O homem que prometeu ao avô nunca deixar de ser judeu

| 12 Dez 2020

As memórias autobiográficas de um dos líderes mais importantes de Israel, que é também um livro sobre acontecimentos fundamentais da História da segunda metade do século XX.

 

É um lugar-comum, quando se fala de Shimon Peres, dizer-se que a história deste homem se confunde com a História do Estado de Israel. Mas é verdade, e ainda não surgiu outra abordagem que consiga sintetizar de forma concreta e realista a vida de Peres. Chegou à Palestina com 11 anos de idade, morreu no Estado de Israel aos 93 anos.

Numa das badanas deste livro, a editora dá notícia de que Shimon Peres morreu pouco depois de terminar a sua escrita. Está aqui a vida toda, assim as quase 250 páginas sejam suficientes para contar a vida de alguém. Não havendo motivo para duvidar que escreveu até aos seus últimos dias, podemos concluir que nada do que nos queria contar ficou por dizer. E qualquer autobiografia é assim: o autor conta-nos dele e sobre ele, apenas o que acha que deve contar, deixando-nos sempre a curiosidade não satisfeita de passagens pouco desenvolvidas ou até momentos que a história e as notícias pouca conta dão, mas em relação aos quais o autor decidiu não escrever uma única palavra. Relativização ou desvalorização? Já não iremos saber.

De todos os elogios que lhe são feitos, de que até podemos discordar, o de Amos Oz assenta-lhe (ao texto) na perfeição: “Este livro é algo de único e especial para qualquer leitor que goste de história, de política, de Israel e do Médio Oriente, de realidades desafiadoras e de sonhos grandiosos.” É um livro em que a História das últimas décadas escorre vertiginosamente a cada página. Mesmo que não estejamos de acordo com alguns enquadramentos, leituras e opiniões.

Esta é a história de um menino que, aos 11 anos, deixou a aldeia Natal (Vishneva) na Polónia, onde a família vivia há várias gerações. Na última vez que viu o avô quando deixava a aldeia e partia para a Palestina sob Mandato Britânico, uma mão do Rabi Zvi Meltzer exigiu-lhe uma promessa: “Promete-me que serás sempre judeu.” Nunca mais viu o avô, queimado vivo no interior da Sinagoga incendiada pelos nazis. Mas Shimon Peres honrou a promessa feita ao homem que lhe ensinou a História do povo judeu e que lhe deu a conhecer a Torá.

Jaffa foi a porta de entrada de Shimon Peres no que viria a ser o Estado de Israel. A recebê-lo (e à mãe e aos irmãos) estava o pai, dirigindo-se ao navio “na proa de uma pequena embarcação de pesca árabe (…). Ao lado estava o capitão do barco, um árabe alto com umas calças largas de pregas, como um acordeão”.

Shimon Peres assume uma identificação absoluta com o sionismo e o serviço à causa era a intenção primeira. Assume também que foi esse serviço a conduzi-lo às funções de Presidente da República. Aliás, ocupou-se das mais diversas funções durante o seu longo percurso: também foi Primeiro-Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros, entre muitos outros cargos. Ainda assim, porque também era um socialista, trabalhar nos Kibutzin era o projecto inicial. E foi.

Shimon Peres, o 3º em cima à direita, em Vishneva (Polónia), 1932; o avô é o primeiro da esquerda na fila do meio. Foto da National Photo Colection/Photography Dept.-Goverment Press Office.

 

Guardador de rebanhos

Os primeiros tempos foram na escola secundária e no movimento juvenil, e depois no Kibutz. Guardou rebanhos, trabalhou os campos, aprendeu a combater e fazia turnos de sentinela para defender o Kibutz Ben-Shemen em relação à população árabe. Foi em Ben-Shemen que conheceu a mulher, Sonia. Diz que lhe leu poemas e até capítulos de Karl Marx. Sónia era a mulher que o deixava sonhar. É em Ben-Shemen que desperta o interesse pela política. É eleito delegado à convenção nacional da HaNoar HaOved – Juventude Trabalhadora – e pouco depois conhece o homem – a lenda – que lhe vai mudar a vida: David Ben-Gurion.

Dos primeiros anos nos Kibutzin, até ao dia da Declaração da Fundação do Estado de Israel, Peres ganhou a confiança de Ben-Gurion e tornou-se o seu principal conselheiro, bem como o homem das missões impossíveis.

Pouco mais de dois anos antes da Fundação do Estado de Israel, Shimon Peres conquista a primeira vitória política ao ser eleito secretário-geral da HaNoar Haoved. Fez aprovar a proposta que defendia Israel num pequeno território, rapidamente, em detrimento dos que defendiam um “Grande Israel”, não se sabia quando. Um sinal de pragmatismo que também lhe marcou o percurso.

No primeiro Congresso Sionista depois do Holocausto, Shimon Peres, então com 23 anos, vê-se entre os delegados e confessa a surpresa. Ben-Gurion esteve quase a virar costas a um congresso que o próprio definiu “cheio de políticos de pacotilha, de derrotistas patéticos”. Foi a persuasão exercida, entre outros, por Shimon Peres, que manteve David Ben-Gurion em Genebra e lhe deu a vitória da linha política que defendia. Peres admite: “Naquele preciso momento senti que o Estado judaico acabara de nascer, e dentro de mim deu-se algo novo e poderoso.”

Um ano antes da fundação do Estado de Israel, Shimon Peres é chamado ao Haganah – o exército clandestino judaico, que se tornaria nas actuais Forças de Defesa de Israel (FDI). Ben-Gurion confiou-lhe a primeira de muitas missões impossíveis: arranjar armas para que as FDI pudessem defender Israel após a Declaração de Fundação do Estado. O problema maior era o embargo que Israel enfrentava, mas seis meses depois confessa que era enorme a quantidade de armas que chegara da então Checoslováquia. Também um sinal das tendências políticas dos mais destacados dirigentes israelitas.

O debate em que a Assembleia Geral das Nações Unidas discutiu a Resolução 181 – a partilha da Palestina – foi seguido através da rádio, e a votação a 29 de Novembro de 1947 também: trinta e três votos a favor; treze contra; dez abstenções. Depois, o dia em que David Ben-Gurion proferiu as palavras que muitos, e há muito, esperavam: “Proclamamos o estabelecimento do Estado judeu na Palestina, denominado Israel”. A seguir começou a guerra, a primeira de várias. A todas elas Shimon Peres dedica largas páginas deste livro, enaltecendo sempre o heroísmo dos israelitas e a importância de acreditar que a vitória seria possível quando todos os indicadores apontavam em sentido contrário.

 

O programa nuclear

Shimon Peres, já presidente de Israel, em 30 de Março 2011. Foto Chatham House/Wikimedia Commons

 

Foi durante a preparação de uma dessas guerras – a guerra do Suez, acertada com a França e o Reino Unido, depois de o Egipto ter nacionalizado o Canal do Suez – que Shimon Peres viu a oportunidade para o início do Programa Nuclear de Israel.

Estávamos a 24 de Outubro de 1956. Em Sèvres, enquanto eram ultimados os planos militares para a guerra, Peres estava na companhia de Ben-Gurion, a pouca distância dos dois franceses com mais poder nesta questão: o chefe da diplomacia e o ministro da defesa. Shimon Peres confessa ter sentido que era o momento perfeito para fazer com que Israel entrasse na era nuclear. Após o choque provocado nos interlocutores, que se retiraram para dialogar, a resposta positiva chegou apenas alguns minutos depois.

Peres sabia que na outra sala se discutia a guerra do Suez e o acordo implicava que Israel atacasse primeiro. Não muito tempo depois do início da construção das instalações nucleares, a desconfiança dos Estados Unidos levou Shimon Peres à presença do Presidente John F. Kennedy a quem, sobre as intenções israelitas, garantiu que não seriam “os primeiros a introduzir armas nucleares na região”. Estava criada a “ambiguidade nuclear”, posição oficial de Israel. Não por acaso, o complexo onde está o reactor israelita (Dimona, deserto do Neguev) foi renomeado Centro Shimon Peres de Investigação Nuclear do Neguev. Peres diz que contou a muita gente que construiu Dimona “para chegar a Oslo”, o acordo de paz com os palestinianos.

Outro aspecto que o livro evidencia é a importância que tiveram os judeus, em vários locais e momentos, quando Israel precisava de apoio. Um desses momentos foi em Paris, onde um judeu argelino a trabalhar no gabinete do primeiro-ministro francês agilizou os contactos para que o governo francês vendesse armas a Israel; outro, também em Paris, depois de já ter acesso ao mundo da política francesa, quando jantava em casa do chefe do Estado-maior do Exército sentado ao lado da mulher do militar – a senhora disse-lhe que não precisava de justificar as intenções e a presença no jantar, arregaçou a manga da blusa e mostrou-lhe o antebraço tatuado com um número do campo de concentração onde estivera.

Distinguido com o Prémio Nobel da Paz em 1994, na sequência dos Acordos de Paz de Oslo, Shimon Peres dedica o último capítulo deste livro à questão da paz. A paz com o Egitpto é referida de “raspão”, mas a relação com a Jordânia e com os Palestinianos é abordada com algum detalhe.

 

O ministro a lavar a louça e o rei a secar

Shimon Peres, então ministro dos Negócios Estrangeiros, de Israel, recebido pelo rei Hussein, da Jordânia, 2m 26 de Outubro de 1994: no primeiro encontro entre ambos, Peres chegou a imaginar a cena de um a lavar a louça e outro a secá-la. Foto Yaakov Saar/GPO Israel/Wikimedia Commons

 

Shimon Peres defendia uma solução tripartida: Estado de Israel, Reino da Jordânia e uma entidade conjunta na Cisjordânia (para os Palestinianos) com um Parlamento para gerir assuntos locais. A solução dois Estados não estava no horizonte de Peres.

Israel não tinha relações diplomáticas com a Jordânia e Shimon Peres pediu a um advogado amigo para tentar marcar um encontro discreto, em Londres, com o rei da Jordânia. Para surpresa de ambos, o rei Hussein aceitou. Em Abril de 1987, Peres e o rei encontram-se em Londres, para um almoço em casa do advogado britânico. Peres confessa-se surpreendido pela atitude de Hussein: descreve uma conversa em inglês e entre amigos.

Foi de tal modo que o rei propôs que ele e Peres lavassem a loiça, uma vez que a mulher do advogado britânico tinha feito a refeição e seria então a vez de os convidados fazerem alguma coisa, porque todos os empregados tinham sido dispensados de modo a garantir o sigilo do encontro histórico. O entusiasmo de Shimon Peres chegou para que imaginasse a cena em que o rei da Jordânia secava a loiça depois de lavada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel. A cena não se concretizou porque a dona da casa não permitiu.

O encontro foi de tal modo frutuoso que acabou, nesse mesmo dia, com um acordo entre os dois políticos e, posteriormente, com os Estados Unidos a serem chamados para se apresentarem como os autores da proposta, o que permitia esconder as negociações secretas. O plano seria estragado com a intervenção do primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Shamir e com Peres e Hussein a sentirem-se traídos.

A possibilidade de regressar aos planos de paz é recuperada com o regresso dos Trabalhistas ao poder, em 1992: Yitzhak Rabin, primeiro-ministro, e Shimon Peres, ministro dos Negócios Estrangeiros. A União Soviética desmoronara-se e o paradigma do Médio Oriente estava também a mudar.

Com a opção jordana manchada pelo falhanço do Acordo de Londres, era importante avançar na frente palestiniana. Shimon Peres refere-se sempre à Organização de Libertação da Palestina (OLP) como um colectivo de organizações terroristas, muito violento, que pretendia destruir Israel. Em relação a Yasser Arafat, escreve Shimon Peres, era “antes de tudo, um terrorista, um assassino de crianças”, com quem era difícil imaginar qualquer conversa.

Apesar de tudo, Peres reconhece que a OLP era a principal representante do povo palestiniano e Arafat o seu líder. De forma pragmática, escreve: “Nenhum processo de paz pode iniciar-se até os inimigos estarem dispostos a envolver-se um com o outro.”

As conversações directas com a OLP começam no início da década de 1990 através de um canal não governamental e ganham força quando Abu Ala’a (Ahmed Qurei) se junta aos trabalhos. Era um homem da máxima confiança de Yasser Arafat e será ele a desbloquear o impasse ao mostrar disponibilidade para fazer concessões.

 

Um aperto de mão histórico, um assassínio na sombra

Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin, depois de receberem o Prémio Nobel da Paz 1994, em Oslo: o então primeiro-ministro Rabin seria depois assassinado por um extremista judeu. Foto: Saar Yaacov/GPO Israel/Wikimedia Cmmons.

 

Shimon Peres diz que agarrou a oportunidade de fazer avançar as negociações em Oslo e enviou o director-geral dos Negócios Estrangeiros com propostas concretas. Em Agosto de 1993, Yasser Arafat anuncia estar pronto para assinar uma declaração de princípios. A 13 de Setembro de 1993, em Washington, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat deram um aperto de mão. E a 25 de Julho de 1994, Israel e Jordânia assinam o pacto de não-beligerância entre os dois países.

Este período da História de Israel fica ensombrado pelo assassinato de Yitzhak Rabin. Shimon Peres admite que foi após a assinatura dos Acordos de Oslo, e perante a violência que se lhe seguiu, que construiu uma admiração genuína por Rabin, descrito como um homem de muita coragem que nunca retrocedeu nas suas convicções independentemente do preço pessoal a pagar. E foi no dia em que Peres afirma que nunca tinha visto Rabin tão feliz que ele acabou por ser assassinado.

À saída de um comício pela paz, em Tel Aviv, Rabin seria alvo da fúria de um extremista judeu. Peres diz que ainda se recorda do som da rápida sucessão de três tiros que mataram o então primeiro-ministro de Israel.

Do legado da dupla Peres/Rabin (antes de a direita chegar e continuar no poder até hoje, com um interregno inferior a dois anos de liderança de Ehud Barak), Shimon Peres destaca os Acordos de Oslo, porta pela qual passa o actual desenvolvimento de Israel, com abertura de embaixadas e relações com antigos inimigos e a relação económica com países do Médio Oriente. O homem que começou por defender a solução tripartida acaba a admitir que a solução de dois estados é o único modelo com hipótese de ser bem sucedido. E lembra também que para se acreditar no princípio fundamental de que todos nascemos à imagem de Deus, um Estado judaico tem de abraçar a democracia, que exige igualdade total entre judeus e não-judeus.

O registo deste livro é algo comum a outros livros que enaltecem a epopeia de Israel: os pioneiros chegaram a uma terra onde metade era deserto e não tinha riquezas no subsolo. Contrariando a perspectiva de um final nada feliz, os israelitas transformaram o território e construíram um Estado desenvolvido e temido pelos vizinhos. Não foi uma escolha, escreve Shimon Peres, foi uma necessidade, a provar que não há sonhos impossíveis.

Filosofia sempre enaltecida é a Chutzpah, que se pode traduzir por pensar fora da caixa, pensamento audaz, assumir riscos e, até, alguma arrogância. Foi esse também o percurso de Shimon Peres, começando num Kibutz com agricultura de subsistência e terminando apaixonado pela nanotecnologia e pela neurociência.

Todos os nomes de Israel que nas últimas décadas nos habituámos a ver referidos nas notícias, passam nas páginas deste livro.

Shimon Peres desempenhou funções os mais altos cargos do Estado, de primeiro-ministro a ministro dos Negócios Estrangeiros e ministro da Defesa. Na parte final da vida, foi Presidente da República. Foi primeiro-ministro a meio da década de 1980 quando Israel passou de um sistema de economia socialista para um sistema capitalista, logo depois de um crash da Bolsa de Tel Aviv e quando o valor da inflacção estava em três dígitos.

Pomba ou falcão? O próprio Shimon Peres aborda o assunto com a consciência das leituras contraditórias a que o seu percurso dá azo. Diz que foi sempre o mesmo, mas as circunstâncias foram mudando: “Quando Israel era fraco, trabalhei para o tornar feroz. Mas assim que se fortaleceu, entreguei-me à paz.”

 

Não há Sonhos Impossíveis
– Liderança, coragem e determinação para um futuro de paz no Médio Oriente
Autor: Shimon Peres
Matéria-Prima Edições, 248 páginas, € 17,50

José Manuel Rosendo é jornalista da Antena 1 e tem acompanhado com especial atenção a situação do Médio Oriente

 

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