
Raparigas numa escola no Afeganistão: desde 2021 este número reduziu para zero. Foto © Pixabay
O número de mulheres a frequentar o ensino superior no Afeganistão era superior a uma centena de milhar em 2021, contra apenas cinco mil em 2005, segundo dados divulgados pela UNESCO. Hoje, esse número causa estarrecimento e revolta, desde logo, entre as mulheres afegãs: é zero.
Depois de, em setembro de 2021, a inscrição de raparigas e mulheres com idade superior a 12 anos ter sido indefinidamente adiada, 1,1 milhões ficaram sem acesso ao sistema de educação formal.
Em dezembro de 2022 foi a vez de o ensino superior ter sido vedado sine die à população feminina, afetando mais de 100 mil estudantes.
É por isso que o dia 15 de agosto de 2021 ficou na memória de tantos afegãos, quando os talibãs ocuparam Cabul, os ocidentais fugiram em pânico e o novo regime fundamentalista tomou conta do país.
Neste espaço de tempo, praticamente todas as ONG foram forçadas a abandonar o país e a deixar no desemprego milhares de pessoas locais que com elas colaboravam. Apenas a ONU e as suas agências, juntamente com algumas organizações como a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras, mantiveram a ação humanitária e socioeducativa, mas com regras impostas pelos talibãs.
As mulheres, que foram as mais prejudicadas, “perderam, de repente, o seu lugar na sociedade. Agora só servem para casar e ter filhos”, nas palavras, citadas pelo diário El País, de uma procuradora jovem que se dedicava à promoção dos direitos das mulheres e crianças maltratadas, até à chegada dos talibãs a Cabul.
Muitos e muitas que conseguiram abandonar o país temem pela sorte dos familiares e amigos que ficaram. Diante de uma repressão e controlo tão fortes, continua, entretanto, a haver resistência, incluindo escolas para meninas, sob a capa do estudo do Corão.
“Nunca pensei que o mundo nos esquecesse tão rapidamente”, lamenta uma refugiada afegã ao El País.