O Portugal dos Pequenitos e a Jornada Mundial da Juventude

| 12 Fev 2023

Casas no Portugal dos Pequenitos, em Coimbra. Foto © Carlos Luis M C da Cruz / Wikimedia Commons

Casas no Portugal dos Pequenitos, em Coimbra. Não há grande evento que não gere polémica, mas é preciso saber comunicá-lo bem. Foto © Carlos Luis M C da Cruz / Wikimedia Commons

 

Em Coimbra existe uma estrutura de lazer, o Portugal dos Pequenitos, que possui umas dezenas de pequenas reproduções de edifícios que podemos encontrar em diversos pontos do país.

Pela sua dimensão, apenas as crianças conseguem entrar em cada uma, não obstando a que muitos adultos se agachem para, a partir de pequenas janelas, se rirem efusivamente para quem do exterior os observa.

No mesmo local existe uma creche do mesmo proprietário, a Fundação Bissaya Barreto.

A mesma Fundação fez erigir e colocar em funcionamento em 1963 um extraordinário complexo que incluía maternidade, consulta externa de obstetrícia e ginecologia, creche com internamento para crianças institucionalizadas e de dia.

No complexo foram deixadas árvores e criado um jardim. Um enorme e interessante parque infantil com piscinas adequadas torna o local ímpar, mesmo para os dias de hoje.

Na entrada Sudoeste, na parede do edifício, estão plasmados os direitos da criança, em azulejos Aleluia de 1958, que a Convenção da ONU viria a aprovar em 1959.

A construção daquele complexo foi sempre muita contestada; logo que foi anunciada, havia quem quisesse ali uma instalação desportiva, retardando o início das obras, que só não se concretizou porque os fundos foram canalizados com urgência para a nova Associação Académica.

Quando o projecto se tornou público não faltaram críticas de personalidades e da população que achava ser esbanjador a construção de tais instalações, sobretudo das piscinas e das novas valências de maternidade e refúgio – “as crianças pobres não precisavam de tanto”.

Também ressoaram críticas veladas, na imprensa de então, ao painel com os Direitos da Criança.

Muitos conimbricenses conhecem aquele espaço e foi através do painel que ficaram a conhecer a Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Clamava-se então que os fundos a utilizar no complexo tivessem outros destinos, como alimentar os pobres e construir-lhes habitação, apelando aos sentimentos de humanidade sem outras perspectivas de desenvolvimento social.

A obra foi feita e tem sido francamente utilizada, com serviços de qualidade, que muito beneficiaram a população.

Esta memória surge-me no momento em que tantas críticas são apontadas à realização da Jornada Mundial da Juventude, muitas vezes com argumentos oportunistas ou falhos de verdade.

Os responsáveis da Igreja Católica pela organização deste evento não têm estado à altura da sua concretização, parecendo que por arrogância ou desmazelo não levaram em conta as experiências noutros países.

A organização, que é local e de que o Vaticano se desmarcou, não deu informação à população e fez opções megalómanas que, mesmo com correcções, já provocou danos suficientes à iniciativa e à própria Igreja.

Não sou católico, mas desde o início que tenho acompanhado a organização da JMJ, até porque alguns amigos têm feito um trabalho notável nas suas paróquias.

Eu acredito nesta iniciativa e na sua importância em todos os âmbitos.

Jovens de todo o mundo podem encontrar-se segundo a sua fé e conhecer o nosso país; as famílias portuguesas que aderirem podem receber esses jovens em suas casas; mais tarde muitos voltarão; Não só a autarquia de Lisboa, como todas as outras onde vão ocorrer eventos, podem aproveitar para melhorar as suas estruturas; a Igreja Católica em Portugal experimenta um momento histórico que pode aproveitar para se reencontrar e melhorar.

Entretanto, muitas pessoas vão achincalhando a JMJ e descobrimos que grande parte da população se considera economista, engenheiro, geógrafo, sociólogo, leitores de jornais e até filantropo; antes, como hoje, somos um “Portugal de pequenitos” duendes que acreditam em magia e no imediato sem perspectivar o futuro.

Deixo, a terminar, o pensamento de dois ilustres portugueses:

O tempo (como o mundo) tem dois hemisférios: um superior e visível, que é o passado, outro inferior e invisível, que é o futuro. No meio, entre um e outro hemisfério ficam os horizontes do tempo, que são estes instantes do presente que imos vivendo, onde o passado se termina e o futuro se começa.”

(P. António Vieira, História do Futuro, 1718)

O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás, que sejam sempre erradas. Por natureza, forma o povo um bloco, onde não há mentalmente indivíduos; e o pensamento é individual.”

(Fernando Pessoa, Notícias, 12-08-1928)

 

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