O menino que não se cansa de nascer

| 2 Jan 2023

natal presepio liberiano foto direitos reservados

Presépio liberiano. “Não será também que nós é que nascemos cada ano como pais e mães de todos os filhos?”  Foto: Direitos reservados.

 

E sempre nas vésperas do Ano Novo. Para o começarmos com a esperança e carinho próprio de quem embala o seu filho querido. O nosso filho querido e amoroso, mesmo que esteja rabugento. Como todos os filhos: não são nossos mas filhos e filhas da Vida (leia-se o poema de Khalil Gibran sobre “As Crianças”, na sua obra O Profeta).

Não será também que nós é que nascemos cada ano como pais e mães de todos os filhos? Como responsáveis do seu crescimento, felicidade, desenvolvimento emocional, intelectual e espiritual? Sem esquecer a capacidade de se dedicarem a profissões que os realizem com o maior prazer e que por sua vez contribuam para a realização de todos os membros da sociedade. Como a de carpinteiro – como poderá ter sido a do menino agora em questão; não admira que, com tanto serrar, martelar e pintar, tenha aprendido a distinguir a boa da má madeira e também a saber aproveitar as rachas, as arestas e outras formas da criatividade da natureza; tal e qual como mais tarde valorizou as formas únicas e criativas de cada ser humano.

Lá pela última década do século passado, celebrei o Natal com um casal amigo. A filha deles, com a aparência de uns oito anos, ao admirar o presépio e escutar a melhorada versão desse acontecimento de todos os anos, não se conteve e exclamou: “Mas este miúdo nunca mais acaba de nascer?”.

Não é fácil dar a entender. Mas por que é que dizemos que nascemos a cada dia e morremos a cada noite, para voltar a nascer? Ou que morremos com o Ano Velho e nascemos com o Ano Novo?

O menino em questão foi sempre rodeado de mistério. As próprias lendas sobre a sua infância (algumas transparecem nos evangelhos de Mateus e Lucas e noutros livros sagrados como o Alcorão) embalaram a imaginação de grande parte da Humanidade e estão profundamente presentes na arte e organização cultural da civilização europeia. O culto de um menino, símbolo da fragilidade e pequenez que se transforma em verdadeira autoridade e símbolo da Vida plena, encontra-se em muitos rituais e histórias sagradas de várias religiões, como em muitas festas populares. Aliás, não é este o sentido do acolhimento festivo de um novo bebé em cada família?

A Humanidade é produto de todos os meninos que puderam resistir ao egoísmo e poder de destruição dos que deixaram de “ser meninos”. É produto do mistério da força da Vida.

E procurando ser honestos, não devíamos dizer que cada ser humano é um mistério? E que toda a existência, toda a “imensidão” (=não mensurável, incompreensível) do Universo é um mistério?

Este menino não se cansa de nascer porque em todas as peripécias da vida se foi unindo cada vez mais profundamente ao mistério de Deus. Porém, Deus não é um mistério: Deus é o mistério. O Homem é um mistério, o Universo um mistério… porque “se movem e existem” dentro de o mistério. E o menino de hoje aprendeu a saborear em tudo esse único e total mistério: na dor e prazer, tristeza e alegria, vida e morte e, sobretudo, na inquietante e inextrincável questão do Bem e do Mal. São mistérios que nos alertam para o mistério: de que não parece possível falar adequadamente, mas do qual nada pode ser mais real. Não compreendemos como é, embora saibamos que é.

Como diz Albert Nolan em Jesus hoje, “em certo sentido, Deus é o carácter misterioso de todas as coisas”: “eu não estou fora do mistério de todas as coisas” e devo-me incluir “no mistério ao qual chamamos Deus”. Jesus de Nazaré ficou na História porque encarnou espantosamente a relação e união do ser humano com Deus. Podemos dizer que é este o núcleo dos vários sistemas religiosos.

O menino Jesus preparou-se para ensinar que Deus (um nome que damos ao mistério) não era o grande soberano todo-poderoso, longínquo, punitivo e exigindo obediência cega. Nem deu a ninguém dores de cabeça para se pensarem coisas muito altas e recônditas. Preferiu, sim, contar pequeninas histórias baseadas na vida de todos os dias, que acordavam toda a gente para saber curar o que mais amargava o coração. E que até podíamos representar a Deus como a perfeição total da pessoa humana: como Pai tão perfeito que possui todo o amor de Mãe. Ensinou-nos a cultivar a Força e Coragem para discernir e seguir o Bem.

E é por isso que todos os anos celebramos “o menino que não se cansa de nascer” – para que nunca nos cansemos de crescer.

 

Manuel Alte da Veiga é professor aposentado do ensino universitário.

 

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