
Adivinham-se mudanças profundas na Congregação para a Doutrina da Fé. Foto: DR/7Margens.
A revista America, dos jesuítas dos Estados Unidos, fala de um primeiro passo dado pelo Papa Francisco, nesta segunda-feira, 10 de Janeiro, para reorganizar a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), um dos dois organismos mais importantes do Vaticano, a par da Secretaria de Estado: o número dois da CDF, que terá sido o responsável pelo polémico documento do ano passado sobre a interdição de bênçãos de casais do mesmo sexo, foi nomeado para uma diocese italiana, deixando o lugar no Vaticano.
O arcebispo Giacomo Morandi, actual secretário da Congregação, foi escolhido para bispo da diocese italiana de Reggio Emilia-Guastalla. A mudança equivale a uma despromoção, diz a America: tendo o título de arcebispo, Morandi vai para uma “pequena” diocese, não para uma arquidiocese, como seria normal. O título de arcebispo será mantido pelo próprio, anunciou o Vaticano.
Morandi foi considerado por vários meios de comunicação como estando por detrás do documento de Março do ano passado que indignou a comunidade gay, para a qual Francisco tem pedido mais acolhimento no interior da Igreja. O documento dizia que a Igreja Católica não abençoa as uniões homossexuais porque Deus “não pode abençoar o pecado”. O documento, como é normal nestes casos, dizia que o Papa tinha sido informado do seu conteúdo, mas muitos comentários apontaram o “facto consumado” com que o Papa teria sido confrontado.
A CDF tem por missão interpretar a doutrina para a Igreja Católica universal, sancionando dissidências e tratando de casos de abuso sexual de menores por parte do clero. Morandi entrou para a CDF como subsecretário em 2015 e foi promovido a secretário, o número dois, em 2017.
A America recorda que o Papa Francisco tem protagonizado vários gestos de aproximação aos católicos homossexuais. Recentemente, o Papa escreveu uma carta à irmã Jeannine Gramick, que em tempos tinha sido sancionada pela CDF, pelos seus 50 anos de ministério junto da comunidade LGBTQ.
Actualmente, o responsável da Congregação é o cardeal jesuíta Luis Ladaria, que completa 78 anos em Abril, três anos para além da idade normal de reforma dos bispos – o que o deve levar deixar o cargo em breve.
A mudança de Morandi e a possível saída de Ladaria sugerem, acrescenta a America, que podem estar para breve mudanças profundas na Congregação. Mas estas podem ser anunciadas apenas quando for divulgada a nova constituição apostólica que regulará o funcionamento da Cúria Romana, o que poderá acontecer até à Páscoa, se estiverem concluídas as traduções do documento para as diferentes línguas.