
O Papa Francisco, na missa de canonização de D. João Baptista Scalabrini e Artemide Zatti. Foto © Vatican Media
O Papa criticou no Vaticano as políticas que excluem os migrantes, recordando as mortes no Mediterrâneo, e considerou que esta é uma posição “repugnante” e “escandalosa”, ao mesmo tempo que reforçou os seus alertas contra uma eventual guerra nuclear, convidando os responsáveis internacionais a “aprender com a história”, durante a missa em que, na Praça de S. Pedro, canonizou João Baptista Scalabrini, fundador da Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu (Scalabrinianos) e da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlo Borromeu (Scalabrinianas), e Artemide Zatti, leigo professo da Sociedade Salesiana de São João Bosco.
“Hoje, no dia em que Scalabrini se torna santo, gostaria de pensar nos migrantes. É escandalosa a exclusão dos migrantes: mais, a exclusão dos migrantes é criminosa, fá-los morrer, diante de nós. E assim temos o Mediterrâneo, como o maior cemitério do mundo”, apontou o Papa. “A exclusão dos migrantes é repugnante, pecaminosa, criminosa. “Não abrir as portas a quem tem necessidade… Não, não os excluímos, mas mandamo-los embora, para ‘lager’, onde são explorados, vendidos como escravos”, acrescentou Francisco, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro, perante milhares de participantes.
No final da homilia, Francisco destacou que os dois santos canonizados hoje lembram a “importância de caminhar juntos e saber agradecer”. “O bispo Scalabrini, que fundou a Congregação para o cuidado dos emigrantes – duas, uma masculina e uma feminina -, afirmava que, no caminho comum daqueles que emigram, é preciso não ver só problemas, mas também um desígnio da Providência”, referiu.
A reflexão apresentou o irmão salesiano Artemide Zatti como “um exemplo vivo de gratidão”, já que, “curado da tuberculose, dedicou toda a sua vida a favorecer os outros, a cuidar com amor e ternura dos doentes”. “Conta-se que o viram carregar, aos ombros, o corpo morto dum dos seus doentes. Cheio de gratidão por tudo o que havia recebido, quis dizer o seu obrigado ocupando-se das feridas dos outros”, relatou Francisco.
No final da celebração, Francisco reforçou os seus alertas contra uma eventual guerra nuclear, convidando os responsáveis internacionais a “aprender com a história”, lembrando que, há 60 anos, ao mesmo tempo que se iniciava o Concílio Vaticano II, o mundo vivia a crise dos mísseis de Cuba. “A propósito do início do Concílio, há 60 anos, não podemos esquecer o perigo de guerra nuclear que então ameaçava o mundo naquele momento. Por que não aprender com a história?”, questionou, no final da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro, Vaticano.
A intervenção evocou a crise dos mísseis em Cuba, envolvendo os Estados Unidos da América e a União Soviética, quando São João XXIII dava início ao Concílio Vaticano II (1962-1965). “Também naquela época havia conflitos e grandes tensões, mas foi escolhido o caminho pacífico”, indicou Francisco.
A intervenção citou uma passagem do livro do profeta Jeremias, para insistir na necessidade de aprender com o passado: “Parai um pouco nesses caminhos e vede; interrogai-vos sobre os atalhos de outrora e sobre o caminho do bem e segui por ele e encontrareis tranquilidade para as vossas vida” (Jer 6,16).
O Papa evocou ainda o ataque contra uma creche, na Tailândia, em que morreram 34 pessoas, incluindo 22 crianças, na última semana. “Asseguro minhas orações pelas vítimas do louco ato de violência, louco, ocorrido há três dias na Tailândia. Com comoção, confio ao Pai da vida, em particular, as crianças pequenas e as suas famílias”, disse, antes da recitação da oração do ângelus.