
“Remember” (Lembrar): mural com nomes de refugiados que passaram por Portugal, no Museu do Holocausto do Porto. Foto © Museu do Holocausto do Porto – CIP
Histórias de sobreviventes do Holocausto, de fugas à perseguição nazi que passaram por Portugal e dos “Justos entre as nações” portugueses serão alguns dos momentos formativos do II Curso do Centro de Educação Judaica do Porto, que o Museu do Holocausto (MH) do Porto organiza, nesta segunda-feira, 20 de Setembro.
Esta iniciativa tem como objectivo sensibilizar os docentes do ensino básico e secundário (de instituições públicas e privadas) para as questões em torno do Holocausto e do antissemitismo, explica ao 7MARGENS Hugo Vaz, responsável do Museu. “Pretende-se dotar os docentes dos conhecimentos e ferramentas necessários para transmitir aos seus discentes estas problemáticas”, acrescenta.
“Sem um combate pensado, é perfeitamente possível” que genocídios como o dos judeus perpetrados pelos nazis na II Guerra Mundial possam voltar a acontecer, afirma ainda. O curso pretende ser um elemento para ajudar nesse combate.
“Com o passar das décadas, e à medida que esse tipo de episódios históricos se vai afastando temporalmente, com os seus contemporâneos também a desaparecer, começam a surgir ideias negacionistas que podem vir a banalizar ou desacreditar estes temas”, recorda.
Para obstar a essa banalização, a memória, “a recordação, a sensibilização e a educação sobre temas como o antissemitismo – de que o Holocausto faz parte – são fundamentais para que episódios como estes não se repitam”, diz Hugo Vaz. Por isso, o curso incluirá depoimentos como o de Chaya Lassmann, sobrevivente da Shoah, que abrirá as intervenções da iniciativa, contando a sua história. Ou ainda, ao almoço, o de Josef Lassmann, filho de outro sobrevivente.
Hugo Vaz cita o historiador israelita e investigador do Holocausto Yehuda Bauer: “Pela primeira vez na sangrenta história da humanidade, num Estado Moderno e no centro de uma Europa civilizada, foi tomada a decisão de localizar, registar, isolar, despojar, humilhar, concentrar, transportar e assassinar cada um dos membros de um grupo, por razões puramente ideológicas.”
A investigadora em temas judaicos Esther Mucznik (que acaba de publicar Judeus Portugueses – Uma História de Luz e Sombra, ed. Manuscrito) situará historicamente a Shoah, numa intervenção de fundo com o título “Antes, durante e depois do Holocausto”.
O genocídio enfrentou, mesmo assim, a resistência de muitos perseguidos e muitas das pessoas que ajudaram os perseguidos. Por isso, o curso abordará também o percurso dos Justos portugueses, de um modo especial o do padre Joaquim Carreira. Reitor do Colégio Pontifício Português, de Roma, o padre Carreira terá salvo perto de duas centenas de pessoas, entre as quais meia centena directamente no Colégio, que ele recenseou no relatório sobre a vida da instituição do ano 1933-34. A sua história foi investigada por António Marujo, jornalista do 7MARGENS, e contada no livro A Lista do Padre Carreira (ed. Vogais), que intervém também no curso.
A iniciativa, que decorre a partir das 9h, incluirá ainda, a concluir, a apresentação do projecto Nunca Esquecer, lançado pelo Governo no âmbito da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto.

Reconstituição da entrada do campo de extermínio de Auschwitz, com a legenda “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta). Foto © Museu do Holocausto