
“Sínodo dos Bispos é dos Bispos, não é da Igreja, por muito esforço que façam para levar assuntos que a Igreja lhes coloca. Um Sínodo da Igreja, onde todos pudessem estar representados, seria diferente.” Foto: © Sugerida pela FEC, s/ créditos
Está a Igreja Católica Romana a caminhar para mais um Sínodo dos Bispos, a acontecer em 2023, e para isso toda uma máquina funciona no sentido da obtenção de mais diretivas ao serviço do Evangelho. Vamos lá lembrar o que está a acontecer: já não é a primeira vez que se realiza um Sínodo dos Bispos para refletir sobre algumas questões colocadas, sem que, no entanto, se sintam alterações substantivas ao funcionamento da Igreja, dando vitalidade ao seu caminhar.
Houve mesmo um cujo tema era os jovens, que tiveram oportunidade de darem os seus contributos, mas as consequências desse sínodo foram quase nulas. Talvez pelas práticas que se têm verificado ao longo destes sínodos é agora convocado um para reflexão sobre a sinodalidade, estando, espero, a desenvolver-se em todas as paróquias e movimentos os indispensáveis contributos para os bispos sentirem o pulsar da Igreja e decidirem em ordem ao que mais for da sua opinião.
Esperemos que o Espírito do Senhor esteja presente e ilumine as mentes dos bispos para decidirem de acordo com aquilo que a Igreja necessita para os dias de hoje. É louvável aquilo que o bispo de Roma e Papa Francisco tem proposto para o caminho de uma Igreja sinodal, e todo o movimento que se poderá sentir no envolvimento dos cristãos e dos não-cristãos nos assuntos a discutir. Porém, este não é um Sínodo da Igreja, mas um Sínodo dos Bispos da Igreja, o que constitui uma diferença inevitável. Não estou a dizer que o bispo de Roma não preferisse um Sínodo da Igreja, mas que este não o é.
Os bispos, por muita consideração que possamos ter deles, não representam nem o restante clero, nem a maioria dos milhões dos cristãos e das cristãs. Destas, então, não representam nada. Os sínodos partem sempre de ideias já congeminadas, não aparecem do nada. Veja-se o Sínodo da Amazónia: o que lá se discutiu e aprovou e aquilo que foi levado à prática; isto não é uma condenação de ninguém, mas sim uma constatação de uma realidade centrada, ainda, numa cúria central, com várias cúrias descentralizadas, as dioceses, que obedecem sempre a ideias conservadoras e obstrutivas do caminhar da Igreja sinodal.
Os catecismos e os direitos canónicos aí estarão para balizar os acontecimentos e as prospetivas a sair dum Sínodo dos Bispos, que não deixam de ser bispos e levarão para a reunião sinodal as suas opiniões, mais do que aquilo que os milhões de cristãos – onde chegar uma reflexão não-orientada – fizerem proclamar. Lembra-me sempre que uma ocasião onde se refletia as orientações do chamado “sínodo dos jovens” ao perguntarem ao senhor padre orientador da reunião qual era a opinião sobre a “ideologia do género”, não se coibiu de dizer que esse assunto não era discutível. Ora, por mais que possamos estar de acordo e tal assunto não ser do nosso parecer favorável, isso não significa que se anule a sua discussão. Então o sínodo não pretendia discutir tudo com todos?
O Sínodo dos Bispos que se vai realizar é realmente um Sínodo dos Bispos, levando pareceres – quando levam –, dos leigos. E isso, quer queiramos, quer não, não é um Sínodo da Igreja. Separemos as águas, Sínodo dos Bispos é dos Bispos, não é da Igreja, por muito esforço que façam para levar assuntos que a Igreja lhes coloca. Um Sínodo da Igreja, onde todos pudessem estar representados, seria diferente.
Joaquim Armindo é diácono católico da diocese do Porto, doutorado em Ecologia e Saúde Ambiental.