
O Papa Francisco recuperou dos problemas de saúde e presidiu à celebração do Domingo de Ramos. Foto © Vatican Media
O Papa alertou no Vaticano para a “indiferença” da humanidade perante milhões de “abandonados” em todo o mundo, afirmando que, para os católicos, as pessoas “rejeitadas e excluídas” são “ícones vivos de Cristo”. “Peçamos hoje esta graça: saber amar Jesus abandonado e saber amar Jesus em cada abandonado, em cada abandonada. Peçamos a graça de saber ver e reconhecer o Senhor que continua a clamar, neles. Não permitamos que a sua voz se perca no silêncio ensurdecedor da indiferença”, disse, na homilia da Missa do Domingo de Ramos, que reuniu milhares de pessoas na Praça de São Pedro, citado pela Ecclesia.
Francisco presidiu à celebração que marca o início da Semana Santa, após ter recebido alta, este sábado, do Hospital Gemelli, onde esteve internado desde quarta-feira. “Não fomos deixados sozinhos por Deus; cuidemos de quem é deixado só”, apelou.
A celebração, que reúne milhares de pessoas na Praça de São Pedro, começou com a bênção dos ramos; devido aos problemas que o afetam no joelho, há vários meses, o Papa não acompanhou a procissão de entrada, com 400 participantes.
Francisco chegou em papamóvel, sentando-se junto ao obelisco, nos ritos iniciais da celebração, antes de se deslocar para a cadeira da presidência, junto ao altar, diante da Basílica do Vaticano.
A homilia alertou para os “muitos ‘cristos abandonados’” do mundo contemporâneo, recordando, como exemplo, um sem-abrigo alemão que, há algumas semanas, morreu “sozinho”, na colunata da Praça de São Pedro. “Há povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; há pobres que vivem nas encruzilhadas das nossas estradas e cujo olhar não temos a coragem de fixar; migrantes, que já não são rostos, mas números; reclusos rejeitados, pessoas catalogadas como problemas”, elencou.
Em Portugal, entre as homilias dos bispos portugueses, José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, presidiu no Santuário da Cova da Iria à Missa do Domingo de Ramos, e recordou as “vítimas de abusos e de violência doméstica e social”. “Não cedamos à tentação de colocar cortinas brancas e floridas a tapar as feridas abertas da guerra, da miséria, dos que não têm abrigo, pão e emprego, das crianças famintas, bombardeadas e mortas nas guerras, das que são vítimas de abusos e de violência doméstica e social, das nossas resistências a dar vida a uma Igreja mais materna, carinhosa e aberta às dores e fragilidades de quem precisa”, apelou D. José Ornelas, na homilia da celebração.
Em Angra, Armando Domingues, bispo da diocese, recordou, na sua mensagem para a próxima Páscoa, quem vive em situações de pobreza e abandono, deixando uma palavra especial para a vítimas de abusos sexuais na Igreja. Num texto divulgado hoje e enviado à Ecclesia, D. Armando Esteves evoca os “que vivem mergulhados no sofrimento, na solidão, no esquecimento ou no desespero da pobreza, da falta de casa, de pão ou trabalho”.
“Não esqueço, este ano, as vítimas inocentes dos abusos, esses irmãos e irmãs nossos que correm o risco de, no meio de toda a babel da comunicação e discussões secundárias, serem relegadas para posição secundária ou até ao esquecimento. Não o queremos nem podemos deixar que aconteça”, escreve ainda.