Vítimas de abusos e outras religiões também podem estar na agenda

Papa encontra-se com refugiados na Católica e vai a Cascais conhecer projecto de inclusão através das escolas

| 5 Jun 2023

O Papa Francisco inscreve-se na JMJ com a presença de duas jovens portuguesas. Foto © Vatican Media

O Papa Francisco ao inscrever-se na JMJ, em Outubro passado, com a presença de duas jovens portuguesas. O programa oficial completo deverá ser divulgado na manhã desta terça-feira. Foto © Vatican Media

 

A viagem do Papa a Portugal entre 2 e 6 de Agosto, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude que começará oficialmente no dia 1, incluirá uma visita à Universidade Católica Portuguesa (UCP). O programa, que será oficialmente divulgado na manhã desta terça-feira, 6, no Vaticano e em Lisboa, inclui uma ida ao concelho de Cascais, soube também o 7MARGENS, para que Francisco possa conhecer a aplicação, em Portugal, do Scholas Occurrentes (“escolas de vizinhos”), um processo pedagógico que usa a arte, a tecnologia e o desporto para promover a inclusão social, e que foi lançado pelo actual Papa quando ainda era arcebispo de Buenos Aires. Já a deslocação a Fátima deverá durar duas a três horas, na manhã de sábado, dia 5, ficando os encontros protocolares guardados essencialmente para o dia 2, depois da chegada a Portugal. Um encontro com responsáveis de outras religiões e representantes da sociedade civil, possivelmente no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e outro com vítimas de abusos, deverão estar também incluídos no programa oficial.

Na visita à UCP, que decorrerá na manhã do dia 3, antes do encontro de acolhimento do Papa com os jovens (à tarde), Francisco deverá encontrar-se com estudantes refugiados que foram acolhidos na Universidade Católica. Ali terá encontros com estudantes e professores envolvidos na aplicação da encíclica Laudato Si’ (sobre a casa comum), o Pacto Educativo Global e A Economia de Francisco (a iniciativa sobre novos modelos económicos), três áreas em que o Papa tem insistido como necessitadas de reflexão e decisões políticas diferentes das que têm predominado.

Francisco fará também a bênção da primeira pedra do novo edifício da Universidade Católica, que ficará situado do lado norte do actual campus na Palma de Cima, entre a Azinhaga das Galhardas e a Avenida Lusíada, onde actualmente está um parque de estacionamento. Para esse campus, que se chamará Veritati (“para a verdade”, em latim) serão transferidas a reitoria e a escola de Economia e Gestão e será construído também um auditório multiusos, que possivelmente será baptizado com o nome do actual Papa.

Esta transferência libertará o actual edifício da escola de Economia para alargar as escolas de Direito e Ciências Humanas, pelo menos. Já no edifício da actual Biblioteca João Paulo II, a saída dos serviços da reitoria deixará espaço para alargar a Biblioteca, até agora confinada aos três primeiros pisos. Aliás, com a bênção da primeira pedra, Francisco repetirá o gesto do seu predecessor: foi João Paulo II quem, durante a sua primeira viagem a Portugal, benzeu a primeira pedra do que viria a ser o edifício da actual Biblioteca com o nome do Papa Wojtyla.

Antevisão do novo futuro campus Veritate da Universidade Católica, segundo imagem publicada na página da UCP.

Antevisão do novo futuro campus Veritati da Universidade Católica, segundo imagem publicada na página da UCP.

 

Cascais, nova etapa no programa

Já o projecto Scholas Occurentes pretende, na própria expressão de Francisco, “harmonizar a linguagem da mente com a linguagem do coração e a linguagem das mãos.” Foi o então arcebispo Jorge Mario Bergoglio que o criou em 2001, na Argentina, quando estava ainda em Buenos Aires. A ideia era ligar alunos de diferentes escolas e religiões, educando-os no serviço ao bem comum, através da arte, tecnologia, deporto, educação para a cidadania, compromisso social e edificação de uma economia mais “verde”.

De acordo com a página do projecto, o Scholas está neste momento presente em 190 países e 446 mil escolas, abrangendo um milhão de crianças e jovens dos cinco continentes.

Em Cascais, um novo destino no programa do Papa em Portugal, o município de Cascais aderiu a este processo através das suas escolas, começando por mobilizar 14 escolas na vertente da Scholas Cidadania. O argentino Francisco Martín, um dos responsáveis do projecto em Cascais, admite que, se o Papa visitar as escolas envolvidas, ficarão “como sempre agradecidos”.

A implantação do Scholas em Cascais, em 2018, começou por envolver 300 jovens que apontaram a educação e saúde mental como dois campos prioritários de acção e sugerindo o aumento do número de profissionais de saúde nas escolas, que a Câmara acatou. Inaugurada a sede oficial do Scholas em Cascais, com uma vídeochamada com o Papa, as actividades de formação continuaram através do desporto, arte, pensamento contemplativo. “Trata-se de levar os jovens a conhecer quem são eles próprios.”

A pandemia levou à insistência com as questões da saúde mental, por causa das pressões que os alunos mais novos se sentem sujeitos para poder entrar no ensino superior. Uma escola de surf, um cineclube comunitário, actividades de promoção da cidadania, reflexões sobre sexualidade e homossexualidade, encontros sobre violência e assédio sexual (no qual várias pessoas testemunharam ter sido vítimas) também foram incluídos no itinerário. Nos últimos tempos, no contexto da Jornada Mundial da Juventude, nasceu o projecto Vida Entre Mundos, que envolve escolas, as prisões de Tires e Linhó, associações de bairros sociais e de pessoas com deficiência, casas de acolhimento, residências sénior e uma horta comunitária, para construir uma única obra de arte com três quilómetros. Serão alguns milhares de pessoas envolvidas, diz Martín.

 

Vítimas, outras religiões e Fátima

Papa Francisco reza na Capelinha das Aparições por ocasião do centenário das Aparições de Fátima. Foto © Arlindo Homem

O Papa Francisco em Fátima, em 2017. Desta vez, a visita ao santuário será apenas por curtas duas ou três horas, de manhã. Foto © Arlindo Homem

 

Um encontro com vítimas de abusos sexuais na Igreja é também provável que aconteça – mas esse não deverá ser divulgado pelo Vaticano antes de acontecer. Para respeitar as pessoas com quem o Papa se encontra, a data e o local são normalmente mantidos em segredo e esses encontros, nas viagens em que já aconteceram, só foram noticiados depois. O presidente da Fundação JMJ já admitiu no último fim-de-semana, em entrevista à agência Lusa, que isso aconteceria. Desse modo repetia, embora de forma mais concreta, a afirmação do cardeal Pietro Parolin, no dia 12 de Maio, em Fátima, respondendo a uma pergunta do 7MARGENS.

Também um encontro com responsáveis de outras confissões religiosas deverá estar incluído no programa e pode ser realizado no Centro Cultural de Belém. Esse tem sido um cenário em que a organização local da Jornada tem trabalhado.

Além da ida a Fátima, prevista para dia 5 de Agosto, sabe-se já quais são os actos oficiais da JMJ que serão presididos pelo Papa, depois da confirmação oficial da viagem feita pela Santa Sé no dia 22 de Maio: o acolhimento ao Papa, na tarde de quinta, dia 3, a Via Sacra com os jovens na sexta à tarde, que decorrerá no Parque Eduardo VII, no centro de Lisboa, e a vigília e a missa de envio, sábado à noite e domingo de manhã, no Parque Tejo. O encontro com os voluntários da JMJ, que decorrerá no Passeio Marítimo de Algés, será também, como habitualmente, o último acto do Papa antes do regresso a Roma. O programa deverá incluir ainda um encontro com os bispos e padres, outro momento habitual nas viagens do Papa.

Estes actos seguem o que é habitual em todas as jornadas mundiais da juventude e que são centrais no modelo criado por João Paulo II, já na segunda metade dos anos 1980, depois do Ano Internacional da Juventude, em 1985, e da viagem do Papa Wojtyla a Portugal em 1982, quando se encontrou com milhares de jovens precisamente no Parque Eduardo VII, onde agora também se realizarão várias iniciativas.

 

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