
“O sínodo não é só para salvar a Igreja; é também para salvar o mundo”, disse o cardeal Mario Grech, em Braga. Foto © 7MARGENS / Manuel Pinto.
A autêntica sinodalidade não consiste em organizar sínodos, quer universais quer locais, até porque pode haver sínodo sem sinodalidade e, do mesmo modo, sinodalidade sem sínodo. A afirmação cabe ao cardeal Mario Grech, que veio de Roma para visitar a diocese de Braga, onde deu uma conferência no Espaço Vita, na noite de quinta-feira, dia 15.
Intitulada “Sinodalidade, forma e estilo da Igreja”, a conferência adquiria especial significado, visto que o conferencista é nada menos do que o secretário-geral do Sínodo, que tem estado a dinamizar, desde há mais de um ano, a Igreja Católica no seu todo (o presidente é o próprio Papa).
Mario Grech explicou que falar de “estilo” sinodal é falar de um modo de viver e de ser Igreja, que se traduz na sua quotidianidade. Não é, por conseguinte, algo de excecional ou extraordinário, mas de ordinário. “Não se trata primordialmente de fazer reuniões ou outras atividades, mas de sair da rotina, da apatia e da indiferença”.
O cardeal foi mais longe e, adaptando uma expressão do teólogo alemão Christoph Theobald, observou que o estilo da sinodalidade pode ser apresentado como “o modo tipicamente cristão de habitar o mundo”. Daí que “toque a profundidade do vivido da Igreja” e requeira “uma reforma da própria identidade da vida eclesial”. Nessa medida, o Sínodo e a sinodalidade poderão constituir não apenas uma resposta para a Igreja, mas também para o mundo: “o sínodo não é só para salvar a Igreja; é também para salvar o mundo”, disse.
Referindo-se à fundamental igualdade de todos os batizados, o secretário-geral do Sínodo sublinhou, mais adiante, que é essa igualdade que faz com que nenhum dos batizados seja inútil na e para a Igreja e que todos são convocados para a missão. “Seria preocupante que o papel missionário fosse uma tarefa para agentes especiais, qualificados, já que é o batismo comum que qualifica para essa tarefa”, realçou.
Mario Grech acrescentou também, nesta linha, que a sinodalidade não é um conjunto de ideias ou de desejos, mas implica processos colaborativos e uma conversão permanente, que é transversal a todos os níveis, desde o Papado até ao laicado.
A parte final da conferência dedicou-a o purpurado à dimensão espiritual da sinodalidade, que disse ser decisiva, já que, “sem o Espírito Santo, não se muda”. A sinodalidade – fez ainda notar – exige conversão interior, um caminho espiritual feito de oração, silêncio e discernimento”, sem o qual a escuta do outro e o discernimento comunitário se debilitam.
Braga abre-se a contributos para a fase continental do Sínodo
Seguiu-se um período de perguntas e respostas, após o qual o coordenador diocesano da equipa sinodal, o padre Sérgio Torres, deu algumas informações sobre o envolvimento da arquidiocese na etapa continental do Sínodo, com vista a dar um contributo para a assembleia europeia, que terá lugar em Praga (República Checa), de 5 a 12 de fevereiro de 2023.
A auscultação terá um âmbito mais limitado e não se busca uma síntese do tipo da auscultação da primeira fase do Sínodo. Ainda assim, a equipa diocesana aceita contributos, nomeadamente de grupos sinodais, até 15 de janeiro de 2023. As perguntas orientadoras dos contributos constam do ponto 106 do Documento para a Etapa Sinodal, intitulado “Alarga a tua tenda”. Todas essas informações constam da página dedicada ao Sínodo em Braga, onde se encontra também a “porta” para o envio dos contributos.