Peregrinação ecuménica pela paz

O apelo do Papa no Sudão do Sul: “O cristão escolhe sempre a paz”

| 4 Fev 2023

Papa fez oração ecuménica pela paz, juntamente com Justin Welby, arcebispo da Cantuária (Igreja Anglicana) e o pastor Iain Greenshields, moderador da Igreja da Escócia (Presbiteriana). Foto © Vatican Media, via Agência Ecclesia.

No Sudão do Sul, o Papa fez oração ecuménica pela paz, com Justin Welby, arcebispo da Cantuária (Igreja Anglicana) e o pastor Iain Greenshields, moderador da Igreja da Escócia (Presbiteriana). Foto © Vatican Media, via Ecclesia.

 

Num dos mais jovens países do mundo, que nasceu na esperança da paz mas rapidamente mergulhou na violência, o Papa Francisco quis deixar um forte apelo à paz, lançando as sementes também junto dos cristãos do Sudão do Sul. 

No segundo dia de visita ao país, numa oração ecuménica, o Papa lançou a advertência: “Amigos caríssimos, quem se diz cristão deve escolher de que parte estar, deve escolher: quem segue Cristo escolhe a paz, sempre; quem desencadeia guerra e violência atraiçoa o Senhor e renega o seu Evangelho.”

Com milhares de pessoas reunidas no mausoléu John Garang, em Juba, Francisco disse — citado pelo agência Ecclesia — que a paz de Deus é mais do que uma “trégua entre os conflitos”. “Trabalhemos incansavelmente, queridos irmãos e irmãs, por esta paz que o Espírito de Jesus e do Pai nos convida a construir: uma paz que integra as diversidades, que promove a unidade na pluralidade”, acrescentou, com o primaz Justin Welby, arcebispo da Cantuária (Igreja Anglicana) e o pastor Iain Greenshields, moderador da Igreja da Escócia (Presbiteriana), a seu lado.

“O amor do cristão não é só para os vizinhos, mas para cada um, porque cada um em Jesus é nosso próximo, irmão e irmã – até mesmo o inimigo  – e, com maior força de razão, aqueles que pertencem ao nosso próprio povo, embora de etnia diferente”, complementou.

Construir a fraternidade entre os cristãos ajuda a “fazer passar a mensagem da paz na sociedade” e a contrariar uma “cultura baseada no espírito de vingança”. “A herança ecuménica do Sudão do Sul é um tesouro precioso, um louvor ao nome de Jesus, um ato de amor à Igreja sua esposa, um exemplo universal para o caminho de unidade dos cristãos”, acrescentou.

A oração ecuménica teve ainda uma prece de intercessão e misericórdia pela nação, num ato de unidade.


Igreja tem o dever de “erguer a voz” contra violência

Logo na manhã de sábado, também na capital do Sudão do Sul, o Papa (ainda citado pela Ecclesia) disse que a Igreja tem o dever de “erguer a voz” contra a violência e a injustiça, falando a membros do clero e de institutos religiosos, no mais jovem país africano (e o segundo no mundo, depois da recente independência dos Barbados).

“Também nós somos chamados a erguer a voz contra a injustiça e a prevaricação, que esmagam as pessoas e se valem da violência para, à sombra dos conflitos, melhor gerir os próprios negócios”, denunciou, na Catedral de Santa Teresa, em Juba.

No segundo discurso da sua “peregrinação ecuménica pela paz”, iniciada na sexta-feira, Francisco sublinhou que os responsáveis católicos “não podem permanecer neutrais face ao sofrimento provocado pela injustiça e as violências”. “Onde quer que uma mulher ou um homem sejam feridos nos seus direitos fundamentais, é ofendido Cristo”, acrescentou.


Guerra provoca “a maior crise de refugiados do continente”

Papa denunciou “a maior crise de refugiados do continente” africano, que se vive no Sudão do Sul, com a multiplicação de campos de deslocados, como este no Uganda. Foto © ACNUR.

Papa denunciou “a maior crise de refugiados do continente” africano, que se vive no Sudão do Sul, com a multiplicação de campos de deslocados sul-sudaneses no país ou no exterior, como este no Uganda. Foto © ACNUR.

 

O Papa encontrou-se ainda com deslocados internos do Sudão do Sul no ‘Freedom Hall’, de Juba, junto dos quais denunciou “a maior crise de refugiados do continente” africano, apelando ao fim da guerra no país.

“Aqui perdura a maior crise de refugiados do continente, pelo menos com quatro milhões de desalojados, filhos desta terra, com a insegurança alimentar e desnutrição que afetam dois terços da população e com previsões que falam duma tragédia humana que se pode agravar ainda mais, no curso do ano”, alertou, na terceira intervenção da sua visita, iniciada na sexta-feira.

Dirigindo-se aos responsáveis políticos, da sociedade civil e da comunidade internacional, Francisco sustentou que “não se pode esperar mais”.

“Um número enorme de crianças nascidas nos últimos anos só conheceu a realidade dos campos de desalojados, esquecendo-se do ambiente de casa, perdendo a ligação com a própria terra de origem, com as raízes, com as tradições”, lamentou, também citado pela agência Ecclesia.

O encontro começou com a projeção de um vídeo comentado por Sara Beysolow Nyanti, vice-representante especial do secretário-geral da ONU, António Guterres, para a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, e com o testemunho de crianças que fazem parte das milhares de pessoas a viver em campos de refugiados na capital do país africano.

“O futuro não pode ser nos campos de desalojados. É preciso – justamente como pedias tu, Johnson – que todos os rapazes como tu tenham a possibilidade de ir à escola e também o espaço para jogar futebol”, disse o Papa, após ouvir estes testemunhos.

Na véspera, no primeira dia da peregrinação ecuménica pela paz, o presidente sul-sudanês Salva Kirr anunciou a disponibilidade para retomar as negociações de paz com grupos de oposição do Sudão do Sul que não assinaram, em 2020, a Declaração de Roma. “Tenho consciência das grandes expectativas relativamente à implementação destes acordos”, assumiu, apontando à necessidade de “eleições credíveis e transparentes” como objetivo último deste processo, falando perante o Papa Francisco, o primaz Justin Welby e o pastor Iain Greenshields.

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