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