
“Migrar deveria ser uma escolha livre, nunca a única possível”, disse Francisco. Na imagem, o Papa na Capelinha das Aparições no Santuário de Fátima, em agosto de 2023. Foto © Santuário de Fátima/JMJ 2023
O Papa assinalou este domingo, dia 24, no Vaticano, o 109.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, sublinhando que a decisão de deixar a própria terra deve ser uma escolha “livre”. “Migrar deveria ser uma escolha livre, nunca a única possível. Hoje, para muitos, o direito de migrar tornou-se uma obrigação, enquanto deveria existir um direito a não migrar, para permanecer na própria terra”, disse, após a recitação da oração do Ângelus, desde a janela do apartamento pontifício.
Perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, Francisco refletiu sobre o tema que escolheu para a celebração de 2023, ‘Livres de escolher se migrar ou ficar’, defendendo a necessidade de oferecer a todas as pessoas a “possibilidade de viver uma vida digna na sociedade em que se encontram”.
“Infelizmente, a miséria, as guerras e a crise climática obrigam muitas pessoas a fugir. Por isso somos todos chamados a criar comunidades prontas e abertas a acolher, promover, acompanhar e integrar os que batem à nossa porta”.
O Papa recordou que o tema das migrações esteve em debate nos ‘Encontros do Mediterrâneo’, em Marselha, “cruzamento de povos e culturas”, tendo participado na sessão conclusiva, este sábado.
Francisco aludiu também à situação na Itália, depois de nas últimas semanas terem chegado cerca de 10 mil migrantes à ilha de Lampedusa. O Papa agradeceu aos bispos da Conferência Episcopal Italiana, que “fazem de tudo para ajudar os nossos irmãos e irmãs migrantes”.
A mensagem para Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, divulgada pelo Vaticano para esta data, destaca que “conflitos, desastres naturais ou, simplesmente, a impossibilidade de levar uma vida digna e próspera na própria terra natal obrigam milhões de pessoas a partir”.
O texto, assinado por Francisco, pede o fim da “corrida armamentista, o colonialismo económico, a pilhagem dos recursos alheios, a devastação da casa comum”.
“Os migrantes fogem por causa da pobreza, do medo, do desespero. Para eliminar estas causas e assim acabar com as migrações forçadas, é necessário o empenho comum de todos, cada qual segundo as próprias responsabilidades; empenho esse, que começa por nos perguntarmos o que podemos fazer, mas também o que devemos deixar de fazer”, sustenta.
“Frustração” com a guerra da Ucrânia
No sábado, no regresso de Marselha, o Papa admitiu que existe “frustração” no Vaticano com a falta de avanços na missão de paz para a Ucrânia, falando de um povo “mártir”.
“Sente-se alguma frustração, porque a Secretaria de Estado [do Vaticano] está a fazer todos os possíveis para ajudar”, disse aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, após a visita de dois dias à cidade francesa de Marselha.
Na última semana, o enviado especial do Papa, cardeal Matteo Zuppi, para a missão de paz na Ucrânia encontrou-se esta quinta-feira com um responsável da diplomacia de Pequim, na China, debatendo as “consequências dramáticas” da guerra.
“Esta guerra vai além do problema russo-ucraniano, é para vender armas, o comércio de armas. Dizia um economista alguns meses atrás que hoje os investimentos que dão mais lucro são as fábricas de armas, certamente fábricas de morte”, lamentou.
“O povo ucraniano é um povo mártir, tem uma história muito martirizada, uma história que faz sofrer, e não é a primeira vez: no tempo de Estaline, sofreu muito, muito, muito, é um povo mártir. Mas nós não devemos brincar com o martírio deste povo, devemos ajudá-los a resolver as coisas da forma mais real possível.
O Papa destacou que não é tempo de “ilusões”, mas de “fazer o possível”. “Agora vi que algum país se retrai, que não dá armas, e começa um processo onde o mártir será o povo ucraniano certamente. E isso é algo mau”, advertiu.