
Campo de trigo na Ucrânia. Foto © Joyt.
A Ucrânia era considerada o “celeiro do mundo” pelo peso que tem na produção e exportação mundial de trigo e outros cereais. Ao invadir esse país, a Rússia destruiu campos, rebentou redes de distribuição e bloqueou os portos da Ucrânia. Resultado: países do norte de África e do Magreb, bem como do Médio Oriente e de outras partes do mundo, ficaram sem abastecimento. A farinha e o pão escasseiam, os preços sobem e a fome piora.
Foi este o quadro, em crescente agravamento, que levou o Papa Francisco, na audiência geral desta quarta-feira, 1 de junho, na Praça de S. Pedro, a lançar “um veemente apelo” a que “sejam feitos todos os esforços para resolver esta questão e para garantir o direito humano universal à alimentação”.
“Desperta grande preocupação o bloqueio das exportações de cereais da Ucrânia, das quais depende a vida de milhões de pessoas, especialmente nos países mais pobres” sublinhou Francisco. “Por favor, não usem o trigo, alimento básico, como arma de guerra!”
Dois dias antes, nesta segunda-feira, o presidente da Federação Russa e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros disseram que Moscovo está pronto a facilitar a exportação de cereais dos portos ucranianos em coordenação com a Turquia, desde que a Europa e os Estados Unidos reduzam as sanções que impuseram à Rússia.
A Ucrânia tinha, até ao início da guerra, capacidade de exportar até seis milhões de toneladas de trigo, cevada e milho por mês. Em março esse número caiu vertiginosamente para 300 mil toneladas e no mês seguinte ficou em 1,1 milhões de toneladas, de acordo com dados divulgados pela Reuters.
Sem acesso ao mar e sem espaço aéreo livre, o país recorreu desesperadamente à via férrea, fluvial e rodoviária para fazer sair o máximo de cereais possível, mas só o fim do bloqueio naval pode evitar uma crise global de alimentos.
Entretanto, a Organização das Nações Unidas diz que a crise alimentar global está a piorar e afirma estar a fazer esforços no sentido de negociar um acordo para desbloquear as exportações de grão da Ucrânia.
“Acredito que há progresso, mas ainda não chegámos lá. São coisas complexas, e o facto de tudo estar interligado torna a negociação particularmente complexa”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em entrevista coletiva com a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, em Estocolmo.