
Manuel Clemente encontrou-se em 2019 com a vítima, mas esta terá pedido para não divulgar caso. Foto © Patriarcado de Lisboa.
O Patriarcado de Lisboa reconheceu esta quarta-feira, dia 27, que recebeu uma queixa contra um padre por alegados abusos sexuais e que o patriarca Manuel Clemente se encontrou com a vítima desses abusos sexuais, duas décadas depois dos eventos, mas sem consequências.
Segundo uma nota da diocese, as decisões que foram tomadas “na altura” da primeira denúncia tiveram “em conta as recomendações civis e canónicas vigentes” — e que entretanto foram alteradas.
De acordo com o jornal Observador, que revelou o caso (notícia para assinantes), a família de uma criança denunciou há mais de 30 anos um padre junto do patriarca de Lisboa, à época José Policarpo, por abusos sexuais.
Em 2019, a vítima — agora com 40 anos — pediu para ser recebida por Manuel Clemente e contou de novo o caso. Segundo o comunicado do Patriarcado, a vítima não quis divulgar o caso e pedia apenas que o seu caso servisse como exemplo para que situações idênticas não se repetissem. O caso terá entretanto prescrito. E mesmo há três anos, o patriarca manteve o padre em funções e nada foi comunicado às autoridades, segundo conta o jornal.
Na nota de esclarecimento, enviada à Agência Ecclesia, sublinhava-se que, “até este momento, o Patriarcado de Lisboa desconhece qualquer outra queixa ou observação de desapreço sobre o sacerdote. O sacerdote está atualmente hospitalizado e cessou funções no centro hospitalar onde trabalhava”.
Também a Comissão Diocesana de Proteção de Menores “não recebeu qualquer denúncia ou comunicação sobre o caso”, esclarece o comunicado.
“O Patriarcado de Lisboa está totalmente disponível para colaborar com as autoridades competentes, tendo sempre como prioridade o apuramento da verdade e o acompanhamento das vítimas”, conclui o texto.
Por sua vez, o coordenador da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, Pedro Strecht, esclareceu — também num comunicado enviado ao 7MARGENS — que “a Comissão Independente (CI) não revela nomes de alegados abusadores, de vítimas que pedem o anonimato e/ou possíveis locais de ocorrência de tais actos, sendo que apenas o fará em adenda específica, no final do trabalho, para o Ministério Público e Conferência Episcopal Portuguesa”.
Na nota, o responsável da CI refere que sobre depoimentos recebidos no âmbito do seu trabalho “e que configurem possíveis situações não prescritas pela Lei Portuguesa, as mesmas serão sempre enviadas directamente para o Ministério Público (MP) e Polícia Judiciária, quando exista já nesta instância queixa anteriormente reportada”. E revelou que, “neste momento”, quatro dessas queixas já foram consideradas “arquivadas” pelo MP.