Pandemia não travou crescimento dos gastos militares no mundo

| 27 Abr 2021

Armas nucleares; armamento; guerra

O míssil balístico intercontinental RS-24 Yars, fabricado pela Rússia. Foto © Wikimedia Commons/Vitaly V. Kuzmin

 

Apesar da pandemia, as despesas militares à escala internacional atingiram, no último ano, 1,98 biliões de dólares (quase dois milhões de milhões), crescendo 2,6 por cento relativamente ao ano de 2019, segundo os novos dados publicados esta segunda-feira, 26, pelo Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), sediado na Suécia.

Os países que mais gastaram, e que representam, no seu conjunto, 62 por cento dos gastos, foram os Estados Unidos da América (EUA), a China, a Índia, a Rússia e o Reino Unido, sendo que, na China, o ano de 2020 foi o 26º de crescimento consecutivo.

Segundo o investigador do Programa de Armas e Gastos Militares do SIPRI, o brasileiro Diego Lopes da Silva, trata-se do valor mais elevado que o Instituto registou desde 1988, o primeiro ano em que começou a produzir esta informação à escalara global.

É relevante sublinhar o facto de o crescimento de 2,6 por cento na despesa militar mundial se ter verificado num ano em que o produto interno bruto (PIB) se reduziu em 4,4 por cento (projeção de outubro de 2020 do Fundo Monetário Internacional), principalmente devido aos impactos económicos decorrentes da pandemia da covid-19. Em consequência disso, o peso da despesa militar no PIB atingiu a média global de 2,4 por cento (2,2 no ano anterior).

A mesma pandemia obrigou, em contrapartida, alguns estados a reduzir os gastos militares para os reafectar às respostas no campo sanitário, como foi o caso do Chile e da Coreia do Sul, ou para deixar o nível de gastos bem abaixo do inicialmente orçamentado, como ocorreu com o Brasil e a Rússia.

Sintetizando o sentido destes dados, Diego Lopes da Silva sublinhou: “Podemos dizer com bastante certeza que a pandemia não teve um impacto significativo na despesa militar mundial de 2020. Falta ver se os países irão manter este nível de gastos durante o segundo ano de pandemia”.

 

Gastos militares no mundo, por região, 1988-2020 (datas na coluna horizontal, valores em milhares de milhões de dólares na coluna vertical). Fonte: Lopes da Silva, D.; Tian, N.; Marksteiner, A. (2021). Trends in World Military Expenditure 2020. SIPRI-Fact Sheet, April.

 

Mais 3,4 por cento na África subsaariana

Alguns casos específicos trazidos a lume pelo relatório do SIPRI:

– Os EUA, país que mais gastou na rubrica militar, aumentou 4,4 por cento a despesa relativamente a 2019 e o valor (778 mil milhões de dólares) representa 39 por cento do total de despesas de 2020. O incremento contínuo verificado no mandato de Trump pode ser atribuído principalmente “ao forte investimento em investigação e desenvolvimento e a alguns projectos de longo prazo, como sejam a modernização do seu arsenal nuclear e a aquisição de armas de grande alcance’, segundo Alexandra Marksteiner, investigadora deste âmbito, também do SIPRI.

– A despesa militar da China, que cresce há duas décadas e meia e é a segunda maior do mundo, elevou-se em 2020 a 252 mil milhões de dólares; este país foi o único com um gasto elevado que não viu crescer o peso relativo desta despesa no PIB, apesar de a ter aumentado.

– Em 2020, a despesa militar da Rússia cresceu 2,5 por cento, atingindo 61.700 milhões de dólares. Ainda assim, essa despesa foi 6,6 por cento inferior ao orçamento inicial.

– A despesa militar na África subsaariana cresceu 3,4 por cento em 2020, atingindo 18.500 milhões de dólares. Os maiores aumentos verificaram-se no Chade (+31 por cento), Mali (+22), Mauritânia (+23) e Nigéria (+29), todos da região do Sahel, assim como no Uganda (+46).

O SIPRI considera despesa militar qualquer gasto governamental em forças e atividades militares atuais, incluindo salários, gastos com operações, compras de armas e equipamentos, construções militares, investigação e desenvolvimento, bem como administração central, comando e apoio. O conceito distingue-se, por conseguinte, de despesas com armamento, que é uma pequena parte dos gastos totais.

O Instituto acompanha a evolução dos gastos militares em todo o mundo e alimenta uma fonte de dados que considera “a mais completa, extensa e consistente” de disponibilidade pública, no seu âmbito. Os dados são atualizados anualmente e baseiam-se parcialmente nos orçamentos aprovados, sendo ajustados à medida que são disponibilizadas as informações sobre os gastos efetivos finais.

 

Os 15 países do mundo com mais gastos militares, em 2020. Fonte: Lopes da Silva, D.; Tian, N.; Marksteiner, A. (2021). Trends in World Military Expenditure 2020. SIPRI-Fact Sheet, April.

 

 

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

JMJ realizou em 2022 metade das receitas que tinha orçamentado

A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 obteve no ano passado rendimentos de 4,798 milhões de euros (menos de metade do previsto no seu orçamento) e gastos de 1,083 milhões, do que resultaram 3,714 milhões (que comparam com os 7,758 milhões de resultados orçamentados). A Fundação dispunha, assim, a 31 de dezembro de 2022, de 4,391 milhões de euros de resultados acumulados em três anos de existência.

Debate em Lisboa

Uma conversa JMJ “conectada à vida”

Com o objectivo de “incentivar a reflexão da juventude” sobre “várias problemáticas da actualidade, o Luiza Andaluz Centro de Conhecimento (LA-CC), de Lisboa, promove a terceira sessão das Conversas JMJ, intitulada “Apressadamente conectadas à vida”.

Liberdade e verdade

Liberdade e verdade novidade

As religiões, enquanto se consideram guardiãs da verdade, tendem a conviver mal com a afirmação da liberdade individual. Nas suas fileiras, coartam-na, limitam-na, enquanto apelam permanentemente à obediência férrea a uma autoridade que se considera incontestável, porque garante da verdade.

Agenda

There are no upcoming events.

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This