
Trata-se da documentação completa da atividade pontifícia, compreendendo cerca de 40 mil arquivos digitais, que podem agora ser acedidos online. Foto: Direitos reservados.
O Vaticano decidiu abrir o acesso ao público em geral de cerca de 170 volumes de documentos relativos aos judeus e referentes ao pontificado do Papa Pio XII.
A notícia, difundida esta quinta-feira, 23, pela Sala de Imprensa da Santa Sé, esclarece que a medida foi solicitada pelo Papa Francisco e que é operacionalizada pelo Arquivo Histórico da Secretaria de Estado – Seção de Relações com Estados e Organismos Internacionais (ASRS).
Trata-se da documentação completa da atividade pontifícia, compreendendo cerca de 40 mil arquivos digitais, que podem agora ser acedidos online.
Nesta primeira fase, serão disponibilizados apenas 70 por cento dos documentos, antes de serem integrados nos volumes finais que se encontram em fase de elaboração.
Este conjunto vastíssimo de materiais, cuja consulta já tinha sido aberta a investigadores no início de março de 2020, tem por título “Ebrei” (Judeus), “porque o seu objetivo é preservar os pedidos de ajuda dos judeus de toda a Europa, recebidos pelo Papa durante as perseguições nazi-fascistas”, esclarece o Vaticano.
Num artigo publicado no L’Osservatore Romano, o arcebispo Paul Gallagher, responsável do Vaticano para as Relações com os Estados, escreve que “a disponibilização da digitalização desta série irá permitir aos descendentes daqueles que procuraram ajuda encontrar vestígios dos seus entes queridos a partir de qualquer parte do mundo”.
Centro Wiesenthal oferece documento histórico
Na quarta-feira, 22, o Centro Simon Wiesenthal entregou ao Papa Francisco um fac-símile do documento em que Adolf Hitler teorizou o extermínio de judeus. No encontro, Francisco denunciou o antissemitismo e “a ameaça contínua do populismo”.
Na audiência no Vaticano, estiveram presentes 30 personalidades de diferentes países ligadas ao Centro Wiesensthal, incluindo o rabi Marvin Hier, fundador e diretor executivo da instituição.
Dirigindo-se ao Papa, o rabino, citado pela Askanews, enfatizou o facto de este encontro ocorrer 80 anos depois da Conferência de Wannsee, na qual 15 oficiais nazis, oito deles estudantes de doutoramento de algumas das melhores universidades, tomaram a decisão, concordando com as ordens de Hitler, de realizar um assassinato em massa de todos os judeus na Europa.
“Por isso, Santidade – observou Marvin Hier – viemos aqui hoje apresentar aos Arquivos do Vaticano um dos documentos mais significativos da história da humanidade: uma cópia de uma carta original, datilografada e assinada por Hitler, em 16 de setembro de 1919, na qual ele delineia abertamente a necessidade do extermínio definitivo do povo judeu na Europa.”
O original da carta de Hitler que agora foi entregue ao Papa está em exposição no Museu da Tolerância, no Centro Simon Wiesenthal, em Los Angeles. “O que começou como a opinião de um homem tornar-se-ia a política de estado da Alemanha nazi 22 anos depois, levando ao assassinato sistemático de um terço dos judeus do mundo”, salientou o responsável do Centro.