Edição integral até 2025

Pascoaes e o primeiro volume da sua “Obra Poética”

| 2 Mar 2023

 

No próximo sábado, dia 4, às 16h, será apresentado na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, em Amarante, o primeiro de cinco volumes a publicar até 2025, nos quais se reúne a obra poética de Teixeira de Pascoaes.

A apresentação estará a cargo de José Rui Teixeira, diretor da Cátedra Poesia e Transcendência, da Universidade Católica, e editor da Officium Lectionis, que edita as obras.

Este primeiro volume reúne a poesia da etapa coimbrã [1895-1901]: Pascoaes partiu para Coimbra no outono de 1895, onde terminou os estudos liceais e se formou em Direito. Entre 1895 e 1901, publicou o seu primeiro livro [logo rejeitado], colaborou com opúsculos, escreveu três poemetos e dois importantes livros: Sempre e Terra Proibida. Estes dois livros [reeditados num profundo processo de reescrita] ocupam a primeira parte deste volume; na segunda parte surgem os três poemetos desta fase: Belo, À Minha Alma e À Ventura; finalmente, na terceira parte, é editada a poesia que integra este volume por questões fundamentalmente documentais: Embriões, Cantigas para o Fado e para as «Fogueiras» do São João e Profecia.

Tendo em conta a importância da obra poética de Pascoaes também em termos espirituais, o 7MARGENS apresenta a seguir o texto (adaptado) do prefácio deste primeiro volume, no qual se apresenta o itinerário desses anos do poeta de Amarante em Coimbra. O seu autor é o editor José Rui Teixeira, organizador da obra, a quem agradecemos a cedência do texto.

 

“Quando Teixeira de Pascoaes inicia, em 1929, o projecto de edição das suas Obras Completas, o primeiro volume reúne apenas dois livros: Sempre e Terra Proibida.” Foto: Teixeira de Pascoaes © comunidadeculturaearte.com

 

Quando Teixeira de Pascoaes inicia, em 1929, o projecto de edição das suas Obras Completas, o primeiro volume reúne apenas dois livros: Sempre e Terra Proibida. Estas versões, no final da década de 1920, resultam de um contínuo processo de reescrita: Sempre, livro de 1898, tinha sido reeditado em 1902 [1903], 1915 e 1923; Terra Proibida, de 1899 [1900], tinha sido reeditado em 1917 e 1923.

Curiosamente, a designação de Obras Completas de Teixeira de Pascoaes tinha aparecido já em quatro publicações anteriores: na 3.ª edição de Sempre (com um importante prefácio do poeta) e na 2.ª edição de Terra Proibida (ambos publicados no Porto, Edição da «Renascença Portuguesa», em 1915 e 1917); na 3.ª edição de Terra Proibida e na 2.ª edição de Verbo Escuro (publicados no Rio de Janeiro, por Álvaro Pinto – Anuário do Brasil, em 1923).

No primeiro volume das Obras Completas, em 1929, não só já não reconhecemos as primeiras edições de Sempre e Terra Proibida, como não encontramos os outros poemas da etapa coimbrã de Teixeira de Pascoaes (1895-1901): as duas partes de Belo (1896-1897), À Minha Alma (1898) e À Ventura (1901), que só seriam reeditados na década de 60, por Jacinto do Prado Coelho.

Para trás, preteridos, Pascoaes deixara Embriões (o seu primeiro livro, publicado no Outono de 1895) e dois opúsculos: Cantigas para o Fado e para as «Fogueiras» do São João (publicado em 1899, por iniciativa de Augusto Gil e Afonso Lopes Vieira, com versos de oito estudantes da Universidade de Coimbra) e Profecia (opúsculo não assinado nem datado, publicado por Pascoaes e Lopes Vieira, em 1900 ou 1901).

Tudo isto torna particularmente difícil a organização do primeiro volume de uma edição da obra poética de Pascoaes. Com efeito, são evidentes três tipologias da poesia que escreveu nesse período, entre a sua partida para Coimbra (1895) e o regresso a Amarante (1901).

 

Sempre e Terra Proibida

Demarcam-se os dois livros – Sempre e Terra Proibida – que o poeta foi reeditando e que constituem, em 1929, o primeiro volume das Obras Completas. São estas as versões definitivas destes livros, constantes no volume I da edição crítica de Jacinto do Prado Coelho, em 1965, precedidas de Belo e À Minha Alma.

Na presente edição – que, não sendo crítica, corresponde ao mesmo propósito de tornar acessível, num corpus único, a obra poética de Pascoaes –, optamos por publicar, numa primeira parte, as versões definitivas de Sempre e Terra Proibida, de acordo com o primeiro volume das Obras Completas (1929).

 

Belo e À Minha Alma

Foto © Página Oficial Facebook “Casa de Pascoaes”

 

Até à edição de Jacinto do Prado Coelho, Belo, À Minha Alma e À Ventura não tinham sido reeditados. Então, Belo e À Minha Alma são integrados no volume I (1965), e À Ventura no volume II (1966).

Ao reunir no mesmo volume Belo, À Minha Alma, Sempre e Terra Proibida, Jacinto do Prado Coelho adverte: «notar-se-ão grandes desníveis» entre os dois primeiros poemas (publicados de acordo com a sua primeira e única edição) e as duas colectâneas «que, tendo sido refundidas em várias reedições», seriam ali «apresentadas no texto definitivo».

De certo modo, a decisão de publicar Belo e À Minha Alma nesse volume I das Obras Completas de Teixeira de Pascoaes é legitimada pela integração do prefácio de Teixeira de Pascoaes à 3.ª edição de Sempre. Lê-se logo no princípio do referido prefácio: «Este livro [Sempre] merece-me um carinho especial, pois é ele a fonte de todo o meu pensamento poético, assim como duas éclogas anteriores (Belo, publicado em 1896 [e 1897])». Depois da transcrição de alguns versos de Belo, Pascoaes acrescenta: «Além das duas citadas éclogas, publiquei, seis ou sete meses antes do Sempre, uma poesia intitulada À Minha Alma, da qual transcreverei também alguns versos reveladores». E conclui: «Já nestes versos, anteriores à publicação de Sempre (1898) se encontra desenhado o vulto da minha inspiração, isto é, a sensibilidade ao enigma das Cousas, a atitude inquieta, interrogadora da alma, o instinto da Saudade. O Sempre e os livros que se lhe seguiram foram escritos durante a febre de criar. A onda levou-me no seu ímpeto. Agora penso dominá-la e adaptá-la às formas do meu espírito. Eis a origem da nova edição das minhas obras.

Em 1915, com quase quarenta anos, Pascoaes é a figura proeminente da Renascença Portuguesa, o poeta-filósofo da Saudade, e propõe – exegeta de si próprio – a nova edição das suas obras à luz do Saudosismo, num processo de analepses (como o que encontramos em O Homem Universal, em 1937) que busca os rudimentos do seu pensamento nos primeiros «trabalhos literários».

Na segunda parte da presente edição, procurando evitar os «grandes desníveis» a que aludia Prado Coelho, publicamos Belo, À Minha Alma e À Ventura, poemas que, não tendo sido reeditados por Pascoaes nas Obras Completas de 1929-1932, foram justificadamente integrados na edição de Prado Coelho, na década de 60.

 

Embriões

Casa-Museu Teixeira de Pascoaes" em Amarante

Foto © Arquivo RTP “Casas com Histórias: Casa-Museu Teixeira de Pascoaes” em Amarante

 

Mais difícil é, evidentemente, a decisão de reeditar Embriões, livro que Teixeira de Pascoaes publicou em 1895. Em Abril desse ano, o jovem poeta estreia-se n’A Flor do Tâmega, jornal amarantino que acolherá composições desse período e que anunciará, em Setembro, a publicação de Embriões.

Se foi difícil o processo de edição deste livro, ainda mais difícil terá sido fazê-lo desaparecer. Como recorda a irmã, Maria da Glória: «Os exemplares que havia lá em casa queimou-os todos. O Guerra Junqueiro, a quem o meu pai o tinha mandado, disse-lhe: “diz ao teu filho que se deixe de versos”». Também a sobrinha, Maria José, recorda esse episódio: «fez uma fogueira no jardim da Casa de Pascoaes e queimou todos os exemplares que conseguiu recolher. Eu, ainda muito pequena e obedecendo às suas ordens, ajudei a lançar os livros para a fogueira».

Certamente mais do que o reconhecimento da fragilidade do seu primeiro livro, a decisão de rejeitá-lo – e destruí-lo – decorre do juízo de Junqueiro. Seja como for, é evidente que Embriões é um objecto literário medíocre, o que é expectável na generalidade das juvenílias. Porém, como repara António Cândido Franco, nos seus versos já se percebe «a obsessiva atenção aos lugares, às personagens e à memória da infância», assim como os rudimentos daquilo que será o seu «acerto nas imagens, plasticidade métrica, percepção transfigurante da natureza e permanente insatisfação formal».

É certo que Teixeira de Pascoaes rejeitou este seu primeiro livro, mas é justo que se encare Embriões «com uma disposição mais compreensiva e menos assertivamente severa do que aquela que vigorou até hoje».

Por motivos essencialmente documentais, integramos este livro na terceira parte da presente edição, bem demarcado de Sempre e Terra Proibida (primeira parte), mas também de Belo, À Minha Alma e À Ventura (segunda parte). Aos poemas de Embriões juntamos as quadras com que Pascoaes participou no opúsculo Cantigas para o Fado e para as «Fogueiras» do São João (1899) e os dois poemas de Profecia (1901?) que lhe são atribuídos.

*  *  *

Neste volume fica, assim, reunida a obra poética de Teixeira de Pascoaes publicada entre a sua partida para Coimbra (1895) e o regresso a Amarante (1901): dois livros que reescreveu com o obstinado compromisso e aura oracular (primeira parte: Sempre e Terra Proibida); três poemas que se situam na fronteira do rudimento e do hiato (segunda parte: Belo, À Minha Alma e À Ventura); e, apenas pelo seu interesse documental, o primeiro poemário (tão enfaticamente rejeitado) e duas colaborações de circunstância (terceira parte: Embriões, Cantigas para o Fado e para as «Fogueiras» do São João e Profecia).

 

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