
Jerry Pillay, o novo secretário-geral eleito do CMI (ao centro no grupo) assumiu como prioridade do seu mandato “fortalecer a comunidade de igrejas” cristãs. Foto © Albin Hillert/WCC.
“A visão que tenho para o Conselho Mundial de Igrejas [CMI] é que ele será pertinente e visionário quando, rezando e prestando culto, ajude a transformar o mundo no sentido da unidade, da justiça e paz”, no sentido desejado por Deus, disse Jerry Pillay, o novo secretário-geral eleito do CMI, que iniciará funções em Janeiro próximo. O responsável falava em Karlsruhe (Alemanha), na conclusão da assembleia do Conselho, ao início da tarde desta quinta-feira, 8 de Setembro.
Manifestando “muita alegria e muito entusiasmo” pelo cargo para o qual foi eleito em Junho pelo Comité Central do CMI, Pillay apresentou aquelas que considera as prioridades para a sua acção, que concretizarão as decisões da assembleia que agora termina: “Fortalecer a nossa comunidade de igrejas que confessa Jesus Cristo como salvador”, mostrando a “unidade cristã visível, necessária para refazer este mundo fragmentado” é a primeira.
Aplicar as decisões e prioridades definidas na assembleia e convidar as igrejas-membros do Conselho a trabalhar cada vez mais juntas e a empenharem-se numa “cultura de participação e compromisso” no interior do CMI são outras das orientações que o novo secretário-geral pretende seguir.
Trabalhar “não apenas em prol da unidade visível, mas também pela unidade e justiça no mundo, em favor dos pobres e marginalizados do mundo, incluindo pela justiça económica, de género e climática” será também uma linha de actuação do novo secretário-geral.
Numa perspectiva ecuménica, Jerry Pillay pretende “trabalhar com todas as organizações” e parceiros ecuménicos do mundo. Nesta perspectiva, propõe que o CMI continue a criar espaços “para diferentes diálogos”: muitas igrejas cristãs, diz, estão divididas em temas como a vida humana, o aborto ou a guerra, mas o mais importante “é fortalecer a unidade, mesmo sabendo que pensamos diferente”. No caso da guerra provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia ou do conflito entre Israel e a Palestina – dois dos temas que mais tensão provocaram na assembleia –, Pillay considera que o CMI deve ter também um papel de facilitador do diálogo.
A missão comum das igrejas cristãs, apesar das suas diferenças, foi uma das notas importantes desta 11ª assembleia do CMI. Um dos documentos aprovados na generalidade é exactamente sobre o tema da missão comum. “Os fiéis, como tantas outras pessoas em todo o mundo, têm sido profundamente afectados pela dor dos tempos. As famílias foram separadas e, em alguns casos, atingidas por uma pandemia e ansiaram por estar unidos. Conflitos violentos e guerras trazem morte e sofrimento a todos os continentes”, diz o texto, na sua versão provisória. “Refugiados estão a ser expulsos da sua pátria pela guerra, pelas alterações climáticas e pela simples necessidade humana de alimentos e segurança. Mais uma vez, em alguns lugares, os cristãos estão mesmo a matar-se uns aos outros”, acrescenta o documento, numa referência à guerra na Ucrânia, que mereceu mesmo um documento próprio.
“Tantos pecados de profunda injustiça, como o sistema de castas, racismo, sexismo e exploração económica, a par de tantos tipos de alienação, que afastam as pessoas umas das outras e anulam o nosso anseio de reconhecimento dado por Deus, as relações e a comunhão…” O documento aponta, depois: “Num mundo como este, ferido por divisões, as igrejas são chamadas a testemunhar o poder indestrutível do amor para reconciliar e unir. As igrejas transportam em si e no mundo o testemunho contra-cultural da esperança de unidade, justiça e paz através da fé que proclamam no Evangelho de Jesus Cristo.”
Oito novos presidentes

Foi neste clima que a assembleia do Conselho Mundial elegeu, nesta semana, os seus oito novos presidentes e um comité central de 150 membros. Em dois processos eleitorais que são competência do seu órgão decisor máximo, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que reúne 352 igrejas ortodoxas, reformadas e anglicanas, escolheu os responsáveis máximos pela sua acção.
Aos oito presidentes está atribuída a missão de liderar a promoção do ecumenismo que o CMI assume e de concretizar a missão do Conselho Mundial, especialmente nas respectivas regiões. Integrando por inerência o Comité Central (CC), os oito presidentes provêm de seis regiões do mundo – África, Ásia, América Latina e Caraíbas, América do Norte, Europa e Pacífico – e ainda as duas principais famílias ortodoxas: Igrejas Ortodoxas Bizantinas e Igrejas Ortodoxas Orientais (do Médio Oriente).
Neste último caso, foram eleitos o metropolita Vasilios de Constantia-Ammochostos, da Igreja de Chipre, em representação das Igrejas Ortodoxas Bizantinas. Natural de Ammochostos (Chipre), Vasilios integrou o mosteiro do Apóstolo Barnabé como monge, onde ficou até à invasão turca de Chipre, em julho de 1974. Mais tarde seria ordenado padre e, finalmente, eleito como bispo de Tremitunte pelo Santo Sínodo da Igreja de Chipre.
O representante das Igrejas Ortodoxas Orientais é Aram I, catholicos da Igreja Apostólica Arménia da Cilícia. Antigo moderador do CC do Coselho Mundial, Aram I tem sido uma das figuras destacadas do diálogo teológico entre ortodoxos, entre estes e católicos e entre ortodoxos e luteranos. Desde Novembro de 2007, desempenha também o cargo de presidente do Conselho das Igrejas do Médio Oriente.
O presidente regional em nome de África é Rufus Okikiola Ositelu, da Igreja do Senhor no Mundo. Primeiro presidente do CMI de uma Igreja instituída africana, arcebispo da Província Episcopal da Nigéria, foi membro do Comité Central do CMI entre a 8ª assembleia (Harare, Zimbabué, 1998) e a 9ª (Porto Alegre, Brasil, 2006).
Da Ásia, vem Henriette Hutabarat-Lebang, da Igreja Reformada de Toraja, na Indonésia. Uma especialista do diálogo ecuménico, integra o CC ainda em funções e tem trabalhado desde 1976 no Conselho Nacional das Igrejas na Indonésia.
Philip Silvin Wright, bispo anglicano da Diocese de Belize, foi eleito presidente pela região da América Latina e das Caraíbas. Wright fez parte de vários conselhos e comissões sociais e de liderança da sua igreja.
Da Europa, foi eleita uma outra mulher: Susan Durber, ministra ordenada da Igreja Reformada Unida no Reino Unido, foi pastora em comunidades da sua igreja, integra a Federação Teológica de Cambridge e é conselheira teológica da Christian Aid, agência internacional de ajuda ao desenvolvimento criada por igrejas cristãs do Reino Unido. Como jovem teóloga, esteve em várias reuniões ecuménicas.
Angelique Walker-Smith, da Convenção Nacional Baptista dos Estados Unidos da América, foi eleita como presidente para a América do Norte. Integra actualmente o CC do Conselho Mundial de Igrejas e está envolvida também no Conselho Nacional de Igrejas dos EUA. Preside ainda à organização Christian Churches Together, que reúne igrejas negras históricas e foi uma das impulsionadoras da rede Pan-African Women of Faith (Mulheres de Fé).
Finalmente, o Pacífico elegeu François Phiaatae, ministro ordenado da Igreja Protestante de Maohi (Polinésia Francesa). Além da liderança de comunidades locais, Pihaatae tem ocupado vários cargos de liderança na sua Igreja integrou também a Comissão do CMI sobre Missão Mundial e Evangelismo, de 2000 a 2005.
Comité Central renovado

Outra eleição importante foi a do novo Comité Central que, composto por 150 pessoas, tem a função de executar as políticas adoptadas pela assembleia, rever e supervisionar os programas do CMI, e gerir o orçamento do Conselho Mundial (ou Ecuménico) de Igrejas.
Na nova composição do CC, 41% dos membros são mulheres e 59% de homens. Jovens são 13%, indígenas outros 13% e 3% são pessoas com deficiência – estes três sectores foram muito falados nesta assembleia, como franjas importantes a que o CMI deve dar atenção. Na nova composição, 29% dos membros do CC são leigos e 71% são ministros ordenados.
Dentro do Comité, que representa as 352 igrejas ortodoxas, reformadas e anglicanas que integram o CMI, há ainda um comité executivo de 25 pessoas, um moderador e dois vice-moderadores.
No Conselho Mundial, as decisões são tomadas por consenso. “Este firme compromisso com a unidade da Igreja [cristã, designando aqui não uma comunidade concreta, mas o conjunto dos cristãos] e da humanidade, e a nossa vontade de procurar consenso no poder do Espírito Santo, marcam as nossas deliberações com base em procedimentos de tomada de decisão consensual”, afirmou Agnes Abuom, da Igreja Anglicana do Quénia, e moderadora cessante do CC. “Confio que o tema da assembleia, juntamente com os procedimentos de consenso e o nosso compromisso comum de avançarmos juntos em unidade, também nos ajudará a enfrentar construtivamente as tensões e dificuldades que dividem a humanidade de hoje.”
A assembleia do Conselho Mundial de Igrejas concluiu o caminho iniciado na anterior reunião, em Busan (Coreia do Sul), em 2013, em que foi decidido investir numa “peregrinação de justiça e paz” centrada em quatro eixos de acção: a crise climática e o cuidado com a Criação; a injustiça económica e a luta por uma economia que garanta a dignidade de vida; a violência e as guerras, lutando por uma paz justa através da construção da paz e da reconciliação; o racismo, o orgulho étnico, a opressão das mulheres e a afirmação da dignidade humana.