O Espírito surpreende-nos

| 14 Nov 2020

Este livro não tem índice. Não tem nem precisa. Seria redundante. É uma coleção de diários. Todos os dias, de 24 de março a 29 de maio. Um exercício de diálogo com a Palavra, com os acontecimentos do dia – dos mais próximos e pessoais, aos mais longínquos e de todos conhecidos –, com as inquietações, as esperanças e as alegrias de cada dia. São textos dos dias de confinamento tal como os viveu a autora, a irmã Nuria Frau, conhecida de todos os que alguma vez contactaram a comunidade Verbum Dei ou passaram pela paróquia do Campo Grande, em Lisboa.

Como em qualquer outro diário, lêem-se aqui registos que são uma ponte entre o ontem e o amanhã. Três, quatro, por vezes cinco páginas. Nunca mais. Escrita direta, parágrafos curtos. Vontade de rapidamente ir ao essencial. Neles há uma personagem inesperada, por vezes escondida, nem sempre nomeada, mas sempre presente: o Espírito Santo. Só nos últimos dias de maio a promessa e os dons do Espírito ganham centralidade no texto. Mas desde março que Ele é o grande animador do que lemos: “(…) e esperar que o Espírito ilumine o nosso interior (…)”  [26 de março].

Nomeada, por que é disso que se trata, é a oração. Não a repetição de fórmulas, mas a contemplação dos dias – que “não são calmos. Muita coisa continua a acontecer no mundo todo.” – para neles descobrir o que nos é exigido. “Porque a nossa oração tem de nos poder ajudar a procurar a verdade, a cultivar o sentido crítico, não de crítica (são coisas diferentes).” [16 de maio]. Ou antes “Sentimos, pois, que a nossa oração é tempo de aproximar a cabeça do coração. Não se trata de “refletir” ou de “deixar de comer chocolate” como “privação e sacrifício”. Trata-se de conhecer Jesus!” [6 de abril].

E um sentimento – um modo de vida – percorre esta coleção de diários: a confiança. “A fé é confiança. Não é “verificação”. A fé é confiar. A confiança exige um passo no escuro. Confiar lança-nos no “desafio da vertigem” de não ter evidência. De sentir que a pessoa em quem pus a minha confiança não está aí” [2 de maio]. Ou, quando recorda: “Estamos perante uma realidade que aflige, como a nossa”, mas Jesus diz-nos: “No mundo tereis tribulações, mas tende confiança. Eu venci o mundo.” [20 de abril].

Como seria de esperar para os que conhecessem a autora, não há aqui resquícios de beatice, ou palavrinhas mansas de sacristia. Há uma procura, uma intenção: dizer o mistério de Deus a partir de uma fé que se sabe relação, encontro e dom. De onde nasce a oração como recordação da experiência pessoal, do testemunho de outros e do mundo que Deus não abandona e em que Jesus está vivo.

 

Diário de uma Quarentena A vida surpreende-nos, de Nuria Frau
Paulinas Editora, outubro de 2020
238 págs., €10,00
À venda nas casas Verbum Dei e na paróquia do Campo Grande (Lisboa)

 

Pedalar por amor, com o mundo dentro de nós

Dia das Ruas com Gente em vez de Dia Sem Carros

Pedalar por amor, com o mundo dentro de nós novidade

Chamam-lhe o Dia Europeu Sem Carros. Eu diria que lhe deveríamos chamar, ao 22 de Setembro, o Dia Europeu das Ruas com Gente. Não estamos a tirar nada, apenas vislumbramos, por umas horas, no canto dos pássaros desocultado pelo silenciar dos motores, no ar límpido, e na alegria das crianças e dos velhos que assomam à rua, como poderia ser a cidade se nos devolvessem o espaço que o uso indiscriminado do automóvel nos roubou. 

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Mil e duzentos milhões de pessoas vivem ainda na pobreza

ONU aquém das metas

Mil e duzentos milhões de pessoas vivem ainda na pobreza novidade

Eleva-se a 1,2 mil milhões o número de pessoas que ainda viviam na pobreza em 2022, e calcula-se em 680 milhões, ou seja, cerca de 8 por cento da população mundial, aquelas que ainda enfrentarão a fome até ao final da década. Isto apesar dos compromissos assumidos pela ONU, em 2015, de combater a pobreza e a fome no mundo, e apostar decididamente no desenvolvimento sustentável.

Campanha internacional quer homenagear 50 mil vítimas do Holocausto

Memorial a construir na Bielorrússia

Campanha internacional quer homenagear 50 mil vítimas do Holocausto novidade

Há mais de 80 anos, milhares de lápides que descansavam no grande cemitério judaico de Brest-Litovsk, na Bielorrússia (sabe-se que ali estariam enterrados cerca de 50 mil judeus), foram profanadas e usadas ​​para outros fins. Cerca de 1.200 lápides (ou o que sobrou delas) foram descobertas nos últimos 20 anos e agora uma instituição de caridade com sede no Reino Unido, a The Together Plan, decidiu devolvê-las ao seu local de origem, onde irá construir um memorial que homenageie esta comunidade brutalmente extinta.

Agenda

There are no upcoming events.

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This