
A paróquia de S. Francisco Xavier, em Lisboa, tem uma Igreja Paroquial recente, cuja dedicação e bênção se realizou a 3 de dezembro de 2011. Foto © Paróquia de S. Francisco Xavier.
Ter as portas sempre abertas, ter transparência em dinâmicas internas e nas contas, abrir-se às periferias e aos jovens, ter novas linguagens, acompanhar os tempos ou estar mesmo à frente do tempo no que toca à defesa dos mais fracos e de questões menos consensuais – estas são algumas das propostas concretizadas no contributo da paróquia de São Francisco Xavier, em Lisboa, em resposta à maior auscultação alguma vez feita à escala planetária, lançada pelo Papa Francisco, para preparar a assembleia do Sínodo dos Bispos de 2023. Esse coro imenso de vozes não pode ser silenciado, reduzido, esquecido, maltratado. O Espírito sopra onde quer e os contributos dos grupos que se formaram para ouvir o que o Espírito lhes quis dizer são o fruto maduro da sinodalidade. O 7MARGENS publica alguns desses contributos, estando aberto a considerar a publicação de outros que nos sejam enviados.
Qual a visão actual da Igreja que resulta da reflexão sinodal realizada na sua realidade eclesial?
A sua estrutura é muitas vezes clericalizada e está demasiado assente no formalismo, no rito arcaico, valorizando sobretudo a vertente ministerial em detrimento da modalidade pastoral e prejudicando a participação laical. A participação deverá ser mais aberta aos leigos, quer na administração das comunidades quer nos rituais. O acolhimento a todos deve ser efetivo e revelar proximidade cristã.
A Igreja está burocratizada, os sacerdotes deveriam centrar-se na atividade pastoral, sacramental e espiritual. Demonstra fechamento em relação aos temas candentes da sociedade e das preocupações e dificuldades reais das famílias, mesmo das que são crentes.
Da reflexão sinodal realizada na sua realidade eclesial, quais as áreas em que a Igreja necessita de conversão?
A Igreja pode melhorar muito na proximidade, na clareza e na transparência, com mais descentralização, com mais leigos a participarem nos processos de decisão e introduzindo transparência também nestes processos. Deve publicar as contas. Deve também abordar claramente todos os temas da atualidade, mesmo os incómodos, sobre os quais tem uma palavra a dizer como “mestre em humanidade”. Pode abrir-se mais às periferias e também aos jovens, a quem é preciso chegar com novos meios e uma nova linguagem. Os sacerdotes devem dedicar-se a acompanhar espiritualmente as famílias nas suas dificuldades, formando-as e estimulando-as, para que os leigos possam cumprir a sua vocação missionária.
Da reflexão sinodal realizada, quais as propostas de mudança para a sua realidade eclesial concreta que merecem maior destaque?
Haver um sacerdote totalmente dedicado e Igreja aberta o maior tempo possível, com acolhimento e dinamização de todos os espaços. Retomar missa das crianças e rever horários. Missas participadas por leigos, com coro e homilias curtas e com proximidade pastoral. Aumentar a união e a abertura dos grupos paroquiais. Leigos devem ter autonomia para criar eventos catalisadores de comunidade e criar polos de dinamização paroquial: formação, voluntariado, trabalho social, etc.
Da reflexão sinodal realizada, quais as propostas de mudança para a Igreja diocesana que merecem maior destaque?
Igreja é muito lenta a reagir às exigências dos tempos de hoje, mas tem essa obrigação, para ajudar as famílias a situarem-se e a terem força e luz para o caminho. A Igreja deve abordar as questões atuais, que são relevantes para as famílias, dos jovens aos mais velhos, como as de ideologia de género, o aborto, as drogas, a sexualidade, a adolescência, etc. Por outro lado, a Igreja deve acompanhar os tempos e até ir à frente do tempo no que toca à defesa dos mais fracos. Deve deixar-se o latim.
Da reflexão sinodal realizada, quais as propostas de mudança para a Igreja em geral que merecem maior destaque?
Uma Igreja de portas abertas a todos e com proximidade pastoral. Uma Igreja em saída, em direção aos mais desfavorecidos e esquecidos, como os idosos que vivem sozinhos, os pobres, e os jovens, a quem é preciso chegar com novos meios e uma nova linguagem. Uma Igreja capaz de dialogar com o seu tempo, mesmo em questões menos consensuais ou alguns grupos sociais marginais. Uma Igreja missionária, de sacerdotes dedicados e leigos comprometidos.
Que outros pontos de vista relevantes foram destacados na reflexão sinodal realizada na sua realidade eclesial e que ainda não foram referidos?
As celebrações devem ser muito mais participadas pelos leigos (coro, leitores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão). As homilias devem ser curtas e incisivas (três pontos), mostrando a proximidade do Evangelho com a vida. Aumentar a capacidade de acolhimento na Eucaristia – todos deveriam conhecer-se e, daí, comprometer-se. Os batismos, os funerais, os casamentos, todas as celebrações devem manifestar proximidade pastoral. Aí se revela o amor a Deus e o amor de Deus por nós.
Uma Igreja sinodal, ao anunciar o Evangelho, “caminha em conjunto”. Como é que este “caminho em conjunto” está a acontecer hoje na nossa Igreja local? Que passos é que o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?
- São Francisco Xavier deveria ser uma paróquia autónoma com um Pároco próprio, com presença constante, próxima e amiga, sem o que não é possível gerar comunidade. As homilias devem ser simples, acessíveis e traduzir essa proximidade pastoral.
- A Igreja tem de ter as portas efetivamente abertas o maior tempo (até à noite), todos os dias. Deve ter um acolhimento efetivo, com voluntários formados para o efeito. Devem ser abertos todos os espaços da Igreja para dinamização de iniciativas dirigidas a crianças, jovens e mais velhos, sempre com a presença próxima do sacerdote.
- As missas devem ser mais participadas, alegres e próximas, com coro, acólitos, leitores, ministros extraordinários da Comunhão. Deve haver acolhimento nas missas, à entrada e à saída. Todos se devem sentir acolhidos, como numa família, sem olhar à condição. Deve ser melhorado o som da Igreja.
- Deve ser reativada a missa adaptada às crianças. Devem rever-se o horário das Missas de acordo com as necessidades da comunidade: jovens, profissionais, pais de família, etc.
- Visão para a paróquia: Cada paroquiano deve ser interpelado para ter algum envolvimento na Igreja – sentido missionário e sentido comunitário. Todos os temas da atualidade (Igreja e sociedade) devem ser abordados de forma tolerante. Deve haver espaços de informação, comunicação e participação, quer na própria Igreja, quer virtuais, usando as redes sociais.
- Fomentar o conhecimento dos grupos da paróquia entre si e para os paroquianos. Apresentar os grupos nas Missas, e abri-los a todos interessados.
- Iniciar ou retomar a interação sistemática com a comunidade envolvente (instituições, empresas), com os movimentos e ordens religiosas, com crentes de outras religiões (legado de São Francisco Xavier) e não-crentes. Abrir-lhes as portas, chamá-los, servi-los.
- Os leigos devem ter autonomia para cuidar dos aspetos materiais da Igreja e o sacerdote deve estar dedicado ao seu múnus: conhecendo, acompanhando as famílias da paróquia e gerando um dinamismo espiritual certo e constante (confissão, retiros, recoleções, apoio às iniciativas laicais, etc.). Deixar de referir a dívida como o eixo da vida da Igreja.
- Efetiva delegação nos leigos da dinamização missionária da paróquia, através de todo o tipo de iniciativas (formação, voluntariado, eventos, etc.), fundamentais também para gerar o espírito de comunidade. Evitar a clericalização, a indiferença e a hierarquização paralisadora. Deve procurar rejuvenescer-se o grupo dos catequistas.
- Introduzir mecanismos de transparência e clareza nos processos de decisão e ação paroquial: publicar as contas e as atas das reuniões paroquiais. Usar o púlpito para informar.
Na Paróquia de São Francisco Xavier, o processo sinodal envolveu representantes de 21 grupos, em 16 encontros sinodais com a participação de 132 pessoas. Incluiu todos os grupos etários, dos quais o mais representado foi o escalão 51-60 anos, o segundo mais representado foi o escalão 11-20 e o menos representado foi o do escalão 31-40 anos. As reuniões aconteceram entre 15 de dezembro de 2021 e 4 de março de 2022. Houve duas dezenas de respostas ao inquérito sinodal online. As respostas aqui publicadas incluem as que foram enviadas à diocese (Patriarcado de Lisboa) e as que foram apenas destinadas à comunidade paroquial.