
As federações de igrejas cristãs apelam não só à implementação de impostos progressivos sobre a riqueza, como a impostos progressivos sobre o carbono e a poluição. Foto © Unsplash/Jason Leung.
Aumentar os impostos sobre os mais ricos (2% para os milionários, 3% para aqueles com rendimentos acima de 50 milhões de dólares e 5% para os bilionários) poderia gerar anualmente 2,5 triliões de dólares, “o suficiente para tirar da pobreza 2,3 mil milhões de pessoas e oferecer cuidados de saúde e proteção social universais a 3,6 mil milhões de pessoas”, afirmam várias federações ecuménicas de igrejas cristãs, numa carta aberta ao G20, o grupo de países mais poderosos do mundo que estará reunido nos próximos dias 9 e 10 de setembro na Índia.
A carta é assinada pelo Conselho Mundial de Igrejas, Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas, Federação Luterana Mundial, Conselho Mundial Metodista e Conselho para a Missão Mundial, que, em conjunto, representam mais de 600 milhões de cristãos em 120 países.
Nela, expressam preocupação com a “imensa desigualdade entre e dentro dos países”, e instam os líderes do G20 a, entre outras medidas, apoiarem “uma Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Cooperação Fiscal Internacional”.
Deste modo, as discussões fiscais globais passariam a ocorrer sob a égide da ONU, “onde há ampla participação dos países e da sociedade civil”. A convenção deverá “promover regras fiscais internacionais mais justas e mais inclusivas”, reduzindo os fluxos financeiros ilícitos e a evasão fiscal por parte de empresas multinacionais e indivíduos super-ricos, e permitindo aos países em desenvolvimento mobilizar recursos internos.
A missiva apela não só à implementação de impostos progressivos sobre a riqueza, como a impostos progressivos sobre o carbono e a poluição, e à libertação dos países em desenvolvimento das suas onerosas e históricas dívidas externas. “A dívida continua a ser um obstáculo à consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, lê-se no texto. “Hoje, mais de 3 mil milhões de pessoas vivem em países que gastam mais em pagamentos de juros de dívidas do que em educação ou saúde”, alertam as organizações cristãs.
Cimeira ensombrada por tensões étnicas e religiosas na Índia

Descrita pelo seu primeiro-ministro, Narendra Modi, como líder do “Sul global”, a Índia prepara-se para acolher a cimeira das 20 maiores economias do mundo numa altura em que as tensões étnicas e religiosas no país, que duram há meses, continuam por resolver.
Esta segunda-feira, 4 de setembro, especialistas das Nações Unidas publicaram uma declaração de preocupação relativamente à situação no estado de Manipur, no nordeste da Índia. Atos de violência sexual, execuções extrajudiciais, destruição de casas, deslocação forçada, tortura e maus-tratos são alguns dos alegados crimes cujos relatos têm chegado daquele estado, onde prossegue aquilo que os especialistas da ONU descrevem como um “conflito comunitário entre as comunidades étnicas predominantemente hindus Meitei e predominantemente cristãs Kuki”.
A declaração refere-se ainda a “relatórios e imagens de violência baseada no género que atingem centenas de mulheres e raparigas de todas as idades, e predominantemente da minoria étnica Kuki. A alegada violência inclui violação em grupo, desfilar mulheres nuas na rua, espancamentos severos que causam a morte e queimaduras”.
Além disso, há relatos de abuso de medidas antiterroristas para legitimar atos de violência e repressão contra minorias étnicas e religiosas. “Este tipo de ataque a grupos étnicos e religiosos não pode continuar a ser ignorado”, afirmam os peritos da ONU.
Na declaração, é feito um apelo ao Governo da Índia para que tome medidas robustas e oportunas para investigar atos de violência e responsabilizar os seus perpetradores, “incluindo funcionários públicos que possam ter ajudado e encorajado o incitamento ao ódio e à violência racial e religiosa”, e para que intensifique os esforços de socorro às pessoas afetadas.
Ainda no passado dia 20 de agosto, a violência religiosa chegou à capital da Índia, Nova Deli, como relata a NBC News esta quarta-feira, 6 de setembro. Um ataque a uma igreja protestante aconteceu a menos de 16 quilómetros do local onde os líderes mundiais se reunirão este fim de semana. Um grupo de cerca de 30 pessoas atacou dezenas de fiéis, incluindo mulheres e crianças, espancando-os, e destruindo inúmeros objetos da igreja, enquanto gritavam “Esta é uma nação hindu!”.
Nos últimos anos, aumentaram no país os ataques contra muçulmanos, que representam cerca de 14% da população, assim como contra os cristãos, que são a segunda maior minoria religiosa da Índia, com menos de 3% da população.
Poucas semanas antes do ataque à igreja em Deli, milhares de muçulmanos no estado vizinho de Haryana fugiram de bairros atingidos pela violência depois de sete pessoas terem sido mortas durante uma procissão religiosa hindu organizada por grupos ideologicamente alinhados com o Partido Bharatiya Janata de Modi. Lojas e casas muçulmanas foram alvo de ataques à medida que os confrontos comunitários se espalhavam do distrito de Nuh para a cidade de Gurugram, um centro tecnológico onde empresas multinacionais como a Google, Ernst & Young e Deloitte têm escritórios.
Os críticos dizem que a polarização religiosa se intensificou sob o primeiro-ministro Narendra Modi e o seu governo nacionalista hindu, e que está agora a atingir profundamente a capital, que em grande parte vinha conseguindo manter a violência sob controlo.