
Pedro Abrunhosa no concerto da digressão Espiritual, no Coliseu de Lisboa, em 8 de Novembro de 2019: o músico diz que será “uma imensa honra” conhecer o Papa. Foto © Rui Bandeira
O Papa Francisco “tem devolvido a verdadeira essência apostólica da Palavra e da mensagem bíblica”, dizia Pedro Abrunhosa há quatro anos e meio, em entrevista ao 7MARGENS, no dia em que este jornal iniciava a sua publicação. O músico diz que, “naturalmente, pelo ser humano extraordinário que é, bem como pela mudança que representa, pela sua postura relativa ao papel da arte na sociedade, será uma imensa honra” conhecer o Papa.
É isso que acontecerá na manhã da próxima sexta-feira, 23, quando Abrunhosa e mais seis artistas portugueses estarão pessoalmente com o Papa. Assumindo-se como agnóstico, o artista considera que a sua música tem uma dimensão “crente”, diz uma informação da sua produtora.
Os sete portugueses encontram-se num grupo de 200 artistas que estarão com o Papa na Capela Sistina, numa iniciativa promovida pelo Dicastério para a Cultura e a Educação, da Santa Sé, cujo responsável é o cardeal português José Tolentino Mendonça. Os restantes são a arquitecta Marta Braga Rodrigues, os artistas plásticos Joana Vasconcelos e Vhils, o escultor Rui Chafes e os escritores José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares, de acordo com a Ecclesia. Os músicos brasileiros Caetano Veloso, do Brasil, e Paulo Flores, de Angola, estarão também presentes.
A audiência insere-se numa série de encontros dos últimos papas com os artistas: o primeiro realizou-se em 1964, quando Paulo VI apelou à renovação da “amizade entre a Igreja e os próprios artistas”, como refere uma nota do Dicastério. Uma década depois desse encontro, os Museus do Vaticano inauguraram a sua colecção de arte moderna e contemporânea – e são os 50 anos sobre esse acontecimento que o encontro de sexta-feira pretende assinalar.
Na referida nota, o cardeal Tolentino Mendonça afirma que “é preciso relançar a experiência da Igreja como amiga dos artistas, interessada nas questões que o mundo contemporâneo coloca (tanto o actual, pressão do drama, como aqueles tão visionários que indicam novos futuros possíveis) e dispostos a desenvolver um diálogo mais rico e um crescimento de compreensão mútua”.
O texto afirma ainda que o Papa pretende destacar a contribuição dos artistas na “construção de um senso de humanidade compartilhada e promoção de valores comuns”.
“Terá, porventura, sido a capacidade de pacificar e unir pela música o que terá despertado o interesse do Vaticano”, refere por seu turno Pedro Abrunhosa, de acordo com o comunicado divulgado. O músico portuense acrescenta ainda: “Há uma profunda conexão estabelecida entre a minha música e o público, evidente nos espectáculos, que torna muitas vezes os mesmos em celebrações colectivas de paz pela Arte”.
De acordo com essa nota de imprensa, Pedro Abrunhosa sublinha o “carácter invulgar do Papa Francisco, a sua dedicação à causa dos refugiados, dos mais fracos, dos excluídos” bem como a “frontalidade em abordar no seio da Igreja Católica questões sensíveis de fundo que exigiam, há muito, posições consentâneas com os tempos”.
Na entrevista que concedeu ao 7MARGENS no início de Janeiro de 2019, a propósito do disco Espiritual, que acabara de editar, Abrunhosa confessava-se leitor da Bíblia: “um livro maravilhoso”, o mais importante para ele em termos literários, poéticos e religiosos, que diz como há, dois mil anos, com Cristo, pela primeira vez na história foi colocada “a questão do povo, da pessoa, do outro, do pobre”.
Precisamente sobre a relação entre a arte e o mistério, Pedro Abrunhosa dizia, nessa entrevista, o que se pode ver e ouvir num minuto e meio no vídeo a seguir: