
O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, durante as suas declarações à RTP nesta quinta-feira, 15, sobre os casos de abusos sexuais em Lisboa e a audiência que teve com o Papa em 5 de Agosto. Imagem captada da emissão da RTP
O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, declarou à RTP que considera que fez “tudo aquilo que está previsto quer na lei civil quer na lei canónica, quer também no espírito evangélico, que acredita na regeneração das pessoas” em relação aos casos de abuso sexual por parte de membros do clero.
Falando pela primeira vez em público desde as situações que foram divulgadas no final de Julho, o patriarca Clemente referiu-se ainda ao encontro que teve com o Papa no início de Agosto, quando se deslocou a Roma para falar sobre a situação em Lisboa. O cardeal encontrou da parte de Francisco “a melhor compreensão”, disse. E, referindo-se à possibilidade de renúncia que teria apresentado, de acordo com fontes eclesiásticas que na altura falaram ao 7MARGENS, acrescentou que o Papa “está completamente à vontade quer para manter quer para mudar – é essa a sua função”.
“Da minha parte eu fiz o que tinha a fazer”, disse o patriarca, insistindo em que “tudo quanto acontecer será resolvido” de acordo com os critérios apontados – civis, canónicos e evangélicos. “Tudo aquilo que está legalmente previsto, está feito”, disse, nas referidas declarações à RTP.
“Fui a Roma porque achei que o Papa Francisco devia saber directamente por mim aquilo que se dizia e acontecia em Portugal”, acrescentou o patriarca, nas declarações à RTP. “Mas com a particular responsabilidade que a Igreja me confia, era ao Papa que eu tinha de dizer directamente” o que se passava.
À pergunta sobre se teria recebido uma manifestação de confiança da parte do Papa, Manuel Clemente respondeu: “Creio que sim, ele recebeu-me tão benevolamente, escutou-me com tanta atenção…”
Os casos vindos a público respeitam sobretudo a uma vítima de abusos que teria denunciado o seu caso em 1999 e que o patriarca teria chamado para conversar, em 2019, depois de ter sido nomeado para o cargo; e a um caso de 2003, quando era bispo auxiliar de Lisboa, em que teria pedido em 2003, a cinco chefes de escuteiros que se demitissem dos seus cargos, depois de eles terem acusado um padre da zona Oeste de ter abusado de menores, de acordo com uma notícia divulgada pela RTP.
Numa carta aberta publicada a 29 de Julho, Manuel Clemente afirmava ter assumido o compromisso de “tolerância zero” para estas situações e pedia “que ninguém tenha medo” de as denunciar. Já no início deste mês, o patriarca publicou uma carta à diocese, na qual reafirmava o seu “pedido de perdão institucional e convicto” pelos casos de abusos sexuais, garantindo “tudo fazer para que tais casos não se repitam”.