Escritora brasileira morreu em Lisboa aos 85 anos

Nélida Piñon (1937-2022): “Menina, sonhei em jamais dormir uma segunda noite sob o mesmo teto”

| 19 Dez 2022

Nelida Pinon, Literatura, Brasil

Nélida Piñon na cerimónia em que recebeu a comenda da Ordem Padre José de Anchieta (Rio de Janeiro, Brasil, 6 Março 2017), na abertura do ano Mulheres na Literatura da Academia Carioca de Letras. Foto © Fernando Frazão/Agência Brasil; CC BY 2.0, via Wikimedia Commons

 

“Morre primeira mulher presidente da Academia Brasileira de Letras”, dizia neste domingo, dia 18, um título de primeira página do jornal O Estado de S. Paulo. Na notícia da morte da escritora Nélida Piñon, outros jornais brasileiros, como, por exemplo, o Correio Braziliense ou A Tarde, destacaram igualmente essa faceta pioneira. A Folha de S. Paulo também o lembrou, mas preferiu assinalar no título que a morte tinha ocorrido aos 85 anos e em Lisboa, no sábado, dia 17. O diário paulista também destacou que, “premiada, a escritora era um dos nomes mais internacionais da literatura brasileira”.

Estado de Minas recordou dois prémios: “O Juan Rulfo, considerado o Nobel da América Latina, e o Príncipe das Astúrias” na chamada de primeira página por baixo de um título menos comum: “Vida intensa, letras eternas”.

O Globo preferiu sublinhar a “doçura e força dedicada às palavras”. Para o diário do Rio de Janeiro, onde Nélida Piñon nasceu, numa família originária da Galiza, a escritora é “dona de gentileza proporcional à força de sua voz em causas como o feminismo e o combate ao etarismo”.

Nelida Pinon, Literatura, Brasil

Nélida Piñon. Foto © Elisa Cabot, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Guilhermina Gomes, directora editorial da Temas e Debates – que publicou Um dia chegarei a Sagres (2021), Uma furtiva lágrima (2019), Filhos da América (2017), A República dos Sonhos (2014) e Livro das horas (2013), entre outros títulos da escritora – evocou também o envolvimento cívico de Nélida Piñon: “Humanista, generosa, interventiva, uma artista do pensamento, teve uma voz firme contra a censura e a ditadura no Brasil. Feminista, afrontou com coragem os modelos tradicionais, celebrando e escrevendo a liberdade de pensar”.

Para Guilhermina Gomes a “autora amada por nós, seus editores há mais de duas décadas”, é “um ícone da grande literatura de língua portuguesa, internacionalmente reconhecida e premiada”. No DN, Maria João Martins recordava que ela amava Portugal.

A directora editorial da Temas e Debates escreveu ainda que Nélida Piñon, “com humildade, disse-se brasileirinha, mas levou-nos numa viagem homérica, contando-nos os seus pensamentos sobre a leitura, a sua paixão pela escrita, a sua relação vital com a literatura, a sua visão não apenas da mulher brasileira, mas de todas as mulheres desde tempos remotos, e sobretudo a importância que a memória assume, numa viagem que simboliza todas as viagens do mundo”.

Citada pelo Correio Braziliense, Nélida Piñon, referindo-se ao seu ofício, afirmou que “a literatura tem uma voz, parte de algum lugar, de uma geografia, mas não circunscrita aos limites geográficos e sim de uma geografia que tem seus mitos, sua trajetória, sua língua, sua formação”.

Desde a infância, Nélida Piñon (nascida em 3 de maio de 1937) aventurou-se a viver em “épocas pretéritas, fundacionais”, tal como escreveu em “Palavras ao vento”, incluído em Uma furtiva lágrima. “Foram os saberes e a imaginação que me distanciaram das paredes de casa”, lembra, acrescentando: “Menina, sonhei em jamais dormir uma segunda noite sob o mesmo teto”. Manteve esse mote, “escudada pela imaginação”.

Ainda que “fôssemos todos nós sujeitos ao ardil dos dias e da memória esgarçada, nascemos para sonhar o impossível”, observa a escritora no texto “Deus”, também inserido na obra citada, em que se diz devedora “dos humildes, dos peregrinos, dos anacoretas do deserto, do século IV. Dos gestos e das palavras originários do apostolado de Deus, e são indicadores da frequência civilizatória do meu coração. Dos seres que reverberam ao meu lado e representam a história da humanidade”.

É neste texto que surge uma indagação para a qual Nélida Piñon poderá ter encontrado resposta: “Que chances temos nós, estrangeiros e aflitos, de mergulharmos no regaço de Deus em nome da esperança?”

Na cidade onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado

Belém "está de luto e triste"

Na cidade onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado novidade

Não festejar o Natal precisamente na cidade onde – segundo a tradição cristã – nasceu Jesus? O paradoxo é enorme, mas não tão grande como a tristeza e a dor que pairam nas ruas de Belém, na Cisjordânia, e que se revelam nos semblantes dos poucos que as percorrem. “Belém, como qualquer outra cidade palestiniana, está de luto e triste… Não podemos comemorar enquanto estivermos nesta situação”, afirma Hanna Hanania, presidente da câmara cessante.

Deslocados de Cabo Delgado tentam regressar a casa, mas insegurança persiste

ONU denuncia

Deslocados de Cabo Delgado tentam regressar a casa, mas insegurança persiste novidade

Durante 13 dias, a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos humanos dos deslocados internos, Paula Gaviria Betancur, esteve em Moçambique. De visita à província de Cabo Delgado, observou a enorme vontade das populações deslocadas de voltar para as suas casas, mas verificou também que “persiste a insegurança” e que as comunidades não têm como autossustentar-se.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Para o biénio 2023-2025

Centro de Reflexão Cristã elege direção “comprometida com orientações do Papa Francisco”

O Centro de Reflexão Cristã (CRC) acaba de eleger uma nova direção para o biénio 2023-2025, que se assume comprometida “com os princípios do Concílio Vaticano II e com as orientações do Papa Francisco”. Presidida por Inês Espada Viera (até agora vice-presidente), a direção que agora inicia funções promete “novas iniciativas”, que já estão a ser preparadas.

Em seminário nacional

Ação Católica Rural debateu desafios para o futuro

Perto de cem elementos da Ação Católica Rural, oriundos de 11 dioceses, estiveram reunidos durante o passado fim de semana, em Albergaria-a-Velha, para refletir sobre a missão do movimento nos dias de hoje, a ideologia de género e os desafios colocados pelo Papa, na sequência da Jornada Mundial da Juventude.

Portugueses em risco de pobreza aumentaram para 17%

Dados do INE

Portugueses em risco de pobreza aumentaram para 17% novidade

O número de pessoas em risco de pobreza em Portugal aumentou para 17% em 2022, tendo crescido em todos os grupos etários, mas afetando “mais significativamente” as mulheres e os menores de 18 anos. Os dados constam do mais recente Inquérito às Condições de Vida e Rendimentos (ICOR), relativo aos rendimentos de 2022, divulgado esta segunda-feira, 27, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

A Bíblia Tinha Mesmo Razão?

Novo livro

A Bíblia Tinha Mesmo Razão?

Abraão e Moisés existiram mesmo ou são apenas personagens de ficção? O Êxodo do Egito aconteceu nos moldes em que é contado na Bíblia? E a conquista da “Terra Prometida” é um facto ou mito? É inevitável que um leitor contemporâneo se pergunte pela historicidade do que lhe é relatado na Bíblia. Um excerto do novo livro de Francisco Martins.

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This