
Louis Raphael I Sako tem estado no centro de polémicas, após ter criticado a ocupação pelos partidos políticos maioritários das cadeiras do Parlamento reservadas por lei aos membros minoritários da população, incluindo os cristãos. Foto © ACN.
O patriarca da Igreja Católica Caldeia do Iraque, Louis Raphael I Sako, acaba de anunciar que não voltará ao patriarcado de Badgad, mas irá estabelecer-se no Curdistão autónomo, na sequência da escalada de tensões com o Presidente do país, Abdel Latif Rachid, o qual revogou o decreto de 2013 que reconhecia Sako como líder máximo dos católicos de rito caldeu “no país e no mundo”, encarregado de administrar os fundos e as propriedades da Igreja naquela nação islâmica.
Rachid, eleito em outubro do ano passado, afirma que a revogação do decreto não afeta a condição do cardeal Sako do ponto de vista religioso ou jurídico, já que ele foi nomeado patriarca “pela Santa Sé”. Mas a assessoria de imprensa do patriarcado caldeu classificou a decisão como “sem precedentes na história do Iraque” e pediu que não fossem revogados os decretos republicanos de mais de 20 presidentes e bispos de igrejas irmãs.
Louis Raphael I Sako tem estado no centro de polémicas ao longo dos últimos dois meses, após ter criticado a ocupação pelos partidos políticos maioritários das cadeiras do Parlamento reservadas por lei aos membros minoritários da população, incluindo os cristãos. Numa entrevista a uma estação de televisão do Curdistão iraquiano, citada pelo Vatican News, o patriarca caldeu referiu a possibilidade de recorrer a instâncias de justiça internacional para proteger a correta e não manipulada distribuição da quota de assentos parlamentares.
As declarações de Sako despoletaram uma série de ataques e difamações contra o patriarca, principalmente nas redes sociais, por parte de indivíduos ligados ao Movimento Babilónia, um partido e milícia associado às Forças de Mobilização Popular pró-Irão e ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, liderado por Rayan al-Kildani.
Fonte da Igreja Caldeia, citada pela Asia News, referiu que “não é por acaso que a decisão do Presidente surgiu alguns dias depois de o próprio Rashid ter-se encontrado com Rayan “o caldeu”, o autointitulado líder cristão. Outros querem intervir, mandar, expropriar o que pertence aos cristãos”.
Recorde-se que, em 2014, milhares de cristãos tiveram de abandonar as suas casas em Mossul e outras localidades da Planície de Nínive (no norte do Iraque) devido ao avanço das milícias do autodenominado Estado Islâmico (Daesh), tendo passado de cerca de 1,5 milhões para cerca de 250 mil.
Em maio deste ano, o patriarca caldeu havia recebido uma delegação de embaixadores e representantes diplomáticos no Iraque provenientes da França, Itália, Espanha, Reino Unido, Santa Sé e União Europeia, que expressaram “solidariedade” por parte dos seus respectivos governos e sublinharam a importância dos “esforços” do cardeal, assim como do arcebispo Mitja Leskovar, núncio apostólico, “para proteger os direitos dos cristãos na terra que habitam há dois milénios”.
Após o encontro, foi divulgado um comunicado que contou ainda com a aprovação dos embaixadores da Alemanha, Polónia, República Checa, Roménia, Suécia e Hungria. No comunicado, os diplomatas sublinham que querem expressar “solidariedade ao cardeal Sako pelos recentes ataques públicos” e “preocupação com os cristãos iraquianos e outras comunidades religiosas”. Em seguida, lançaram um apelo aos cristãos do país para que trabalhem juntos e façam com que “os problemas sejam superados e uma cooperação cada vez maior entre as Igrejas seja alcançada”, preservando a “diversidade do país, que é um dos seus principais recursos”.