
O Papa na audiência com os representantes da União Mundial das Organizações Femininas Católicas, durante a qual criticou a aprovação da lei da eutanásia em Portugal. Foto reproduzida da transmissão vídeo do Vatican News.
O Papa Francisco criticou neste sábado, 13 de Maio, a aprovação da lei da eutanásia na Assembleia da República portuguesa, quando evocava os acontecimentos de Fátima. “Hoje estou muito triste, porque no país onde apareceu Nossa Senhora foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na grande lista de países com eutanásia”, referiu, citado pela Ecclesia, num encontro com centenas de representantes da União Mundial das Organizações Femininas Católicas (WUCWO), no Auditório Paulo VI.
A referência do Papa foi feita de improviso, em espanhol, à margem do discurso que tinha preparado, e no qual referiu ainda: “Voltando a Fátima: no meio do silêncio e da solidão dos campos, uma mulher bondosa e cheia de luz encontra-se com umas crianças pobres e simples. Como todas as grandes coisas que Deus faz, o que carateriza a cena é a pobreza e a humildade.” E as três crianças videntes representam “toda a humanidade”, que se revela “desconcertada e assustada perante situações que a colocam em crise”. Uma crise que se traduz também na “urgente necessidade de encontrar a paz no mundo” e nos riscos de “instrumentalização” da “identidade antropológica da mulher”.
A nova formulação da lei da eutanásia foi aprovada esta sexta-feira, 12, na Assembleia da República, depois de sucessivos vetos do Presidente da República. Na nova formulação, a eutanásia só pode acontecer se o suicídio assistido for impossível por incapacidade física do doente. Na sexta-feira, em declarações aos jornalistas, o Presidente disse que irá “aplicar a Constituição” e promulgar a lei, afirmando que não tem “mais nada a dizer”.
Se o Papa se referiu a Fátima e à eutanásia, no santuário o tema esteve apenas vagamente implícito nas palavras do seu número dois. Na homilia da missa com que encerrou a peregrinação deste 13 de Maio, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano que Maria de Nazaré é sinal de uma “maternidade universal” que “não conhece os muros das diversidades culturais, sociais, políticas; antes, pelo contrário, ensina a dilatar os espaços da Igreja, para que [esta] seja a comunidade onde a harmonia das diferenças inutiliza a vontade de domínio”, ao serviço da qual “tantas vezes estão injustamente as leis humanas seja por cumplicidade seja por cobardia”.
“Deus está nos que o mundo esquece e descarta”

Perante uma multidão que as autoridades calculavam em mais de 200 mil pessoas, Parolin insistiu nas ideias da paz e do acolhimento da diversidade como resultantes da mensagem cristã e, concretamente, daquela que é divulgada em Fátima. Deus é “sempre um futuro de paz e de esperança”, que se descobre “nos pobres, nos últimos, naqueles que o mundo esquece e descarta”. Também “a História não é um afastamento progressivo e inexorável de Deus”, como poderia levar “a crer aquilo que, geralmente”, são considerados sinais da sua ausência: “As lágrimas sem resposta, o luto contínuo, os lamentos causados pela infidelidade, a traição e a violência, a fadiga que se sente em viver numa cidade baseada na opressão, a morte que apaga e silencia tudo e todos”.
“Ao contrário, a História constitui o aproximar-se fielmente de nós da cidade de Deus, onde tudo resplandece com a novidade que a sua presença e benéfica ação tornam possíveis”, considerou. Por isso, a casa comum, o “planeta saqueado”, deve tornar-se antes “a casa daqueles que, na sua diversidade, se reconhecem entre si irmãos e irmãs”, segundo “a cultura do encontro, do conhecimento recíproco e da cooperação”.
Referindo-se às dimensões da penitência e da oração, que se destacam na história, mensagem e espiritualidade de Fátima, o cardeal Parolin afirmou: “A penitência autêntica faz-nos crescer numa justa relação com o próximo; a oração verdadeira educa-nos para o encontro com a Santíssima Trindade.”
Pouco depois da homilia, no momento da oração dos fiéis, uma das intenções foi “por todas as pessoas que foram vítimas de qualquer espécie de abusos no seio da Igreja, para que encontrem nas suas vidas a paz, o amor, a luz e a esperança de Cristo ressuscitado”.
As celebrações desta peregrinação ficaram também assinaladas pela presença dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a cruz peregrina e um ícone de Nossa Senhora. À tarde, o cardeal Parolin esteve em Lisboa a participar numa reunião com o primeiro-ministro António Costa e vários membros do Governo, bem como com o patriarca de Lisboa e o presidente da Fundação JMJ, como se pode ler em outra notícia do 7MARGENS. O encontro serviu para esclarecer o que está a ser feito para preparar a jornada, após o que o cardeal visitou o Parque Tejo, onde irá decorrer a vigília do papa com os jovens e a missa de envio, dias 5 e 6 de Agosto.