
Manifestação da revolta das Mulheres na Igreja – Madrid, 1 Março 2020. Foto reproduzida da página da Revolta das Mulheres na Igreja, na rede social Twitter
A revista espanhola Vida Nueva dedica o número desta semana ao Sínodo sobre a Sinodalidade, destacando particularmente o lugar das mulheres e o “compromisso com a diversidade” que a lista dos membros sinodais representa.
Num editorial significativamente intitulado “Carta de cidadania cristã” a revista assinala o facto de, “pela primeira vez na história”, as mulheres terem voz e voto nos trabalhos da assembleia geral, em outubro. Serão 54 as que são membros efetivos, havendo ainda 31 religiosas e leigas que estarão como convidadas especiais, peritas e facilitadoras.
Na verdade, ainda há escassos meses, não se admitia mais do que uma mulher com direito a voto – Nathalie Becquart, precisamente pelo cargo que ocupa, de subsecretária-geral do Sínodo. Agora, não apenas foram chamadas a participar, como duas delas poderão dirigir os trabalhos da assembleia, na qualidade de presidentes delegadas e uma, por sinal moçambicana, integra a Comissão para a Informação, no cargo de secretária.
Sendo verdade que a Igreja Católica chega tarde a este reconhecimento, que se espera inaugural, não é menos certo que ele representa “um salto qualitativo e quantitativo mais do que significativo”, como sublinha o editorial da Vida Nueva.
Em termos comparativos, no Sínodo Extraordinário sobre a Amazónia, em 2019, apesar da participação de muitas mulheres na fase preparatória, nenhuma delas foi autorizada a votar o documento final. Agora serão cerca de 15 por cento.
Compromisso com a diversidade
Relativamente ao aspeto da diversidade, em primeiro lugar é expectável que realidades de diferentes partes do mundo, vividas e trabalhadas, surjam na aula sinodal e nos trabalhos de grupo com mais frequência e vivacidade, dada a proveniência geográfica, cultural, eclesial, de género e até de idades. Através de convites especiais do Papa, estarão a participar pessoas com deficiência, pessoas que animaram o processo sinodal no mundo digital, um padre (James Martin) que trabalha com comunidades LGBTQ+ e até um cardeal que se tem distinguido por atacar o Papa e o próprio processo sinodal.
A Vida Nueva inclui um dossiê em que várias mulheres que vão estar no Sínodo reagem a esta participação e dão conta das expectativas face a esta magna e histórica reunião, que já foi considerada a mais importante, depois do Concílio Vaticano II.
Em todo o caso, os leigos em geral, e as mulheres em particular, são chamados a trazer para este espaço as realidades de todos os cantos do mundo católico e de todas as sensibilidades eclesiais. E foi aqui que Francisco insistiu pessoalmente para que o cardeal Gerhard Müller, prefeito emérito para a Doutrina da Fé, que ignorou a própria convocação sinodal e se especializou no “negacionismo bergogliano”, e o jesuíta James Martin, o “capelão” da comunidade LGBTQ, partilhassem o mesmo banco.
É neste compromisso com a diversidade, de dar voz e voto tanto ao centro como à periferia, que reside a essência dessa sinodalidade que só será possível se, dentro e fora da sala de aula, for abordada com uma consciência corresponsável de comunhão, participação e missão.