Abusos de poder e sexuais

Onze freiras rompem “o véu do silêncio”

| 24 Nov 2021

freiras religiosas abusos foto c hemera

Várias freiras referem situações reiteradas de “abusos de poder e abusos psicológicos ou emocionais, principalmente por meio de atos de crueldade, humilhação e negação de assistência médica ou psicológica”. Ilustração © Hemera.

 

“Não sei para onde ir, só quero seguir Jesus, e aqui não é possível …  porque sei que a minha congregação não se importa comigo”. O desabafo é de uma religiosa australiana que se diz abusada por um padre, em declarações reunidas num livro acabado de sair, com os relatos de violências por parte de 11 freiras.

O livro, intitulado Il Velo del Silenzio (O Véu do Silêncio),  é da autoria do jornalista italiano Salvatore Cernuzio, tem prefácio da irmã missionária Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo dos Bispos, e introdução do padre jesuíta Giovanni Cucci. Este último é professor de psicologia e filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, e escreveu há cerca de um ano um artigo que na altura causou impacto, no qual chamava a atenção da Igreja para uma problemática mais larga de abusos, presentes sobretudo em comunidades religiosas femininas.

Quem trouxe a matéria do livro a público foi a jornalista Cindy Wooden, da agência Catholic News Service, num artigo que o site da revista America, da Companhia de Jesus, acaba de publicar.

A ideia do livro surgiu há cerca de um ano, poucos dias depois de ter sido publicado o artigo de Cucci, quando o autor encontrou uma amiga de infância que tinha estado dez anos numa comunidade de freiras de clausura. Ainda magoada com o que lhe sucedera, acabou por contar-lhe que, ao fim desse tempo todo, um “tribunal” de irmãs mais velhas decidiu que ela não tinha vocação e mandou-a embora.

A amiga concordou em contactar outras mulheres com histórias semelhantes e assim surgiram as entrevistas que compõem boa parte de O Véu do Silêncio. Uma das ex-freiras conta que foi abusada sexualmente por um padre, mas que, ao contar o sucedido às superioras, elas concluíram que foi ela que o seduziu.

Várias referem situações reiteradas de “abusos de poder e abusos psicológicos ou emocionais, principalmente por meio de atos de crueldade, humilhação e negação de assistência médica ou psicológica”. No noviciado, por exemplo, eram obrigadas a “pedir permissão para fazer ou ter qualquer coisa – inclusive para tomar banho ou ter produtos higiênicos durante o ciclo menstrual”.

A religiosa que diz ter sido abusada por um padre, estando agora em busca de condições para abandonar a comunidade, comenta: “Como já ouvi tantas vezes: a culpa é sempre de quem sai (…). ‘Resguardar’ o bom nome da instituição religiosa é a prioridade, sacrificando a vítima”.

capa livro o veu do silencio velodelsilenzio_cover

O livro, intitulado Il Velo del Silenzio (O Véu do Silêncio),  é da autoria do jornalista italiano Salvatore Cernuzio.

No prefácio, a subsecretária-geral do Sínodo, Nathalie Becquart, citada no artigo que vimos seguindo, nota que a Igreja deve ouvir as vítimas deste tipo de abusos e reconhecer que “a vida consagrada em toda a sua diversidade, como qualquer realidade na Igreja, pode gerar o melhor ou o pior” nas pessoas.

“O pior é quando os votos religiosos são interpretados e implementados de uma forma que infantiliza, oprime ou mesmo manipula e destrói pessoas”, em vez de “um caminho de crescimento humano e espiritual, um caminho de amadurecimento que faz crescer a liberdade das pessoas porque a autoridade é chamada a promover a dignidade”, acrescenta.

Na introdução do livro, o padre Cucci chama, por sua vez, a atenção para alguns aspetos transversais aos casos das 11 mulheres entrevistadas. Um deles é “a tendência de algumas ordens mais tradicionais de manter o mesmo superior ou superiores no cargo por décadas, o que pode levá-las a “confundir a sua vontade com a vontade de Deus” para as irmãs na sua comunidade. Por outro lado, “confundem uniformidade com a unidade ou paz dentro da comunidade”, tratando qualquer forma de questionamento como “um desafio ao superior” ou mesmo “uma rejeição à vontade de Deus”.

 

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio

Prevista pena de morte

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio novidade

Uma nova legislação aprovada pelo Parlamento ugandês esta semana prevê penas de até 20 anos de prisão para quem apoie “atividades homossexuais” e pena de morte caso haja abusos de crianças ou pessoas vulneráveis associados à homossexualidade. O alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, já pediu ao presidente do país africano que não promulgue esta “nova lei draconiana”, mas os bispos do país, católicos e anglicanos, permanecem em silêncio.

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores

Após reunião com Comissão Independente

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores novidade

O Corpo Nacional de Escutas (CNE) suspendeu preventivamente um elemento suspeito da prática de abusos sexuais de menores, depois de ter recebido da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica a informação de sete situações de alegados abusos que não eram do conhecimento da organização. Em comunicado divulgado esta sexta-feira, 24 de março, o CNE adianta que “está atualmente a decorrer o processo interno de averiguação, para decisão em sede de processo disciplinar e outras medidas consideradas pertinentes”.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Em Lisboa

Servas de N. Sra. de Fátima dinamizam “Conversas JMJ” novidade

O Luiza Andaluz Centro de Conhecimento, ligado á congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, acolhe na próxima quinta-feira, 30 de março, a primeira de três sessões do ciclo de “Conversas JMJ”. Esta primeira conversa, que decorrerá na Casa de São Mamede, em Lisboa, pelas 21h30, tem como título “Maria – mulheres de hoje” e será dedicada ao papel da mulher na sociedade atual.

Além da montanha… existe um arco-íris

Além da montanha… existe um arco-íris novidade

Vi o livro no balcão do espaço de atendimento, no seminário dos Dehonianos, em Alfragide. A capa chamou-me a atenção. Peguei nele, folheei aleatoriamente e comecei a ler algumas frases. Despertou-me curiosidade, depois atenção e logo após interesse. (Opinião de Rui Madeira).

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This