
Relatório de Portugal para o Sínodo: “Estamos no nosso país com dioceses que nem sequer ainda cumprem o anquilosado direito canónico.”
Desde que começámos a falar em “sinodalidade” na Igreja Católica que este termo saltou para o comum das reflexões quotidianas e, tendo um sentido oposto aos poderes do clericalismo, que se tentou e tenta – na minha opinião – o essencial de viver em comunhão, de viver em Sínodo. Numa igreja maioritária – como a Igreja Católica Romana, em Portugal, e diga-se, também, nas minoritárias – o conceito sinodal passou a ter duas possibilidades: ou se luta contra ele ou se apropria e distorce, a fim de que o possamos incluir afinal não numa Igreja de comunhão, mas prosseguindo o caminho até agora seguido do clericalismo mais feroz que elimina toda a noção de Igreja, como manancial do evangelho de Jesus.
Estamos no nosso país com dioceses que nem sequer ainda cumprem o anquilosado direito canónico: já pensaram quantas paróquias existem sem conselhos económicos (Fábrica da Igreja) e conselhos pastorais vicariais e paroquiais? Já se pensou que onde existem esses conselhos são porque o pároco quer, sendo quase sempre composto pelas mesmas pessoas? Isto não é sinodal! Nem sequer estes organismos e outros existentes nas paróquias lhe dão uma atividade abrangente, até porque têm sempre no pároco ou responsável máximo a última palavra.
Os assuntos são levados aos conselhos pelo pároco, que os convoca quando quer. Estamos numa organização – a Igreja – que pretende superar a democracia, não pelo número de votos, mas por uma conjugação de fatores que levam os crentes a decidirem de comum acordo. É evidente que não é bem assim, quantas decisões se tomam pelo número de votos? Mas quantas! Até o próprio papa é eleito pelo número de votos de uns tantos, que tantas vezes não representam absolutamente nada.
Há algumas semanas um pároco deste nosso Portugal, que costuma fazer uma notícia das suas atividades diárias no Facebook, afirmava assim os seus inúmeros trabalhos diários: desde os funerais – a sua paróquia tem diáconos – aos três em cada dia, até, veja-se e espante-se, as pinturas exteriores do seu templo, como se existisse uma “teologia da construção civil” própria e os leigos não pudessem fazer esse trabalho. Mas ia dizer eu, que ao dar conta de um desses trabalhos que faz diariamente, aparece um lúcido leitor a dizer que o senhor pároco poderia entregar a leigos algumas das atividades. Sabem qual foi a resposta? Aí vai: “É o que procuro fazer. Mas os leigos precisam de quem oriente, forme, acompanhe, dê conteúdo, reze, anime!” Ora isto nada tem a ver com sinodalidade, mas com o seu contrário. Nem que seja na construção civil ou contabilidade, o pároco tem de orientar (Teologia da Contabilidade), formar (Teologia do Formatar), acompanhar (Teologia da Confiança), dar conteúdo (Teologia da Sabedoria). Isto não é, nem nunca foi sinodal, antes Teologia do Amarfanhamento.
Não estou a dizer mal de tudo, como nada se aproveite; estou só e somente a dar a minha opinião livre de filho de Deus, sobre o que não entendo ser sinodal. E por isto, por dizer o que penso, aliás no cumprimento do apelo de Francisco, para que todos e todas digam o que pensam, é que estou no grupo das persona non grata, como atualmente. Mas uma coisa será certa: o Espírito do Senhor está aí, e por mais que não queiram, mais cedo ou mais tarde soprará um vento, esse sim sinodal.
Joaquim Armindo é diácono católico da diocese do Porto, doutorado em Ecologia e Saúde Ambiental.