
Reinhard Marx Foto © Klaus D. Wolf/Erzbischöfliches Ordinariat München
O Papa Francisco não aceitou o pedido de resignação do cardeal Reinhardt Marx do cargo de arcebispo de Munique e Freising que este havia apresentado em maio último e anunciado publicamente na passada sexta-feira, dia 4.
Numa carta que lhe enviou, com data deste 10 de junho, menos de uma semana depois da divulgação da carta do cardeal, Francisco começa por agradecer a coragem de Marx. “É uma coragem cristã – sublinha – que não teme a cruz, não teme aniquilar-se perante a tremenda realidade do pecado. Isso é o que o Senhor fez (Carta aos Filipenses 2, 5-8). É uma graça que o Senhor te deu e vejo que queres assumi-la e guardá-la para que dê frutos. Obrigado”.
Referindo um passo do pedido de resignação em que o cardeal dizia que gostaria de dedicar os próximos anos “de forma mais intensa à pastoral e a lutar pela renovação espiritual da Igreja”, Francisco observa: “Esta é a minha resposta, querido irmão. Continua como propões, mas como arcebispo de Munique e Freising. E se te sentes tentado a pensar que, ao confirmar a tua missão e não aceitar a tua renúncia, este bispo de Roma (teu irmão que te ama) não te entende, pensa no que Pedro sentiu diante do Senhor quando, à sua maneira, apresentou-lhe a resignação: ‘afasta-te de mim, que sou um pecador’, e ouve a resposta: ‘apascenta as minhas ovelhas’”.
Sobre a crise sentida pelo próprio cardeal Marx, que é também crise da Igreja alemã e da Igreja Católica no seu todo, por causa do problema dos abusos sexuais do clero, Francisco adverte que “a Igreja hoje não pode dar um passo em frente sem assumir esta crise”. “A política de avestruz não leva a nada, e a crise deve ser assumida desde a nossa fé pascal” acrescenta.
O Papa adianta que esta crise é pessoal e também comunitária e concorda com Marx quanto ao modo como ele colocou o problema institucional. Concorda ainda com ele quando diz que “nem toda a gente quer aceitar essa realidade, mas é o único caminho, porque tomar “resoluções” de mudança de vida sem “colocar a carne na grelha” não leva a lugar nenhum. E, mais adiante, deixa este recado: “Portanto, na minha opinião, cada bispo da Igreja deve assumi-lo e perguntar-se: o que devo fazer diante desta catástrofe?”