24 de novembro, em Lisboa

Nas vésperas da COP28, uma vigília inter-religiosa vai ajudar a salvar o planeta

| 26 Out 2023

Membros do grupo Cuidar da Casa Comum em Santa Isabel durante a apresentação da vigília de 24 de novembro 2023, Foto DR

Alguns membros do grupo Cuidar da Casa Comum em Santa Isabel e da Rede Cuidar da Casa Comum durante a apresentação da vigília de ação e reflexão agendada para 24 de novembro. Foto: Direitos reservados.

 

Poderá um pequeno grupo de trabalho paroquial salvar-nos da crise climática? A avaliar pelas ações levadas a cabo pelo grupo Cuidar da Casa Comum em Santa Isabel – nascido há cerca de um ano na paróquia lisboeta com o mesmo nome -, sem dúvida que pode, pelo menos, ajudar… e não é pouco.

A próxima iniciativa deste grupo foi apresentada esta quinta-feira aos jornalistas e está agendada para dia 24 de novembro: trata-se de uma vigília de ação e reflexão que pretende reunir o maior número de pessoas possível – católicos, “irmãos de todas as religiões e tradições espirituais” e não crentes –  para “salvar o planeta e defender a vida”.

Fizeram questão de marcá-la para uma semana antes da realização da COP28 (cimeira das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas que terá lugar no Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro), porque o grande objetivo é pressionar os responsáveis políticos que vão participar a “terem a coragem de intervir pensando mais no bem comum e no futuro dos seus filhos, do que nos interesses contingentes de algum país ou empresa”, tal como pediu o Papa Francisco na exortação Laudate Deum.

“É verdade que há muitas mudanças em defesa do planeta que são individuais, pequenos ou grandes gestos que, todos juntos, podem fazer a diferença. Mas também é verdade que, para além destas mudanças individuais, são necessárias mudanças da parte das empresas e dos decisores nos governos. Com esta vigília, queremos sobretudo pressionar o governo de Portugal, que vai estar representado na COP28, a promover decisões corretas e que tenham um impacto grande na defesa da nossa Casa Comum”, explica ao 7MARGENS Ana Loureiro, do grupo Cuidar da Casa Comum em Santa Isabel.

Para esta professora universitária, que se tem dedicado a estudar a área da Psicologia e Educação Ambientais, são preocupantes as “notícias que já anteveem que, uma vez mais, desta COP não resultarão as medidas necessárias”. Assinalando que “já todos sentimos efeitos das alterações climáticas” e que “não podemos estar sempre a adiar estas decisões ou a assumir compromissos que depois não se cumprem, nem há forma de os monitorizar”, Ana Loureiro insiste: “Temos de pressionar os governos, e em particular o nosso, a assumir uma posição firme para a concretização do Acordo de Paris e do fundo para ajudar países pobres a enfrentar as alterações climáticas”.

É por isso que, da vigília de 24 de novembro, sairá “uma carta dirigida aos representantes de Portugal na COP28”, que poderá ser assinada por todos os presentes.  Está ainda a ser avaliada a hipótese de outras pessoas poderem igualmente subscrever a missiva, mesmo que não tenham oportunidade de participar na vigília.

A iniciativa, que irá decorrer no terreiro em frente à Igreja de Santa Isabel, localizada no bairro de Campo de Ourique, arrancará pelas 18h30 e só terminará ao amanhecer do dia seguinte. “Esta vigília prolongar-se-á por 13 horas, tantas quantos os dias da Conferência do Dubai”, assinala Ana Loureiro. “Haverá conversas, debates, música, poesia e também um momento inter-religioso, estando já confirmada a presença de representantes de pelo menos cinco religiões”, acrescenta.

Para expressar “de uma forma muito concreta a gravidade da situação que enfrentamos, alguns membros do grupo Cuidar da Casa Comum em Santa Isabel não tomarão qualquer alimento durante toda a vigília”, assinala ainda. “É mais um sinal para marcar o momento e a necessidade de nos prepararmos para o que aí vem.”

 

Um desafio por mês na paróquia, e o desejo de inspirar muitas mais

Exibição do filme A Carta dinamizada pelo grupo Cuidar da Casa Comum em Santa Isabel, Foto DR

A primeira iniciativa que promoveram foi há pouco mais de um ano, a 4 de outubro de 2022 – dia de São Francisco de Assis – com a exibição do documentário “A Carta”. Foto: Direitos reservados.

 

Organizada em parceria com a Rede Cuidar da Casa Comum, a vigília “pode e deve ser replicada noutros locais por este país fora”, sublinha Rita Reino Assunção, que há pouco mais de um ano decidiu integrar também o Cuidar da Casa Comum em Santa Isabel, grupo de trabalho constituído na sequência do caminho de preparação para o Sínodo realizado na paróquia.

“Através da Rede, já estamos em contacto com outros grupos e temos esperança de que, depois disto, mais grupos surjam e mais pessoas queiram promover esta mudança”, partilha. Até porque outras ações estão já a decorrer e muitas mais se seguirão, assegura ao 7MARGENS.

Este grupo, constituído por nove elementos “com idades entre os 30 e os 70 anos” é, de resto, a prova de que “não são só os mais jovens que estão preocupados com o planeta” e de que “todos podem fazer a diferença”, sublinha Rita Reino Assunção.

A primeira iniciativa que promoveram foi há pouco mais de um ano, a 4 de outubro de 2022 – dia de São Francisco de Assis – com a exibição do documentário “A Carta”, o qual relata a história da encíclica Laudato Si’ e recolhe depoimentos de vários ativistas do clima.

Desde então, mensalmente têm lançado um desafio às famílias da paróquia “para que todos tomem consciência de que podem fazer alguma coisa para ajudar a salvar o planeta”, explica Rita Reino Assunção, animadora sociocultural e mãe de um jovem ativista pela justiça climática, que a ajudou a ganhar essa consciência.

Rita exemplifica: “Num dos meses, o desafio era relacionado com a água. Às crianças, que tantas vezes pedem um copo de água e depois não o bebem todo, pedimos que reutilizassem a água que sobrasse para regar as plantas; aos jovens, sugerimos que investigassem quanta água é gasta para produzir um litro de Coca Cola e pedimos que nesse mês não bebessem refrigerantes; aos mais velhos, convidávamos a colocar um balde na casa de banho para recolherem a água enquanto esta aquecia”.

Este e outros desafios têm sido divulgados através de cartazes expostos na paróquia e também da conta de Instagram que o grupo entretanto criou (@casacomumemsantaisabel) e que convidou todos a seguir.

“Também já calculámos a pegada carbónica do edifício da nossa igreja e estamos a tentar fazer a transição energética da paróquia, com a instalação de painéis solares”, acrescenta Rita Reino Assunção. O grande objetivo é criar uma Comunidade de Energia Renovável (CER), de modo a que a paróquia possa contribuir para a produção de eletricidade sem recurso a combustíveis fósseis, poupe metade dos seus custos mensais em energia e reduza a fatura das famílias da vizinhança que têm maiores dificuldades económicas.

Em curso está ainda o projeto “Famílias Frugais”, que pretende medir a pegada carbónica das famílias que pertencem à comunidade da paróquia de Santa Isabel para depois pensar como é que esta pode ser reduzida. “Em breve, vamos fazer uma pequena sondagem à saída da missa, para ver quem é que vai a pé, de transportes públicos, ou de carro para a igreja. Depois, vamos apresentar os resultados e perceber que, se calhar, mais pessoas poderiam ir a pé…”, adianta.

Tal como a vigília de dia 24 de novembro, todas estas iniciativas são uma forma de “reforçar o compromisso do grupo na defesa do planeta como casa comum da humanidade”, conclui Ana Loureiro. “É verdade que nesta altura vivemos muitos outros problemas, guerras em todo o mundo, com Israel e a Ucrânia a serem as mais impactantes, – reconhece a investigadora – mas não podemos esquecer que a crise climática é um desafio urgente e absolutamente crítico para a vida humana na terra”.

 

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