
Solidariedade entre ruínas, em Alepo: a maior parte da ajuda está a ir para a Turquia, diz a irmã Myri, religiosa portuguesa que vive em Qara. Foto © Patriarcado de Antioquia
Roupas, comida e donativos monetários são as três formas de ajuda mais urgente para que as igrejas “possam acolher as pessoas que não têm para onde ir, que estão sentadas nas ruas” disse à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), a irmã Maria Lúcia Ferreira, das Monjas de Unidade de Antioquia que vivem no Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara, na Síria, a 200 km a norte de Damasco. No seu “apelo angustiado” a irmã Myri (como é conhecida) frisou que “há muitos aviões a chegarem com ajuda humanitária à Turquia, mas são muito poucos aqueles que estão a ajudar a Síria”.
Depois do violento terramoto de segunda-feira, 6 de fevereiro, que já causou mais de 10 mil mortos naqueles dois países, em Qara “as pessoas encontram-se na rua, ou sob os escombros, e milhares estão sem casa” e muitos dos “que tinham construído as suas casas depois da guerra”, não vão ter possibilidade de as erguer de novo, pois “já não têm dinheiro para as reconstruir”. “É impossível”, conclui a irmã.
Pacotes de alimentos, conjuntos de roupas de proteção para o inverno, colchões e cobertores foram exatamente os bens que o Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia e de Todo o Oriente enviou para Alepo, Hama e Lattakia (cidades sírias), em respostas à lista de bens mais urgentes definida por uma equipa do Patriarcado em contacto com as autoridades de emergência sírias. De acordo com o Patriarcado, citado pelo serviço informativo do Conselho Mundial das Igrejas, o objetivo desta ajuda é “tentar garantir um refúgio seguro para aqueles que perderam as suas casas“.
Por seu turno, o Vatican News, portal de notícias do Vaticano, registava, nesta quarta-feira, 8 de fevereiro, as várias equipas internacionais de resgate enviadas para o local, bem como os bens doados por um vasto leque de países às populações mais atingidas da Turquia e da Síria.
Dos EUA, à Rússia, passando por vários países europeus e pela Coreia do Sul, a ajuda humanitária organizada está sendo canalizada para os locais de maior destruição.
Em Portugal, os padres salesianos lançaram uma campanha para recolha de donativos em dinheiro. A Província Salesiana do Médio Oriente, cujos edifícios não foram afetados, está em Alepo e abriga hoje “cerca de 300 pessoas, um número que é impossível prever onde irá parar”, disse à Rádio Renascença Luís Henriques, coordenador do projeto.
O dinheiro recolhido será entregue aos padres salesianos de Alepo para que possam “providenciar tudo o que é necessário ao acolhimento daquelas famílias”.
Também a Cáritas Portuguesa lançou uma campanha de recolha de fundos que serão enviados para os dois países através da Cáritas Internacional. Na página da Cáritas foram, entretanto, recolhidos alguns dados informativos sobre a situação daquele organismo católico na Turquia, onde “a região da Diocese da Anatólia foi fortemente afetada pelo terremoto, a Catedral de Iskenderun desabou totalmente e os escritórios e espaços da Cáritas foram fortemente danificados”.
Até ao momento “a equipa da Cáritas está em segurança, mas não há contacto com alguns dos seus agentes locais”. Na Síria, “as áreas próximas de Idlib, Lattakia e Aleppo foram as mais afetadas” – e ali “4,1 milhões de pessoas já dependiam de ajuda humanitária” na sequência de 12 anos de guerra.