O padre Avelino Cardoso, assistente dos movimentos operários da Ação Católica durante décadas, morreu nesta segunda-feira, 8 de fevereiro, com 89 anos. Este é o testemunho da equipa diocesana da LOC/MTC enviado ao 7MARGENS.

Padre Avelino Cardoso: “O mundo operário valia bem um sacerdote a tempo inteiro. Foi esta a história da minha vida”. Foto: Direitos reservados
“O Mundo operário vale bem um sacerdote a tempo inteiro! Foi esta a história da minha vida”. Era assim que o padre Avelino Cardoso, antigo assistente diocesano e nacional da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC) se referia à sua opção pastoral de servir a Igreja no serviço ao mundo do trabalho.
O padre Avelino Cardoso morreu segunda-feira, 8 de fevereiro, depois de uma doença prolongada e agravada por covid-19, que contraiu, em ambiente hospitalar, na primeira semana de fevereiro. Assistente nacional e diocesano da Liga Operária Católica e Juventude Operária Católica (JOC), quando, em 14 de julho de 2007 celebrámos, no Auditório Vita em Braga, os seus 50 anos de padre, ele próprio contou:
“Sou o quinto filho de uma família operária. Naquela altura perguntavam frequentemente: ‘que queres ser quando fores grande’ e eu respondia que queria ser padre. O meu pai era carpinteiro e a minha mãe tecedeira. Porque éramos pobres, não pude entrar no seminário no tempo devido, pois no ano de fazer a quarta classe eu era o único aluno e tive de esperar mais um ano para acompanhar os que vinham da anterior.
“Estive como trabalhador infantil na oficina de carpintaria de meu pai. Depois, fui para o seminário. Quando concluí o curso, olhei para os meus colegas e muitos deles estavam cheios de dúvidas, que eu nunca tive. Tive, isso sim, medo de não ter dúvidas. Percorri o mundo, estive em França com os nossos emigrantes, onde vivi o Maio de 1968, estive em Inglaterra, no Canadá e no Brasil. Mas a maior parte da minha vida foi de entrega aos Movimentos Operários da Acção Católica, em particular a LOC/MTC e a Pastoral Operária. Resisti a muitos convites para outras coisas, para estar neste serviço. Sempre me senti feliz neste trabalho. Sempre, sempre, sempre! O mundo operário valia bem um sacerdote a tempo inteiro. Foi esta a história da minha vida”.
Testemunhos de uma vida cheia
Mas toda a gente sabe que foi algo mais. A história de vida do padre Avelino foi muito mais rica do que aquela simples e curta comunicação e a prová-lo foram os diversos testemunhos das pessoas que passaram pelo palco naquele dia.
Olívia Lopes, de Joane, uma das mais antigas coordenadoras diocesanas da LOC/MTC, disse: “Quando fui eleita presidente diocesana chamei o padre Avelino e disse-lhe que não era capaz. Ele disse-me ‘Não tenhas medo…’ e a verdade é que com Deus e o padre Avelino lá fomos caminhando.”
Conceição Carvalho, antiga operária têxtil, que em 1986 partiu de Mogege (Famalicão) para Lisboa como dirigente da LOC, referiu: “Tive muitas dificuldades, mas o padre Avelino foi de grande ajuda. E senti nele um grande amor pela classe operária, ele ama os mais pobres.”
Hermínia Mirra, militante de base do grupo da LOC/MTC da Carreira (Famalicão) também deu o seu testemunho: “O padre Avelino é uma pessoa simples. Sempre dirigiu palavras amigas e mansas. Esteve presente sempre nas horas mais difíceis da minha vida.”
Américo Monteiro, hoje coordenador nacional da LOC/MTC naquele dia de emoções fortes, referiu que gostava de apresentar a mais bela canção ou o mais belo poema, mas que não era esse o jeito dele. “O padre Avelino foi o grande impulsionador da minha vida”, disse. “Teve sempre a preocupação em nos sentirmos nas nossas responsabilidades. Quando éramos convidados para outros sítios e o padre Avelino estava presente, nós sentíamo-nos mais seguros. Estou feliz por tê-lo encontrado na minha vida.”
Diana, de Vila Nova de Sande, acabada de chegar de uma missão de dois anos no Brasil, depois de ter sido dirigente da JOC, disse: “O padre Avelino é alguém que deixa marcas. Quando fui convidada para dirigente, ele ajudou-me a descobrir que as dificuldades não eram obstáculos. Quando acabei o meu mandato quis ser missionária e o padre Avelino ajudou-me a descobrir o momento certo.”
Filipa Carvalho, naquela altura, coordenadora diocesana da JOC de Braga, disse: “É a celebração de uma vida, quero dirigir uma palavra amiga e carinhosa pelo seu testemunho vivo de entrega à Pastoral Operária. Os assistentes têm um papel importante na formação, ajudam-nos a conhecer Jesus Cristo fora das paredes da Igreja.”
Rui Oliveira, então vice-coordenador diocesano da LOC/MTC, encerrou a série de testemunhos: “É difícil descrever a vida do padre Avelino, a sua forma como se dirige às pessoas, a sua opção de vida pelos mais pobres, o seu contributo para o crescimento do Movimento. Ele continua a ser como uma seara viva que cresce e dá frutos.”
Partidas e regressos
Nascido a 16 de setembro de 1931 em Ronfe, Guimarães, foi ordenado a 14 de julho de 1957. Nesse mesmo ano foi nomeado prefeito do Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga; em agosto de 1966 foi prestar serviço para Paris, França, junto dos emigrantes portugueses, até 1969, ficando como assistente diocesano da Juventude Rural e Agrária Católica Feminina (JARC).
Em setembro de 1970 regressou a Ronfe, Guimarães, colaborando com o pároco da vila. No ano de 1980 é nomeado para o serviço da emigração em Londres e é nomeado assistente dos Organismos Operários Católicos. Em 1987, reassume a assistência diocesana da LOC/MTC e, entre 1988 e 1992, presta serviço como assistente nacional da JOC e LOC/MTC. Volta depois ao lugar de assistente diocesano. Entre 1983 e 2000, fez, por quatro vezes, férias apostólicas no Brasil, em lugares sem padres.
Avelino Cardoso era ainda um dos fundadores da Associação dos Padres do Prado, em Portugal, e desde 1994 membro da CNASTI (Confederação Nacional de Ação Contra o Trabalho Infantil).
Outra missão de grande relevância que assumiu na sua vida e constituiu um marco importante na formação cristã e de cidadania de muitos jovens, foi como professor de Educação Moral e Religiosa, em Guimarães e em Joane. Este serviço permitiu-lhe conhecer e ajudar muitos adolescentes e jovens no seu crescimento como cidadãos e cristãos, apoio que se prolongou, muitas vezes, pela vida fora.
Nos últimos anos de vida, já debilitado na sua saúde, regressou à residência em Ronfe, onde recebia e assistia muitos trabalhadores e suas famílias, que o procuravam constantemente.