
O Patriarca Cirilo considera a guerra na Ucrânia como um conflito interno, pois aquela faz parte da Santa Rússia. Foto © Oleg Varov | Igreja Ortodoxa
“A Igreja está ciente de que, se alguém (…) morre no cumprimento do dever militar, comete, sem dúvida, um ato que equivale a um sacrifício, [porque] se sacrifica pelos outros. E, portanto, cremos que este sacrifício lava todos os pecados que a pessoa cometeu.” Quem o afirma é o Patriarca Cirilo, responsável máximo da Igreja Ortodoxa Russa e claro apoiante da guerra na Ucrânia desencadeada por Vladirmir Putin.
Num sermão feito no final da celebração dominical deste domingo, 25 de setembro, o Patriarca partiu de um versículo do evangelho de João que diz: “Deus amou o mundo de tal maneira que lhe deu o seu Filho unigénito” e refletiu sobre o alcance e sentido deste “sacrifício divino inefável”.
Daqui partiu para a reflexão sobre o sacrifício de “muitos” que hoje “estão a morrer nos campos da guerra interna”, como chama agora à guerra na Ucrânia, que vê como fazendo parte da grande Rússia.
Por ser uma “luta interna é que, para Cirilo é tão importante que, “como resultado dessa batalha, não haja uma onda de amargura e alienação, para que os povos irmãos não sejam divididos por um muro impenetrável de ódio”. E foi neste quadro que deixou a mensagem de que um soldado que é movido pelo sentido do dever e morre no cumprimento desse dever militar, faz um sacrifício pelos outros e isso “lava todos os pecados” que tenha cometido.
A mensagem adquire um sentido mais amplo no contexto da atual resistência que a mobilização de 300 mil reservistas para a guerra decretada por Putin está a encontrar na Rússia.
Uma correção que se impõe
As declarações de apoio religioso à mobilização de reservistas para a guerra na Ucrânia, que o 7MARGENS atribuiu na última sexta-feira, 23, ao patriarca Cirilo, carecem de fundamento. Não porque não tenham sido proferidas pelo Patriarca, mas porque foram feitas noutra altura e noutro contexto.
De facto, as palavras do patriarca foram proferidas em junho de 2021, no contexto de um sermão na catedral dedicada às forças armadas russas, em Kubinka, nos arredores de Moscovo.
O 7MARGENS tomou como boa fonte das declarações atribuídas a Cirilo vários órgãos de comunicação prestigiados, nacionais e estrangeiros.
Através da chamada de atenção de um leitor atento, demo-nos conta de que induzimos involuntariamente em erro os leitores, razão pela qual corrigimos agora o erro, pedindo desculpas pelo acontecido.
Apesar deste erro na data atribuída na notícia de sexta-feira, verifica-se agora que o tom do sermão deste domingo, 25, coincide com várias posições anteriores do Patriarca e é coerente com a legitimação que tem feito da invasão da Ucrânia e de quem a leva a cabo do lado da Rússia.