
Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache (Coimbra), que encerrou no Verão de 2019, uma das instituições escolares jesuítas. Foto © João Ferrand/Companhia de Jesus.
Cresceu para 12 o número de alegados abusadores de crianças e jovens identificados pela Província Portuguesa da Companhia de Jesus (PPCJ) no âmbito das suas atividades: mais concretamente, 11 padres jesuítas e um leigo, todos eles “já falecidos”. O estudo da Comissão Independente permitiu atualizar o balanço que havia sido feito pela ordem religiosa em setembro do ano passado, altura em que anunciaram ter apurado “com um grau de probabilidade elevada” a ocorrência de casos de abuso sexual de menores cometidos por oito jesuítas, entre 1950 e o início da década de 1990.
“Em relação a alguns suspeitos, há registo de mais do que uma vítima. Deste modo, os abusos envolveram, pelo menos, 24 vítimas, entre os 7 e os 17 anos. A grande maioria é do sexo masculino. Os suspeitos identificados tinham entre 24 e 65 anos à data dos factos”, refere a PPCJ em comunicado.
“A maior parte das situações conhecidas aconteceu em contexto escolar, sendo que os relatos indicam os locais de dormida (os mais antigos, quando ainda havia regime de internato) e espaços onde os alunos se encontravam sozinhos com o suspeito, como gabinetes, enfermaria, mas também salas de aula onde uns alunos terão vivido e outros presenciado condutas sexualmente abusivas. Há ainda relatos de abusos cometidos no âmbito do acompanhamento espiritual”, acrescenta a nota.
“Este caminho é necessário e nós queremos fazer parte dele”
Destes novos casos agora identificados, “os mais recentes aconteceram no início da década de 2010”, adianta Sofia Marques, coordenadora do Serviço de Escuta, criado já em 2018 pela Companhia de Jesus com o propósito de recolher denúncias sobre abusos sexuais nos seus espaços. “Mas onde temos mais situações conhecidas continua a ser na década de 80”, sublinha, em declarações ao 7MARGENS.
Na opinião da jurista, o facto de não haver denúncias de abusos que tenham acontecido mais recentemente “pode ter várias explicações”. Entre elas, o facto de “alguns dos contextos de risco terem deixado de existir, como por exemplo os internatos,” e também o de ter passado a haver “uma presença mais equilibrada entre homens e mulheres nas comunidades”, que anteriormente eram maioritariamente masculinas.
Além disso, já se começam a ver resultados da prevenção. “Nos últimos 20 anos, houve uma explosão de técnicos a trabalhar nestas áreas, e as famílias e as próprias crianças estão muito mais conscientes e preparadas”, assinala Sofia Marques, que diz acreditar “genuinamente que neste momento estamos em muito melhores condições de prevenir estas ocorrências do que estávamos há 20 ou 40 anos”.
No entanto, “também está identificado que as vítimas demoram a falar e o número de pessoas que só agora, com a Comissão Independente, contou a alguém que sofreu abusos é muito grande”, o que pode indicar que eventuais situações que tenham acontecido recentemente só mais tarde venham a ser reveladas, lembra a coordenadora do Serviço de Escuta.
O que é certo, sublinha, é que este serviço vai continuar ativo, não só para os casos de abusos sexuais de menores, mas também para outras formas de abuso. “Sabemos que, quando o abuso acontece o seio da Companhia, a confiança é afetada, e não podemos impor à pessoa que venha ter connosco…”, reconhece Sofia Marques. “Mas mesmo que ninguém bata à porta, a porta está aberta”, assegura, porque “este caminho é necessário e nós queremos fazer parte dele”.