
“Importa continuar o caminho – a Igreja com cada um/a de nós.” Foto retirada da página do Facebook do Caminho Português da Costa.
Jesus foi uma contradição. Contrariou todas as expectativas desde o seu nascimento. Os judeus esperavam um messias à sua imagem e semelhança, todo-poderoso, rei dos judeus (rei deste mundo).
Jesus começou por nascer como um sem-abrigo, nem casa teve, nem sequer um quarto. Foi perseguido e teve de fugir. Comeu com todos, era amigo dos mais frágeis, dos excluídos do seu tempo. Acolheu todos, começando pelos últimos, pelos rejeitados, pelos considerados impuros. Tocou nos intocáveis, curou os doentes que naquele tempo eram excluídos da sociedade. Fez-se companheiro de caminho dos pescadores e de homens comuns. Foi amigo das mulheres que foram também suas discípulas. Não fez qualquer acepção de pessoas. Com os sacerdotes do Templo não teve vida fácil e foi por eles mandado matar.
A Igreja (enquanto instituição) esquece-se muitas, muitas vezes de Jesus, do seu testemunho, da sua mensagem. Parece gostar de estar bem com os poderes deste mundo e esquece frequentemente os mais fragilizados e marginalizados. Tem mais facilidade em estar com os ricos do que com os pobres e os excluídos. Decide quem pode e não pode viver em comunhão com Jesus no seio da Igreja, ou seja, arroga-se do direito de se sobrepor à consciência de cada cristão. Ignora uma economia para as pessoas nas suas instituições de universitárias e alia-se à «economia que mata».
O Papa Francisco vem insistentemente confrontando a Igreja, instituições e cristãos em geral, com esta postura e denunciando a contradição com a sua origem e fundamento.
A Igreja ou é o conjunto de homens e mulheres que acreditam no Deus de Jesus Cristo, que querem viver segundo o seu testemunho e mensagem, como discípulos, ou não é nada. Pior, é um contra-sinal do que Jesus nos pede.
O Papa convocou o sínodo pedindo e criando um processo de escuta, de reflexão, de encontro. Uma alteração do caminho de toda a Igreja nas suas várias dimensões e realidades, instituições e crentes. Pede que passe ao diálogo, à escuta, a uma conversão verdadeira a Jesus, à coerência entre o que se diz e o que se faz.
Antes do início da assembleia-geral do Sínodo sobre a sinodalidade, pensei para mim mesma: Acredito no Espírito Santo, que Ele sopra onde quer e àqueles/as que lhe abram o coração. Tenho esperança de que o diálogo nesta primeira assembleia do sínodo possa abrir mentes e corações, fazer reflectir inteligências e principalmente criar abertura à inspiração do Espírito. Não tenho grandes esperanças imediatas, porque a mudança das sociedades, dos homens e das mulheres, é lenta, tem muitas resistências, hábitos e «crenças» profundamente instaladas. Mas tenho Esperança de que os homens e mulheres de boa vontade, que estarão reunidos, consigam abrir-se à acção do Espírito, porque acredito que Jesus estará realmente no meio deles. Tenho Esperança que o Espírito os ilumine por uma Igreja que seja mais simples, mais próxima de Jesus, um espaço de acolhimento, de encontro de todos os que têm vontade de viver na verdade, de construir a justiça, de defender os pobres e injustiçados, de reconhecer de facto igual dignidade de todos e cada um/a, de construir uma vida colectiva melhor, baseada no respeito por cada um, onde «Todos, Todos, Todos» tenham um lugar em paz.
A primeira assembleia sinodal, entretanto, já se realizou e, pelos ecos que vão chegando, continuo a ter Esperança. Importa continuar o caminho – a Igreja com cada um/a de nós.
Isabel Viseu é Assistente social, reformada.