“Perpetradores da guerra e da destruição”

O contra-testemunho do cristianismo na guerra da Ucrânia

| 5 Mar 2022

manifestacao contra a guerra na ucrania, foto acn portugal

Manifestação religiosa contra a guerra na Ucrânia: “O cristianismo não teve qualquer impacto para impedir os batizados de serem perpetradores da guerra e da destruição”, diz Robert Mickens. Foto © ACN Portugal.

 

“O aspeto mais triste e escandaloso do que está a acontecer neste momento na Ucrânia é que o cristianismo não teve, obviamente, qualquer impacto para impedir os batizados de serem perpetradores da guerra e da destruição.”

A denúncia vem de Robert Mickens, editor chefe do La Croix International, na sua apreciada coluna semanal “Carta de Roma”, esta semana intitulada “O contra-testemunho do cristianismo” (acesso mediante assinatura).

O jornalista começa por exemplificar com um caso passado nos anos 90 do século passado, vivido por um amigo seu dominicano, alguns anos após o fim do genocídio no Ruanda, que opôs tutsis e hutus, dois dos povos (ou tribos) da região. Esse amigo acabava de ser testemunha impotente de irmãos cristãos dominicanos, situados de um e outro lado do conflito, que – recorda Robert Mickens – “se permitiram sucumbir a sentimentos fratricidas e conflitos”.

Para ele, a invasão da Ucrânia pelo exército russo é diferente em muitos aspetos, mas “é ainda mais horrível” pelo facto de os cristãos dos dois países pertencerem ao mesmo ramo da Igreja Ortodoxa Oriental que se constituiu no século X – como ambos os lados afirmam – na mesma pia batismal em Kiev.

“Sim, esta Igreja – que fez parte do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla até ao século XVII – fraturou-se ainda mais, especialmente após o colapso da União Soviética e o chamado renascimento do cristianismo ortodoxo na região”, o que leva este colunista a considerar o conflito na Ucrânia “pior do que fratricida”.

“Soldados de uma nação dita ‘cristã’ atacaram os seus vizinhos que são irmãos e irmãs na fé. E os líderes religiosos – particularmente o patriarca Cirilo, de Moscovo, e todos os russos – foram impotentes para travar os líderes políticos (e militares).”

Mickens desvaloriza a insistência de hierarcas de todas as denominações cristãs, incluindo o catolicismo, de que não se pode culpar o cristianismo pela guerra. O que, porém, salta à vista e que é, para ele, “o aspeto mais triste e escandaloso” é a impotência diante deste quadro em que batizados surgem como perpetradores de guerra e destruição.

“Isto é apenas mais um sinal de que o Cristianismo do Velho Mundo continua a ser uma religião primitiva que continua a afastar-se do Evangelho, e a razão pela qual – se isso não mudar – todas as Igrejas continuarão a tornar-se cada vez mais irrelevantes. E isso também deixará muitos escandalizados e sem ânimo”, conclui o colunista.

Recorde-se que Cirilo, primaz do Patriarcado de Moscovo (ortodoxo), não se tem demarcado e tem mesmo dado cobertura à política de agressão do Presidente Putin, o que tem gerado apelos de várias ‘famílias’ da ortodoxia. Como o 7MARGENS noticiou, mais de duzentos padres e diáconos da Igreja Ortodoxa Russa criticaram a opção da guerra e as várias igrejas ortodoxas da Ucrânia, ainda que com tonalidades diversas foram pelo mesmo caminho.

Por sua vez, a Igreja Católica da Polónia, através do presidente da Conferência Episcopal escreveu uma carta ao patriarca Cirilo, lembrando que “a guerra é uma derrota da humanidade” e pedindo-lhe que diligencie junto de Putin para fazer marcha atrás.

 

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