
Bispo Joseph Strickland na sua missa de entrada na diocese, em 2012. Foto © Peytonlow / Wikimedia Commons
Numa decisão inédita no seu pontificado e muito rara na Igreja Católica, o Papa destituiu o bispo da diocese de Tyler (Texas, EUA), Joseph E. Strickland. O prelado, entre vários outros ataques a Francisco, tinha escrito este ano na sua conta no Twitter ter chegado o tempo de rejeitar “o programa do Papa Francisco” porque tal programa “está a minar o depósito da fé”. Agora é-lhe retirado, aos 65 anos, o governo da diocese em que deveria permanecer por, pelo menos, mais uma dezena de anos.
A inédita decisão foi tornada pública pelo portal Vatican News, na manhã deste sábado, 11 de novembro, em notícia que refere também a nomeação [temporária] do bispo de Austin, Joe Vásquez, como administrador apostólico da diocese de Tyler. A destituição do bispo Strikland foi antecedida por uma visita apostólica [investigação] à diocese de Tyler ordenada pelo Papa em junho passado e desenvolvida por dois outros bispos norte-americanos.
O Vatican News cita também o comunicado do presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, cardeal Daniel Nicholas DiNardo, arcebispo metropolitano de Galveston-Houston, onde se lê: “Como resultado da visita apostólica feita, foi transmitido ao Santo Padre que a continuação no cargo do bispo Strickland não era viável. Após meses de cuidadosa consideração por parte do Dicastério para os Bispos e do Santo Padre, foi tomada a decisão de solicitar a renúncia de Strickland. Tendo sido apresentado esse pedido em 9 de novembro de 2023, o bispo Strickland recusou-se a renunciar ao cargo.”
Na sequência desta recusa, o Papa Francisco decidiu destituir o bispo. Em caso de conflito entre um bispo de uma diocese e o Vaticano, o procedimento normal é aquele aceitar o “convite” a pedir a renúncia. Porém, Strikland nunca foi um bispo normal.
Em campanha contra Francisco
O comentário de Strikland acima citado foi divulgado pelo agora ex-bispo de Tyler a propósito de um vídeo difundido por Patrick Coffin, um conhecido comentador dos media católicos mais conservadores, em que apresentava razões para concluir que o Papa Francisco usurpara o lugar e seria um anti-Papa. Opinião partilhada por Strikland que, no entanto, nunca a afirmou publicamente, preferindo a acusação de que Francisco desenvolvia um programa que minava a tradição da Igreja [ver 7MARGENS].
Durante os mais de 10 anos em que Strickland governou a diocese de Tyler, esta passou por “algumas mudanças notáveis, como a súbita renúncia de três funcionários diocesanos em 2018”, escreve a Catholic News Agency que sublinha, contudo, que “o mandato de Strickland também coincidiu com sinais positivos de saúde espiritual e administrativa em Tyler” visíveis no facto de “atualmente, 21 homens estarem em formação sacerdotal para um território de 119.168 católicos”. Por outro lado, “a diocese também está aparentemente em boa situação financeira”, pois conseguiu “angariar, seis meses antes do previsto, 99 por cento dos 2,3 milhões de dólares” que, em 2021, o bispo colocara como objetivo.
O Papa Francisco reuniu-se com o prefeito do Dicastério para os Bispos, o cardeal americano Robert Francis Prevost, na manhã deste sábado, 11, antes do anúncio da destituição de Strickland. Esta decisão do papa ocorre apenas dois dias antes do início da reunião plenária de outono dos bispos dos EUA, que terá lugar em Baltimore entre 13 e 16 de novembro.