
O Papa comparou recentemente o Presidente nicaraguense, Daniel Ortega (na foto) a Hitler. Foto: cortesia no site TN8.
O Ministério das Relações Externas da Nicarágua pediu à Santa Sé o encerramento das suas missões diplomáticas no país, confirmaram esta segunda-feira, 13 de março, os média do Vaticano. Na origem da decisão terão estado as declarações do Papa Francisco na semana passada, em que comparava o regime do Presidente nicaraguense Daniel Ortega à ditadura comunista de 1917 e de Hitler de 1935, avança o jornal Crux.
A verdade é que as relações entre a Igreja e o Governo da Nicarágua têm vindo a deteriorar-se já desde 2018, quando as autoridades reprimiram violentamente os protestos antigovernamentais e alguns líderes católicos deram abrigo aos manifestantes nas suas igrejas, tendo depois procurado atuar como mediadores entre o regime e a oposição.
Duas organizações de defesa dos direitos humanos, Nicarágua Nunca Más e CSW, citadas pelo Crux, reuniram depoimentos de dezenas de pessoas que descreveram situações de assédio, ameaças, violência física e detenção arbitrária contra vários religiosos.
Há precisamente um ano, a 12 de março de 2022, o núncio apostólico em Manágua, o arcebispo Waldemar Stanisław Sommertag, que havia defendido a libertação de centenas de opositores presos em 2018 e 2019, foi expulso do país. A Santa Sé recebeu a decisão do governo da Nicarágua com grande surpresa e pesar: “Tal medida parece incompreensível – sublinhou na altura um comunicado da Santa Sé – porque no decurso de sua missão o arcebispo Sommertag trabalhou com profunda dedicação pelo bem da Igreja e do povo nicaraguense, especialmente os mais vulneráveis, procurando sempre favorecer as boas relações entre a Sé Apostólica e as autoridades da Nicarágua”.
Em entrevista ao jornal espanhol ABC, em dezembro passado, o Papa Francisco, respondendo a uma pergunta sobre a diplomacia vaticana em relação à Nicarágua, reiterou que a Santa Sé “nunca vai embora por decisão sua. Ela é expulsa. Procura sempre salvar as relações diplomáticas e salvar o que pode ser salvo com paciência e diálogo”.
Tensão tem vindo a crescer
A tensão entre a Igreja e o Governo de Ortega continuou a aumentar nos primeiros meses deste ano. O bispo de Matagalpa, Rolando Alvarez, foi condenado a 26 anos de prisão, vários padres e seminaristas foram deportados para os EUA, foi proibida a celebração de qualquer procissão nas ruas durante a Quaresma, e duas universidades católicas foram forçadas a encerrar, assim como a Fundação Mariana de combate ao Cancro, e ainda os dois escritórios da Cáritas no país.
Um relatório divulgado pela ONU revelou no passado dia 2 de março que “estão a acontecer crimes contra a humanidade” na Nicarágua. O documento afirma que as violações são da autoria do governo e que estão a acontecer por razões políticas e deixa um apelo à comunidade internacional para que puna os responsáveis – instituições ou indivíduos – com a imposição de sanções.
Alguns dias depois, a 7 de março, durante a 52ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos, realizada em Genebra, o observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, Fortunatus Nwachukwu, manifestou a sua preocupação relativamente a à situação vivida na Nicarágua, “com o aumento das restrições à liberdade de expressão, de reunião pacífica e de associação, juntamente com medidas repressivas contra aqueles que criticam o governo, jornalistas e defensores dos direitos humanos, bem como contra membros de associações de direitos humanos e contra membros da Igreja Católica”.
Nwachukwu reiterou o apelo do Papa Francisco “para superar as hostilidades e procurar espaços de diálogo construtivo entre as partes, lançando as bases para o retorno a uma convivência pacífica baseada no respeito pela dignidade e pelos direitos de todas as pessoas. em situação de maior vulnerabilidade, que são desproporcionalmente afetadas pelas circunstâncias atuais”.