
Detenções no gueto judaico, em Roma. Foto de arquivo, via jornal Avvenire.
O papel das ordens religiosas católicas na proteção de judeus durante a ocupação nazi de Roma já era conhecido, mas a redescoberta de um documento-chave que havia sido considerado perdido vem agora adicionar importantes detalhes à História. Trata-se de uma lista que mostra que, entre setembro de 1943 e junho de 1944, a Igreja abrigou 4.300 pessoas, das quais 3.200 eram judeus.
A lista, encontrada nos arquivos do Pontifício Instituto Bíblico de Roma, administrado pelos jesuítas, mostra que pelo menos 100 ordens religiosas femininas e 55 comunidades masculinas, bem como paróquias e outras instituições católicas, forneceram locais de refúgio durante a ocupação alemã da cidade, avança a revista America.
Sabe-se que, nesse mesmo período, pelo menos 2.000 judeus, incluindo centenas de crianças e adolescentes, foram mortos, estimando-se que a comunidade judia na época fosse composta por entre 10.000 e 15.000 pessoas.
A notícia da descoberta da lista dos resgatados foi apresentada esta quinta-feira, 7 de setembro, durante uma conferência no Museu do Holocausto de Roma.
Segundo os investigadores envolvidos no projeto, esta lista – já analisada pela Comunidade Judaica de Roma e pelo Instituto Internacional de Investigação sobre o Holocausto de Yad Vashem – foi elaborada por um jesuíta italiano, padre Gozzolino Birolo, entre junho de 1944 e a primavera de 1945. Birolo, falecido em junho de 1945, exercia na altura as funções de ecónomo do Pontifício Instituto Bíblico, cujo reitor era o padre alemão Augustin Bea, que viria a tornar-se cardeal e pioneiro nas relações judaico-católicas após a guerra, supervisionando a elaboração da “Nostra Aetate”, um documento do Concílio Vaticano II.
Além de judeus, a lista de pessoas salvas inclui uma série de indivíduos que foram procurados pelos nazis por outras razões, incluindo guerrilheiros italianos envolvidos na resistência à ocupação, revelaram ainda os investigadores. Por razões de privacidade, o acesso ao documento é atualmente restrito.
Entre as pessoas incluídas na lista, pelo menos 200 terão sido protegidas pelo padre Joaquim Carreira, o reitor do Colégio Pontifício Português de Roma que, durante o ano letivo 1943-44, deu refúgio e abrigo a meia centena de perseguidos, antifascistas, judeus e outros resistentes à ocupação nazi-fascista da capital italiana, e ajudou a esconder mais cerca de centena e meia de mulheres e crianças em casas religiosas femininas [ver reportagem 7MARGENS].