
Nyanchau Teny, de dois anos, em Rumbek, Sudão do Sul, a beber uma infusão de folhas de árvore que permite tratar tosse, diarreias e vómitos, resultados da má nutrição. Foto © UNHCR/Rocco Nuri
Um enviado especial da Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu uma ação imediata sobre a crise alimentar que afeta o mundo, numa reunião organizada pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Sobre a mesa esteve a discussão da crise alimentar global que a guerra na Ucrânia exacerbou e trouxe à tona, mas também pistas e soluções uma vez que, para este responsável, citado num comunicado do CMI, a humanidade pode e deve tomar medidas corretivas neste campo, no da justiça económica e da crise climática.
Numa reunião realizada com participantes de todo o mundo, especialmente de África, David Nabarro, enviado especial da OMS para a Covid-19, exortou as igrejas e os líderes comunitários da sociedade civil a tomarem medidas imediatas.
Para David Nabarro alertou: “Precisamos de agir para que não tenhamos que lembrar o ano de 2022 como o ano em que se produziu uma crise de civilização porque, após a pandemia, a humanidade não conseguiu encontrar uma forma de promover a equidade, a realização de direitos e o bem-estar, não só das pessoas, mas também do nosso belo planeta.” E completou: “Desta forma, poderemos oferecê-lo às gerações futuras como um lugar de esperança e crescimento.”
O enviado especial da OMS explicou que antecipou o atual estado das coisas em julho do ano passado, “ouvindo muitos ministros da Agricultura, que participaram numa reunião em Roma, dizendo um após o outro que isto não está a funcionar: as mudanças climáticas, a Covid-19 e os conflitos estão a colocar a segurança alimentar dos nossos povos numa situação verdadeiramente preocupante”.
Sistemas de comércio não funcionam
Para Nabarro, citado pela mesma fonte, os sistemas de comércio mundial não funcionam e os países dependem de importações devido à crise da Covid-19 e não podem obter os produtos de que precisam. “Devido às mudanças climáticas e à Covid-19, os agricultores, e especialmente os pequenos agricultores e pescadores, não conseguem produzir o que precisam”, apontou o responsável.
Já Marianne Ejdersten, diretora de Comunicações do CMI, estabeleceu a cronologia dos fatores que desencadearam a crise atual: “O mundo está a enfrentar uma crise alimentar desencadeada pela guerra num dos principais ‘celeiros’ do mundo, deixando muitos outros lugares a enfrentarem fome severa; no entanto, o planeta já estava a viver uma crise alimentar antes do início da guerra na Ucrânia.”
O cenário é pouco otimista, pintado com as letras mais carregadas: “Uma nova crise global está a surgir da guerra na Ucrânia, com o potencial de fazer milhões passarem fome, aumentar os preços dos alimentos e provocar distúrbios para além da zona de conflito.” E Marianne Ejdersten destacou que 811 milhões de pessoas deitam-se com fome todas as noites.
“Juntas, Rússia e Ucrânia respondem por mais de um quarto da oferta mundial de trigo que é exportada para países como o Egito, o Líbano, a Turquia, o Iémen e a Somália, entre muitos outros”, explicou Marianne Ejdersten. “Nesses países estão as populações mais vulneráveis do mundo.”
Por sua vez, Sofía Monsalve Suárez, secretária-geral da FIAN Internacional, uma organização internacional de direitos humanos sobre o direito à alimentação e nutrição, destacou que é fundamental analisar quando a crise começou.
“Poderíamos dizer que estamos em crise desde 2007, se nos lembrarmos da primeira grande crise alimentar que tivemos naquela época e das desigualdades em termos de controlo da terra e dos recursos naturais, bem como em termos de justiça fiscal, a questão da dívida — são todos exemplos das causas estruturais desta crise alimentar”, afirmou Sofía Suárez.