
A nova caravana de migrantes em direção aos EUA pode ser uma das maiores de sempre. Foto de arquivo © DR
A primeira onda de uma grande caravana de migrantes que partiu das Honduras em maio tinha chegado na última sexta-feira, 17, à fronteira dos Estados Unidos, perto da cidade de Eagle Pass, segundo noticiou o periódico local Eagle Pass Business Journal.
A caravana, considerada uma das maiores de sempre, poderá ser constituída por largos milhares de pessoas – homens, mulheres e crianças. As reportagens referem números que variam entre duas mil e 11 mil pessoas, mas há relatos que indicam que outras caravanas se preparam para integrar esta, podendo o conjunto vir a atingir mais de 15 mil pessoas.
Uma reportagem de The Guardian, de 3 de junho último, feita na cidade mexicana de Tapachula, no estado de Chiapas, referia que mais de uma dezena de milhar de pessoas estava preparada para se porem em marcha.
A partir da segunda metade deste mês de junho, porém, os media norte-americanos deixaram de dar destaque a este tema, o que poderá ter a ver com o que na recente Cimeira das Américas foi decidido sobre o tema das migrações.
Segundo o Business Journal, muitos dos migrantes têm viajado pelo México em autocarros, comboios, camiões, táxis e aviões, procurando avançar rapidamente para conseguir asilo em busca do “sonho americano”. Estariam a aproveitar as 11 mil autorizações para imigrantes estrangeiros abertas pelo Governo mexicano no mês passado.
A caravana é constituída sobretudo por pessoas dos países da América Central e do Sul, ainda que a integrem cidadãos de outros países. À chegada a Eagle Pass, a polícia da fronteira deteve 300 pessoas, que na prática se ofereceram para serem presas, já que acreditam poder conseguir o asilo, uma vez que estejam noutras cidades dentro dos EUA, para as quais foram levadas em autocarros.
Nas palavras da jornalista Lillian Perlmutter, autora da reportagem em The Guardian, a politização é evidente. As autoridades mexicanas acolhem bem a caravana e dispõem-se até a apoiar os elementos mais frágeis, podendo, depois, negociar com o Governo norte-americano as possíveis soluções (que dificilmente serão soluções para os migrantes, já que, se há aspeto em que as promessas do Presidente Biden não se concretizaram foi relativamente à imigração e asilo).
As imagens dos media mostram a multidão a caminhar, mas não mostram aqueles que vão ficando pelo caminho e, sobretudo, aqueles que simplesmente desaparecem na viagem. É para este fenómeno dos “desaparecidos” que o Serviço Jesuíta dos Migrantes do México tem vindo a chamar a atenção, desde há 15 anos.
Num “Relatório sobre o desaparecimento de migrantes no México“, publicado em 20 de maio deste ano, refere-se que, no período entre 2007 e 2021, a organização tratou 1.280 casos de pessoas desaparecidas.
Mas foi nos últimos três anos, e particularmente em 2021, que mais subiu o número de solicitações recebidas: neste ano registaram-se, segundo o estudo, 27% do total de casos, um aumento de 291 por cento.
Pelos últimos contactos dessas pessoas desaparecidas feitos com familiares ou amigos percebe-se que, em 75 por cento dos casos, encontravam-se no México, haviam sido detidas e a partir desse momento desapareceram. Isto mostra, segundo o serviço dos jesuítas, que “os migrantes detidos são geralmente privados do direito de comunicar com os seus familiares e amigos, perdendo assim o contacto com eles”.