Os leigos devem ser ouvidos nos processos de nomeação de párocos e de escolha dos bispos e a Igreja deve ter uma lógica de reparação da situação criada pelos abusos de menores. Evitar o clericalismo e converter os padres a uma Igreja minoritária, pobre, simples, dialogante, sinodal é outra das propostas do Conselho Paroquial de Pastoral da Paróquia de Nossa Senhora da Hora (Matosinhos). Este documento surge em resposta à maior auscultação alguma vez feita à escala planetária, lançada pelo Papa Francisco, para preparar a assembleia do Sínodo dos Bispos de 2023. Esse coro imenso de vozes não pode ser silenciado, reduzido, esquecido, maltratado. O Espírito sopra onde quer e os contributos dos grupos que se formaram para ouvir o que o Espírito lhes quis dizer são o fruto maduro da sinodalidade. O 7MARGENS publica alguns desses contributos que nos têm sido enviados, estando aberto a considerar a publicação de outros mais.

Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Hora. “Vários, quando se referem à Igreja, referem-na na terceira pessoa e restringem-na à sua visão ou dimensão paroquial.” Foto: Direitos reservados.
1 – Descreva o modo como foi realizado o processo de escuta:
Inquéritos entregues na caixa postal sinodal na caminhada do Advento e Natal. Caminhadas sinodais, por grupos pastorais e de pais com filhos na catequese durante a Quaresma. Ideias partilhadas no Conselho Paroquial de Pastoral e em reuniões de grupos pastorais. Reflexões no contexto dos Exercícios sinodais em jeito de lectio divina. Os participantes sentiram-se motivados. Há sempre gente que prefere delegar noutros as suas opiniões.
2 – Como é que este “caminhar juntos” se realiza hoje na nossa Igreja (paróquia / diocese)?
Os participantes sentem-se membros da Igreja, mas vários, quando se referem à Igreja, referem-na na terceira pessoa e restringem-na à sua visão ou dimensão paroquial. A maioria tem a ideia de uma Igreja desfasada do seu tempo, com linguagens e práticas de exclusão inaceitáveis (divorciados, recasados, padres casados). Realçam o sentido de pertença e de participação, que são crescentes, mas consideram que há muita gente distante (sobretudo do mundo laboral, do mundo juvenil, do mundo da cultura, de entre os homossexuais). Entre os distantes da Igreja (sobretudo jovens), também se encontram os que estão “dentro do sistema” sem estar “por dentro” (em comunhão eclesial efetiva).
A posição em favor da abertura dos ministérios (laicais e ordenados) às mulheres é transversal e favoravelmente unânime, na avaliação de todos os grupos. Há uma acusação generalizada pelas homilias longas e muitas vezes incompreensíveis e por uma catequese cuja linguagem, metodologia e calendários não se compagina com os ritmos deste tempo, apesar dos avanços significativos provocados pela pandemia. A tristeza e a indignação e a exigência de reparação, pela prática e silenciamento dos “abusos de menores”, é uma temática recorrente nas discussões. Pede-se uma Igreja mais acolhedora, mais inclusiva, mais capaz de integrar e aceitar pessoas com níveis de pertença e de participação diversos, de modo que todos sintam a Igreja como sua casa. O fim do celibato obrigatório é consensual na discussão dos grupos e uma forma de valorizar, quer o celibato (como opção evangélica) quer o matrimónio (como caminho de santidade). Insiste-se muito na necessidade de uma Igreja humilde (nos sinais exteriores das suas celebrações e manifestações) e na atitude interior (de escuta, de aprendizagem).

2.2 – Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?
Para caminharmos juntos é preciso evitar o clericalismo dos padres e dos leigos, despertando a consciência e a missão de todos os batizados. A comunhão deve preceder a hierarquia. Os órgãos ditos de “consulta” (conselhos económicos, conselhos paroquiais, vicariais e diocesanos) devem incluir não apenas os membros ativos das comunidades, mas também pessoas “de fora” que têm uma perceção mais realista dos desafios e uma palavra a dizer à Igreja. Não se deve menorizar os “Conselhos” reduzindo-os ao seu papel consultivo, mas estes devem ser determinantes e colaborativos no processo de elaboração das decisões.
A nomeação e transferência dos párocos deve ser dialogada com os representantes das comunidades, para o maior bem da Igreja. A escolha dos bispos deve contar com a consulta e discernimento de leigos e dos membros dos diversos conselhos instituídos a nível diocesano, vicarial e paroquial. Esta escolha é a menos sinodal de todas, na vida da Igreja. A maior conversão da Igreja é tornar-se mais humilde diante do mundo, sem arrogância, sem sinais exteriores de poder e de comando, sem a pretensão de impor uma moral, por via legislativa, mas inspirando e formando a consciência dos cristãos.
Sugere-se o fim do celibato obrigatório, a admissão paulatina das mulheres nos ministérios laicais e ordenados e a sua colocação em lugares de discernimento pastoral e de decisão. Proceda-se a uma séria revisão da linguagem, litúrgica, musical e catequética, que não é mais compreensível pelos nossos contemporâneos, valorizando uma linguagem mais próxima das linguagens de hoje com novas expressões, novos meios digitais e novas imagens e metáforas.
Neste esforço de mudança, a conversão dos padres a uma Igreja minoritária, pobre, simples, dialogante, sinodal, onde todos têm uma palavra a dizer e um contributo a dar (na sugestão de ideias, no discernimento das opções, na realização das ações pastorais) é talvez o passo mais difícil de dar, quando o padre pensa ser o “dono da quinta” e os fiéis leigos acham que “o senhor padre é que sabe”. Uma cultura de escuta, de diálogo, de participação ativa de todos, nos processos de discernimento e de decisão pastorais, é urgente. É fundamental que esta consulta e discernimento se façam sempre num contexto de oração, de escuta recíproca da vontade de Deus e do seu Espírito, e não numa lógica de maiorias-minorias ou de grupos de pressão.
Conselho Paroquial de Pastoral
Paróquia de Nossa Senhora da Hora
15 de abril de 2022