O valor do fracasso

| 21 Out 2022

Foto: Jacopo Tintoretto (1519-1594): Cristo lava os pés aos discípulos. Galeria Nacional, Londres

 

De acordo com a filosofia do nosso tempo ninguém quer aparecer como fracassado ou falhado perante a sociedade. A miragem do sucesso predomina, mas a vida é sempre feita de sucessos e fracassos.

Muitas pessoas lutam para ter o melhor carro, a melhor casa ou os filhos mais inteligentes. Ninguém quer fracassar na família (apesar dos divórcios, dos filhos desencaminhados ou da violência doméstica), nem na vida profissional (apesar do desemprego) ou em qualquer outra área.

Mas a vida real é outra coisa. Vejamos sete exemplos de homens e mulheres famosos que começaram por experimentar o fracasso: Albert Einstein, um dos maiores cientistas de todos os tempos: teoria da relatividade (começou a falar muito tarde; na escola tinha notas baixas e os professores disseram que nunca seria grande coisa); Michael Jordan, um dos maiores atletas do mundo, no basquetebol americano (ao ser descartado da equipa da escola foi para casa, trancou-se no quarto e chorou); Walt Disney, um dos maiores criativos de todos os tempos (foi demitido do jornal onde trabalhava por “falta de imaginação” e por “não ter ideias originais”…); Steve Jobs, o fundador da APPLE, uma das maiores companhias de informática do mundo (com 30 anos de idade foi demitido da companhia que tinha fundado, tendo-se sentido devastado e em depressão); Oprah Winfrey, uma das mulheres mais ricas da América, com um programa de televisão dos mais famosos no mundo e dona duma companhia de televisão (quando era jovem foi posta em causa no seu emprego na televisão, porque “não foi feita para a televisão”…); Os Beatles, uma das maiores bandas de todos os tempos, talvez mesmo a maior (no início foram rejeitados por uma das maiores editoras de discos – a Decca Recordings Studios – que disseram: “Nós não gostamos do som deles, eles não têm futuro no show business”…); J. K. Rowling, criadora do Harry Potter, tendo ganho inúmeros prémios literários e com mais de 500 milhões de cópias vendidas (tentou doze editoras para publicar o seu primeiro livro, e todas o rejeitaram).

 Qual é então o valor do fracasso? Desde logo ajuda-nos a reflectir sobre o que correu mal e a corrigir procedimentos, depois ensina-nos a apurar os nossos dons e talentos. Em terceiro lugar auxilia-nos a entender que somos fracos e dependemos de Deus, e por último ajuda-nos a centrar na nossa relação com Deus e na nossa missão no seu reino.

Se olharmos para exemplos de figuras bíblicas vemos como a maior parte delas falharam nalgum momento da sua vida. Pensemos especificamente no caso de Pedro. Entre outras vezes, Pedro falhou quando disse que não deixaria Jesus ir à cruz: “Então mandou aos seus discípulos que a ninguém dissessem que ele era Jesus o Cristo. Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mateus 16:20-23).

 Também disse que não deixava Jesus lavar-lhe os pés: “Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus. Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim? Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois. Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo. Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” (João 13:3-9).

 E ainda negou o Mestre três vezes: “Então, prendendo-o, o levaram, e o puseram em casa do sumo-sacerdote. E Pedro seguia-o de longe. E, havendo-se acendido fogo no meio do pátio, estando todos sentados, assentou-se Pedro entre eles. E como certa criada, vendo-o estar assentado ao fogo, pusesse os olhos nele, disse: Este também estava com ele. Porém, ele negou-o, dizendo: Mulher, não o conheço. E, um pouco depois, vendo-o outro, disse: Tu és também deles. Mas Pedro disse: Homem, não sou. E, passada quase uma hora, um outro afirmava, dizendo: Também este verdadeiramente estava com ele, pois também é galileu. E Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo. E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes. E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente” (Lucas 22:54-62). Mas apesar de tudo veio a ser uma coluna da Igreja! A lição a retirar é que o fracasso pode ser meio caminho para o sucesso!

Nós não somos melhores do que Pedro. Se acaso falhámos em qualquer dimensão da vida só temos que aprender com os erros próprios e os dos outros, para que no final possamos dizer como Paulo: “pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (v10).

 

José Brissos-Lino é director do mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e director da revista teológica Ad Aeternum.

 

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