
Rui Valério deixa o Ordinariato Castrense e regressa ao Patriarcado, onde já desempenhou funções pastorais. Foto © Ricardo Perna / JMJ Lisboa 2023
O novo patriarca de Lisboa, Rui Valério, 58 anos, que desde 25 de Novembro de 2018 desempenhava as funções de bispo das Forças Armadas e de Segurança, destaca os jovens e as vítimas de abusos sexuais como centro das suas preocupações para a nova missão.
Agradecendo aos jovens a “dádiva da alegria e do entusiasmo com que iluminaram de esperança o céu da humanidade”, o patriarca agora nomeado diz que as novas gerações são depositárias “de um dinamismo de vida e esperança que juntos iremos expandir para manter vivo”.
O 7MARGENS tinha adiantado no dia 15 de Julho que o anúncio do nome seria feito nesta quinta-feira, 10 de Agosto, quatro dias depois do regresso do Papa Francisco a Roma, após a conclusão da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa. E também apontara o nome de Rui Valério como “a carta fora do baralho”, que poderia deixar de lado outros nomes que, nos últimos meses, estiveram na berlinda para suceder ao actual patriarca.
O novo responsável máximo da diocese de Lisboa garante “disponibilidade para escutar”, nomeadamente para “escutar os jovens”, como se lê na mensagem publicada página oficial do Patriarcado de Lisboa.
“É hora e é o momento de nos congregarmos todos, de nos reunirmos para partilharmos uns com os outros o que os discípulos partilhavam no Cenáculo, essa experiência interior, essa transformação vivida em cada um de nós.”
“É a partir da transformação vivida por cada um que nós conseguiremos transformar o mundo”, acrescenta Rui Valério. “Ou seja, o grande projecto da nova humanidade que deve surgir da experiência de Jornada Mundial da Juventude, esse projecto de transformação do mundo e da humanidade, começa na transformação interior de cada um de nós”, acrescenta.
Referindo-se ao processo de debate sinodal que a Igreja Católica está a viver, diz ainda o patriarca nomeado, na sua mensagem: “Todos juntos, em sinodalidade, de mãos dadas, vamos levar para a história, para o tempo aquilo que no coração, no nosso coração, no coração da Igreja, no coração do Patriarcado, no coração de cada um de nós, aconteceu e o Senhor realizou.”
O sucessor do cardeal Manuel Clemente considera que uma das maneiras “mais pertinentes para manter viva a chama e a mística da Jornada Mundial da Juventude é não deslocar o foco dos jovens”, manifestando a esperança de que a JMJ de Lisboa dê “fruto abundante de humildade, de santidade e de serviço missionário que sonha chegar a todos”.
Na mensagem de saudação à diocese, o novo patriarca refere ainda explicitamente os “irmãos e irmãs vítimas de abusos por membros da Igreja”. “Partilho da vossa dor e, juntos, vamos prosseguir, com esperança, no caminho da cura total do vosso e nosso sofrimento, da tolerância zero.”
Confessando-se com “temor e tremor”, o novo patriarca Valério diz que outro sentimento que o atravessa é o que decorre da “intenção de escutar”: “Deus falou-nos por meio do Filho, na prontidão e alegria dos jovens, nos gestos e palavras do Papa Francisco, na disponibilidade e serviço de tanta instituição e na generosidade de muitas pessoas”, diz, referindo-se ainda à JMJ. “Estamos convocados a escutar-nos reciprocamente, permanecendo e caminhando juntos, ao bom jeito de sinodalidade, para escutar a voz de Deus na Palavra que Ele dirigiu a cada um de nós.” E acrescenta: “a escuta é ponto estruturante do nosso programa, como o é o exemplo dos apóstolos pobres, despojados e desprendidos de tudo.”
Dirigindo-se ainda aos leigos, a propósito do Sínodo católico, o patriarca nomeado diz: “Na mudança de época que vivemos, pertence-vos a vós a determinante responsabilidade da evangelização do mundo e da cultura nas suas mais variadas vertentes, e de configurar o rosto sinodal do Povo de Deus.”
O 18.º patriarca de Lisboa tem a posse marcada para dia 2 de Setembro, como o 7MARGENS também adiantara há três semanas. A entrada solene na diocese será no dia seguinte, às 16h, no Mosteiro dos Jerónimos.

A este espaço tão curto entre o anúncio e a posse não será estranha a vontade de Manuel Clemente deixar o cargo e passar ao seu sucessor as nomeações e decisões relativas ao próximo ano pastoral.
O novo patriarca nasceu a 24 de Dezembro de 1964, em Urqueira (Ourém), tendo ingressado na Congregação dos Padres Monfortinos em 1984. Frequentou Filosofia e Teologia em Roma e fez a sua profissão perpétua naquela congregação religiosa em 1990. Foi ordenado padre em 1991.
Foi pároco por duas vezes em Castro Verde (Diocese de Beja) e colaborador na Paróquia da Póvoa de Santo Adrião (Odivelas). Entre 2008 e 2011, foi capelão militar na Escola Naval da Marinha. Em 2016, foi um dos 1071 padres enviados pelo Papa como “missionários da misericórdia”, durante o ano jubilar da misericórdia proclamado pelo Papa Francisco.
Em 27 de Outubro de 2018, Rui Valério foi nomeado bispo das Forças Armadas e de Segurança, sendo ordenado em 25 de Novembro seguinte. Actualmente é delegado da Conferência Episcopal Portuguesa para as Relações Bispos/Vida Consagrada e membro da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização.