
O padre Jam Singh Dindore foi detido dia 26 de Dezembro, no seguimento de uma queixa apresentada na polícia. Foto © Ismael Martinez Sanchez/ACN.
A polícia indiana de Jhabua, no estado de Madhya Pradesh, prendeu o padre Jam Singh Dindore sob a acusação de que estaria a promover a conversão de populações locais ao cristianismo, noticiou a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) nesta sexta-feira, 14 de Janeiro.
As autoridades argumentam que o padre católico, juntamente com outras pessoas, estaria a oferecer tratamento médico gratuito em hospitais da Igreja, assim como ensino escolar aos habitantes locais, na sua maioria pertencentes às chamadas comunidades tribais.
O padre Jam Singh Dindore foi detido dia 26 de Dezembro, no seguimento de uma queixa apresentada na polícia. A lei anti-conversão está em vigor no estado de Madhya Pradesh desde Fevereiro de 2021. Até ao dia 15 de Dezembro, registaram-se 62 casos de pessoas acusadas ao abrigo da lei. Pelo menos oito visaram cristãos, informa a mesma fonte.
Não é só em Madhya Pradeh que se registam incidentes contra cristãos. Um relatório publicado esta semana e divulgado pela agência de notícias católica Gaudium Press dá conta de que o ano de 2021 “não foi fácil” para os cristãos na Índia, havendo 486 incidentes registados.
Segundo o Fórum Cristão Unido, que engloba várias confissões cristãs e é responsável pelo documento, “a maioria dos incidentes violentos está relacionada com a presença de grupos religiosos extremistas”, e decorre num clima de “impunidade” que acaba por promover a perseguição contra a comunidade.
O citado relatório refere que, muitas vezes, “os extremistas agridem as pessoas antes de entregá-las à polícia, acusando-as de promoverem conversões forçadas”.
O aumento do número de ataques contra os cristãos levou já o arcebispo emérito de Bhopal, Leo Cornelio, a escrever uma carta ao primeiro-ministro, Narendra Modi, pedindo-lhe para tomar medidas eficazes de forma a conter esta onda de violência.
Na carta, datada de 26 de Outubro, o arcebispo escreve que “certos grupos e indivíduos estão a intensificar uma campanha de ódio contra grupos minoritários e especialmente contra os cristãos”, levando à violência. “O aumento do fundamentalismo religioso e do ódio”, diz o bispo, são “uma ameaça ao crescimento da nação”.
Esta onda de violência tem vindo a ganhar uma expressão cada vez mais preocupante desde 2014, quando o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata, do actual primeiro-ministro Narendra Modi, chegou ao poder.
Nos últimos dias do ano de 2021, soube-se que o Governo retirara às Missionárias da Caridade, fundadas por Madre Teresa de Calcutá, a permissão de receber fundos estrangeiros, medida que colocava em risco o apoio directo a mais de vinte mil pessoas. No passado dia 10, o Governo acabou por libertar as contas bancárias.
Pelo meio ficara já, no vizinho estado de Uttar Pradesh, o despejo de um lar para crianças órfãs, dirigido pela mesma congregação católica e ordenado pelo Ministério da Defesa da Índia. O despejo foi ordenado na sequência do termo da concessão do terreno em que o lar está implantado, concessão que o Estado indiano não quis renovar.
No último mês de Julho, morreu na prisão o padre jesuíta Stan Swamy, que tinha sido preso em Outubro de 2020. O padre Swamy era acusado de ligações terroristas, o que ele sempre negou. Em causa, estaria, sim, o seu apoio, nas últimas cinco décadas, a povos indígenas do país e à defesa dos direitos humanos, nomeadamente manifestando-se contra expropriações injustas que têm atingido a comunidade Adivasis, povo indígena de Jharkhand (ver 7MARGENS).
Para lá da China, onde as violações dos direitos humanos são graves e constantes, por exemplo contra os muçulmanos uigures, a Índia é actualmente um dos países que mais preocupações tem levantado em relação à falta de liberdade religiosa. Desde a chegada de Narendra Modi ao poder, têm aumentado os estados com leis anti-conversão, bem como as perseguições e a marginalização de muçulmanos, cristãos e outros grupos minoritários.