
O governo da Nicarágua está em “guerra” com a Igreja Católica. Foto © Domínio Público
Com o bispo, padres e leigos da diocese de Matagalpa sitiados há duas semanas pelas forças policiais da Nicarágua, centenas de fieis foram no último fim de semana impedidos de se dirigir para a catedral de Manágua, onde participariam numa procissão em honra da Senhora de Fátima, e obrigados a regressar às suas paróquias.
Entretanto, a diocese nicaraguense de Siuna anunciou, em comunicado, a detenção do padre Óscar Benavides, neste domingo, 14 de agosto, por razões que os agentes da polícia que executaram a medida não esclareceram. Esta detenção eleva para três o número de presbíteros presos este ano pelo regime do presidente Daniel Ortega.
Nos últimos meses registou-se um recrudescimento das medidas repressivas conta a Igreja Católica na Nicarágua, que culminou no impedimento do bispo Rolando Álvarez de celebrar uma missa matinal, o que levou o prelado a sair com o Santíssimo Sacramento para as imediações do templo para rezar, prostrado de joelho. Na sequência, a polícia cercou as instalações.
Álvarez tem sido crítico da ação do governo nicaraguense quanto à justiça social e às liberdades e garantias e tinha verberado o encerramento recente de cerca de uma dezena de meios de comunicação social católicos. Mas o governo acusa a diocese de Matagalpa de “organizar grupos violentos” e incitar ao “ódio” para “desestabilizar” o país.
Em declarações à agência France Presse, o arcebispo de Manágua cardeal Leopoldo Brenes manifestou esperança de que se encontre uma saída para a situação deste bispo e da diocese de Matagalpa. “Como Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN), estamos muito próximos de Monsenhor. Todas as nossas igrejas rezam por ele e acompanham-no”, acrescentou o prelado.
No final de julho último, deu-se um facto que teve igualmente uma forte repercussão naquela região da América Latina e internacionalmente: o mesmo Ortega que tinha promovido e acolhido a chegada das Irmãs Missionárias da Caridade da ordem de Madre Teresa de Calcutá, em 1988, expulsou-as agora do país, depois de a Assembleia Nacional ter cancelado a pessoa jurídica da Associação Missionárias da Caridade, acusando-as de lavagem de dinheiro e de financiamento do terrorismo.
Esta decisão, que se inseriu num pacote que envolveu várias outras organizações da sociedade civil, elevou para 758 o número de ONG que foram encerradas e tiveram de cancelar a atividade no país.
A solidariedade de várias organizações latino-americanas com a Igreja Católica da Nicarágua tem-se feito sentir. No campo católico, depois do Conselho Episcopal da América Latina (CELAM), a manifestação mais recente foi a do episcopado colombiano. Os bispos deste país evocam “o testemunho corajoso” dos católicos. “Assim como aconteceu no início da Igreja, quando Pedro estava na prisão, hoje permanecemos em oração, com firme confiança no amor e no auxílio do Senhor”, faz notar o comunicado dos bispos da Colômbia.
Apesar de as ações de Ortega para condicionar a Igreja Católica terem chegado ao ponto, relativamente incomum, de expulsar o próprio núncio papal em Manágua, a verdade é que o Vaticano se tem mantido num silêncio pelo menos aparente. Esse silêncio foi quebrado, na última semana, pelo observador permanente da Santa Sé junto da Organização dos estados Americanos. O diplomata não fez, no entanto, considerações sobre os últimos acontecimentos, limitando-se a manifestar a “preocupação” da Santa Sé com a situação pela qual a Nicarágua está a passar e a manifestar vontade de colaboração com todos os setores que buscam o diálogo.